quarta-feira, abril 16, 2008

Problemas da decisão de investir


O jornal Valor Econômico traz hoje um artigo de Andre Delben Silva onde se comenta, resumidamente, alguns dos problemas existentes no processo decisório. Apesar do autor não usar o termo "finanças comportamentais" (ou algo próximo), os aspectos abordados são provenientes de pesquisas da área.

O ser humano é muito menos racional do que nos faz crer as teorias tradicionais de finanças. A experiência tem mostrado que, no mercado financeiro, as decisões dos investidores, das mais simples às mais complexas, nem sempre seguem a racionalidade. No processo de julgamento, é muito comum esses investidores serem afetados por questões psicológicas, que pode levar a um comportamento equivocado no mundo dos investimentos, como as principais que são abordadas a seguir:

- Excesso de confiança e otimismo: Ocorrem quando as pessoas se classificam como acima da média e acham que os outros irão julgá-las melhores do que são realmente. Excesso de confiança sugere que o investidor superestima a habilidade de prever eventos futuros. Na prática, a grande maioria dos investidores não pode estar acima da média.

- Aposta errônea: Quando se trata de probabilidades, a falta de conhecimento pode levar a conclusões erradas. Considere uma série de 20 moedas que, quando jogadas, caíram todas com o lado "cara" virado para cima. Numa aposta errônea, pode-se pensar que é mais provável que a próxima moeda caia com o lado "coroa" virado para cima. Essa linha de raciocínio representa uma compreensão inexata de probabilidade, porque a chance de uma moeda não viciada cair com o lado "cara" para cima é sempre de 50%.

- Ancoragem: Daniel Kahneman e Amos Tversky (1974), conduziram estudo no qual uma roda com números de 1 a 100 seria girada. Os candidatos eram questionados se a porcentagem de países africanos membros das Nações Unidas era maior ou menor do que o número dado na roda. Em seguida os candidatos deveriam fazer uma estimativa atual desse valor. Tversky e Kahneman descobriram que esse valor apresentado na roda mostrou grande influência sobre as respostas dadas pelos candidatos. Por exemplo, quando a roda parou no número 10, a estimativa média dada pelos candidatos foi de 25%. Porém, quando parou no 60, a estimativa média foi de 45%.

- Contabilidade mental: É a tendência que as pessoas têm de separar seu patrimônio em partes com finalidades individuais. Existem casos de pessoas que têm uma poupança para os filhos e que usam o limite do cheque especial. Outras tratam o dinheiro da restituição do imposto de renda como se fosse um prêmio e reservam o valor para um gasto especial. Uma maneira de evitar o mau uso da contabilidade mental é sempre lembrar que o patrimônio, incluindo ativos e passivos, deve ser analisado de forma única.

- Tendência ao exagero e disponibilidade: Uma conseqüência de envolver emoções no mercado financeiro é a tendência ao exagero ante uma nova informação. Boas notícias devem aumentar o preço do ativo, e este não deve cair se nenhuma nova informação for dada. Às vezes, participantes do mercado financeiro criam um efeito de supervalorização do ativo. Segundo a teoria da disponibilidade, as pessoas tendem a dar maior peso às informações mais recentes para uma tomada de decisão. Por exemplo, imagine um acidente de carro que acaba de acontecer num trecho de rodovia de uso diário. É possível que, pelas próximas semanas, você dirigirá com mais cautela pela rodovia. Presenciar o acidente o induziu a tendência ao exagero, porém, em pouco tempo você voltará aos seus hábitos normais.

- Efeito Manada: Eventos no mercado financeiro, como o estouro da bolha da internet, continuam a acontecer dado o efeito manada, que é a tendência do indivíduo em imitar as ações de um grupo maior. Temos a necessidade de agir em conformidade com o grupo onde estamos inseridos. Errar em companhia da maioria é menos estressante. Já conviver com as conseqüências de um erro em virtude de um posicionamento oposto ao do grupo é um constrangimento que a maioria evita.

- Viés de confirmação: No mundo dos investimentos, esse viés sugere que é mais provável que o investidor busque informações que confirmem sua idéia inicial a respeito de um investimento em vez de fatos que contradigam sua opinião. Como conseqüência, isso pode resultar em um processo de decisão errado, dado o conjunto incompleto de informações disponíveis.Viés de retrospecto: Psicólogos atribuem esse viés a nossa necessidade inata de encontrar ordem no mundo por meio de explicações que nos levem a acreditar que os eventos são previsíveis. Muitas pessoas acham, agora, que os sinais da bolha de internet eram óbvios. Se a formação de uma bolha fosse óbvia na época, ela nunca teria existido, pois os investidores teriam medo de comprar à medida que os preços subiam.


Questões psicológicas afetam comportamento do investidor
Valor Econômico - 16/4/2008
Andre Delben Silva

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segunda-feira, abril 14, 2008

Let´s Make a Deal

Este é um problema famoso e que tem despertado interesse da pesquisa acadêmica. São três portas que você deve escolher, sendo que numa delas existe um bom prêmio (um carro, por exemplo) e em outras duas você não ganha nada. Você escolhe uma porta.

Para dar emoção ao jogo, é mostrado uma das duas portas restantes, que não tem o prêmio. Pergunta-se: você mudaria de porta?

Existem duas estratégias: permanecer com a porta ou mudar para a que restou. A lógica é mudar sempre pois a probabilidade de acerto é maior.

Aqui você pode testar isto. Clique numa das portas. Clique em Continue. Irá aparecer uma "vaca" numa outra porta. Pergunta se você quer trocar (switch) ou não (don´t switch). Clique em switch. Repita isto várias vezes e observe o placar do lado direito. O percentual de vitória será maior que 50%, como seria a intuição do jogo.

Mais, aqui.

Geralmente pensamos que devemos continuar com a escolha. Seria um caso de insistência irracional?

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quarta-feira, abril 09, 2008

Desenhando melhores escolhas


Segundo Thaler e Sunstein, num artigo publicado no L A Times (2/4/2008, Designing better choices ou aqui) a escolha a arquitetura pode influenciar nas decisões humanas. Um exemplo apresentado diz respeito a um problema nos banheiros masculinos do aeroporto de Amsterdam, já que os homens não tinham muita precisão e atenção quando iam fazer suas necessidades. Ao colocar uma imagem em cada mictório os problemas reduziram em 80%.

Outro exemplo diz respeito a questão da doação de órgãos. Geralmente o estado assume que as pessoas mortas não querem doar seus órgãos. Se existisse um consentimento pressumido (pressuposição de que todo morto doará seus órgãos) poderia melhorar a quantidade de pessoas salvas com implantes.

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terça-feira, abril 01, 2008

Incentivos podem ajudar a "enxergar" melhor


Uma experiência interessante relatada aqui sobre a importância do "incentivo":

Em geral as pessoas possuem 50% de chance de acertar, num teste cego, se o refrigerante que está bebendo é uma Coca ou uma Pepsi. Entretanto, quando se pergunta isto para as pessoas, existe uma tendência a aumentar a proporção de respostas corretas. Quando se oferece uma quantia em dinheiro para o entrevistado, desde que ele acerte a resposta, a tendência é a resposta aproximar-se de 50%.

Poderia se concluir que incentivos podem muitas vezes (mas nem sempre) melhorar a nossa capacidade de percepção.

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