quinta-feira, janeiro 29, 2009

Finanças Comportamentais no Poder

Segundo o Chicago Tribune (Left not sold on Obama's regulation czar pick: Cass Sunstein's critics say cost-benefit reliance tips toward industry , Tom Hamburger & Christi Parsons, 25/1/2009) o professor da Harvard Law School, Cass Sunstein, é um amigo do presidente Barack Obama e foi nomeado para o Federal Office of Information and Regulatory Affairs. Ou seja, um órgão vinculado a regulação dos negócios.

Sunstein foi professor da University of Chicago Law School, onde Obama também ensinava, e seu trabalho inclui a questão comportamental. Talvez a sua obra de maior destaque seja o livro Nudge, em co-autoria com Richard Thaler (este sim, mais conhecido na área de finanças comportamentais).
Isto talvez seja um alento de que políticas públicas poderão ser mais criativas. Mais sobre o assunto, aqui

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quarta-feira, janeiro 28, 2009

Finanças comportamentais

Forma de apresentar informação pode fazer diferença
22/01/2009
Valor Econômico

Quando, em meio à maior crise financeira das últimas décadas, você escuta o ministro da Fazenda dizer que os bancos brasileiros não vão quebrar, o que vem à cabeça? Para muitos, soa como alarme: "Se se está falando nisso, é porque tem perigo! Onde há fumaça, há fogo." Por via das dúvidas, grandes bancos anteciparam a exposição dos balanços tranqüilizando clientes e mercado sobre sua saúde financeira.

A maneira de apresentar informações pode fazer diferença sobre como elas serão captadas. Os psicólogos econômicos Kahneman e Tversky chamaram isso de "framing effects" - como no enquadramento de uma foto, privilegiar uma porção da cena, deixando-se de lado o restante. Em 2008, antes da completa deflagração da crise financeira nos EUA, um pesquisador chamou a atenção para o fato de o dinheiro que o governo Bush distribuiu à população para tentar reativar a economia pelo consumo poderia não ter sucesso. Denominado "rebate", o termo é associado à devolução do imposto de renda, que dispara reação de poupar entre os contribuintes. Para ele, deveria vir com o nome "bônus" para que as pessoas se sentissem inclinadas a gastá-lo.

Pouco a pouco, conhecimentos gerados pela psicologia econômica e economia comportamental começam a ser incluídos na agenda de debates de governos e gestores, ou "policy-makers". Em períodos de crise, com a necessidade imperiosa de se buscar explicações e soluções, todos se voltam mais facilmente para a esfera psíquica, sobretudo ao componente emocional, tão inegavelmente poderoso sobre os movimentos de investidores e autoridades.

Já tínhamos exemplos ao redor do mundo. Em 2005, o economista comportamental Peter Earl elaborou detalhado relatório para o governo neozelandês com apresentação da disciplina, diagnóstico e recomendações de medidas psico-econômicas para favorecer o desenvolvimento do país.

Nos EUA, o também economista comportamental Richard Thaler, que integra a equipe de assessores de Barack Obama, e o advogado Cass Sunstein, bolaram um engenhoso programa, já adotado em alguns estados, para aumentar as contribuições previdenciárias. Por meio de uma simples mudança na apresentação das alternativas disponíveis, eles melhoraram a adesão a planos de pensão. Como alternativa padrão, aparece agora aquela que, automaticamente, faz o funcionário aumentar suas contribuições ao plano na mesma proporção dos aumentos salariais, no lugar de lhe deixar como opção-padrão ter que pensar e decidir cada vez que o salário subisse, decisão sempre suscetível às tentações de usar aquele extra para consumo. A medida obteve expressivo crescimento dos índices de contribuição e integra o cardápio do chamado "paternalismo libertário", que ao lado de induzir à escolha mais favorável - para o funcionário, que deseja ter aposentadoria confortável mais tarde, mas tem dificuldade para controlar seus impulsos consumistas agora -, mantém-se a liberdade de recusá-la e ficar com outras opções.

Para Thaler, essa perspectiva seria necessária já que, se deixados por conta própria, agimos todos como "Homer Simpson", o personagem do desenho animado que dispensa comentários... Aliás, vale anotar que a tradução do ótimo "Nudge", ou "empurrão", livro em que eles discutem essas propostas, saiu há pouco pela Campus/Elsevier). A crise atual só fez aumentar o interesse pelos fatores psíquicos. Abre-se caminho, portanto, para incluirmos este conhecimento na agenda dos "policy-makers", com o intuito de contribuir para decisões mais acertadas por parte da população.

No Brasil, muitas áreas poderiam ser alvo desse debate com a inclusão de variáveis psicológicas, tais como o esclarecimento da população em geral sobre a economia, o funcionamento psíquico e as inúmeras ciladas que nossa própria mente nos prega. Poderiam, ainda, ser debate no campo das microfinanças (decisões financeiras de populações de baixa renda) e meio-ambiente e sustentabilidade (recursos naturais são também bens finitos, envolvendo, portanto, decisões psico-econômicas). Poderiam também evitar a atração por golpes e a vulnerabilidade a tombos financeiros entre investidores, sem falar na evolução do Bolsa-Família rumo à autonomia e orientação sobre o uso do crédito consignado e de qualquer outra natureza.

Vera Rita de Mello Ferreira "Psicologia Econômica" e "Decisões econômicas - você já parou para pensar?"

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Entrevista

A seguir, trechos da entrevista de Dan Ariely para Business Week (Human Nature: The X Factor in Economic Theory; Irrationality plays a part in economic behavior. For example, people who took on too much mortgage debt helped cause the housing collapse, Marshall Goldsmith, 21/1/2009) onde ele analisa o papel da economia comportamental para a sociedade.

Como a economia comportamental difere da economia tradicional?

Economia comportamental e economia tradicional estão interessadas em assuntos similares, isto é, as escolhas que as pessoas fazem; o efeito dos incentivos; o papel da informação; etc. Entretanto, o ponto de partida para os economistas comportamentais e' como as pessoas comportam, quase sempre em ambiente controlado de laboratório, que conduz a diferentes conclusões sobre a lógica e a eficácia de muitas coisas, incluindo aposentadorias, economias e saúde.

O mercado não corrige os erros do consumidor?

Por que o mercado corrigiria os erros em lugar de agravá-los? Economistas comportamentais argumentam que muitas pessoas podem fazer os mesmos erros e isto ira agregar no mercado. Pegue a crise do subprime, por exemplo. Neste caso, muitas pessoas fizeram o mesmo erro e o mercado trabalhou para fazer com que a agregação dos erros fosse pior.

Então nós somos irracionais e fazemos decisões arriscadas baseadas na ganância?
Somos falíveis, facilmente confundidos, não tão espertos e muitas vezes irracionais. Nós somos inovadores, criativos e adaptáveis. Por exemplo, nós desenhamos cadeiras, calçados e carros para complementar e melhorar nossas capacidades físicas. Se tomamos as mesmas lições que aprendemos quando trabalhamos com nossas limitações físicas e aplicamos elas para coisas que estão afetando nossas limitações cognitivas – políticas de seguros, planos de aposentadoria e saúde – nos estamos aptos a desenhar uma política mais efetiva e ferramentas que são mais úteis no mundo. Isto é a promessa da economia comportamental – uma vez nos observamos onde nos somos fracos ou errados, podemos tentar corrigir e construir um mundo melhor.

Imagine se levarmos em conta quão difícil é para as pessoas calcular o montante correto da hipoteca que elas devem assumir. Em vez de criar uma calculadora que dissesse o máximo que se pode tomar emprestado, ela nos ajudaria a descobrir o que devemos pedir emprestado. Se tivéssemos este tipo de calculadora [e é usado], creio que grande parte da catástrofe do sub-prime poderia ter sido evitado.

Digamos, por exemplo, que alguém tem uma escolha entre alugar um Ford (F) e alugar um Focus Lexus - a maioria das pessoas iria para o Lexus! Pode não ser o que deveria alugar, mas é o máximo e por isso eles vão para ele e esperam o melhor. Esta é uma idéia, há muitas maneiras de pensar sobre como melhorar as nossas vidas. E, é por isso que é tão otimista a economia comportamental, e útil e importante para a nossa vida pessoal e para a sociedade.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Efeito propriedade e o Comportamento em situações críticas

O efeito propriedade refere-se ao fato de valorizarmos mais o que possuímos. Um estudo parece sugerir que tocar num produto na prateleira pode criar uma vontade de pagar mais por ele. As pessoas sentem proprietários de um determinado item antes de comprá-lo. O estudo da Ohio State parece indicar que o efeito propriedade funciona 30 segundos antes do primeiro toque no objeto. (Via Marginal Revolution )

Outro texto interessante trata do Titanic e a tentativa de estabelecer uma regra que determina quem sobreviveu ao desastre:

Este texto explora os determinantes da sobrevivência em situações de vida ou morte criadas por um choque externo e não previsto. Nós estamos interessados em verificar se um comportamento social em situações extremas. Nós focalizamos o afundamento do RMS Titanic como um experimento quase-natural para ter evidencia do comportamento que é raro em um evento controle e de ameaça de vida. Os resultados empíricos mostram que normas sociais tais como “mulheres e crianças” sobrevivem em tais ambientes. Nós também observamos que mulheres em idades reprodutivas possuem maior probabilidade de sobrevivência entre as mulheres. Por outro lado, nós observamos que membros da tripulação usam sua vantagem de informação e seu melhor acesso a recursos (isto é, botes de salva-vidas) para gerar uma maior probabilidade de sobrevivência.

Fonte: Marginal Revolution

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Erro de cálculo

As pessoas cometem erros nos seus cálculos pessoais, muitas vezes tentando justificar suas decisões financeiras erradas. Veja o seguinte trecho de uma reportagem do jornal Valor Econômico:

“(...) Eu tinha uma pulseira de madeira revestida com frisos de latão com um par de brincos que combinava. Paguei US$ 800 por eles em 1985; foram vendidos por US$ 1 mil. Vendi minhas jóias Chanel, que incluiam uma pulseira pela qual paguei US$ 500 e vendi por US$ 600. Devia ter comprado mais!" designer de acessórios Beverly Feldman

Vamos mostrar como este pensamento está errado. Considere o caso da jóia que foi comprada por 800 e vendida por 1 mil. Isto representa um ganho nominal de 25% (ou 1000 dividido por 800 menos 1). Como são 24 anos desde que foi comprada é interessante calcular o ganho anual da jóia. Este cálculo é feito através da raiz de 24 de um mais 25%. (Numa planilha basta digitar =1,25^(1/24) – 1. O resultado é 0,009341 ou 0,93% ao ano. Ou seja, um ganho nominal ridículo. Quando se considera a inflação – do dólar neste caso – provavelmente não se teria nem o ganho real.
Mais ainda. O valor de 1 mil recebidos deve ser a receita de Beverly. E as despesas?

Concluindo, ainda bem que ela não comprou mais.

Mas o texto insiste, usando exemplos de vestidos que foram leiloados recentemente e obtiveram um bom retorno. (Caso de um vestido, comprado por $300 e vendido por 2,8 mil quinze anos depois). Novamente não se considerou as despesas. Existe outro problema neste argumento: extrapolação indevida.

Usar um exemplo para construir uma regra geral é perigoso. Nestas situações, deixa-se de considerar as compras que não obtiveram uma valorização ou os casos de roupas que foram “baixadas” dos estoques pelo uso (vestidos estragados pelo tempo).

O texto chega a deixar implícito um conselho: invista em moda. Ledo engano.

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segunda-feira, janeiro 19, 2009

Mulher versus Homem

(…)
"Pesquisas mostram que quando as mulheres compram, não está necessariamente relacionado ao quanto de dinheiro elas têm para gastar, mas o que está acontecendo em suas mentes", diz Pine. (...) O pensamento é “Eu trabalho duro, eu mereço uma recompensa." (...)


Why the new black is being in the black; Women must wise up about money, says Sheconomics, a new book about personal finance. Its authors give us exclusive extracts, right, and, below, justify their account to Carol Midgley
Carol Midgley

12/1/2009 - The Times – 1 2,3,4

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Desempenho financeiro e Testosterona

Ganhar dinheiro vem naturalmente para algumas pessoas, especificamente, para os homens expostos a níveis elevados de testosterona antes de nascerem. Isso, pelo menos, é a conclusão de um estudo publicado esta semana por John Coates, da Universidade de Cambridge e de seus colegas.

Níveis de testosterona normalmente surge no meio de uma gravidez. Isto não só molda o cérebro e órgãos sexuais da criança, mas também afeta a maneira como seus dedos crescem. (...)

No ano passado, o Dr. Coates relatou uma experiência diferente em que ele descobriu que os comerciantes que tinham altos níveis de testosterona no seu corpo no período da manhã faziam mais dinheiro durante o dia.

Digitally enhanced - The Economist - 15/1/2009

Experiências como esta mostram que as pessoas não são idênticas e que variáveis diferentes, como aspectos genéticos e ambiente externo são relevantes para o processo decisório.

Aqui, outra pesquisa sobre o efeito do testosterona na decisão.

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quinta-feira, janeiro 15, 2009

Crise sob a ótica comportamental

Andrew Lo é um excepcional estudioso de finanças, com conhecimentos em finanças comportamentais e métodos quantitativos. Ele é co-autor do clássico The Econometrics of Financial Markets (juntamente com John Campbell e Craig Mackinlay) e criador de um linha de pesquisa, que incorporar Darwin em Finanças.

Lo fez um pequeno texto onde expõe sua visão pessoal da crise. Usando os conceitos conhecidos de aversão a perda e os efeitos no ser humano de ganhos, Lo comenta que a reação do indíviduo num ambiente de mercado altista já foi estudada e apresenta sintomas conhecidos dos cientistas:

Utilizando técnicas como a ressonância magnética, neurocientistas têm documentado o fato de que ganhos monetários estimula o mesmo circuito de premiação que a cocaína - em ambos os casos, a dopamina é liberada. Da mesma forma, a ameaça de perda financeira ativa os mesmos circuitos de agressões físicas, libera adrenalina e cortisol na corrente sanguínea, o que resulta em elevação da freqüência cardíaca, pressão arterial e de alerta.


Diante do comportamento do ser humano, Lo considera razoável a grande quantidade de crises. Os momentos positivos agem sobre o ser humano como uma droga, induzindo a assumir riscos mais elevados. (Talvez isto tenha o mesmo efeito da irracionalidade nas decisões de investimentos):

Sob a perspectiva do neurocientista, não é surpreendente que tenha havido 17 crises nacionais bancárias em todo mundo desde 1974, a maioria das quais foram precedidas por períodos de aumento nos preços de imóveis e ações, grande influxos de capital e liberalização financeira. Períodos extensos de prosperidade agem como um anestésico no cérebro humano, enganando investidores, líderes empresariais e reguladores num estado de complacência, uma droga que causa estupor nos induzido a assumir riscos que nós sabemos que devemos evitar.


O efeito disto são as bolhas. Para resolver o problema, Lo propõe:

Porque a forma mais potente do medo é o medo do desconhecido, a forma mais eficaz para combater a crise atual é com a transparência e educação.

O texto de Lo recebe o nome de Fear, Greed, and Crisis Management: A Neuroscientific Perspective e pode ser encontrado aqui.

Para saber mais sobre Lo, aqui um excelente link com um resumo da sua obra.

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terça-feira, janeiro 13, 2009

Ilusão da Moeda

A época que a pessoa nasceu interfere nas decisões financeiras tomadas e na atitude perante o risco. Este fato é muito explorado no livro Outlier (muito bom, vale a pena ler). Mas chamou a atenção o seguinte texto:

Ms Malmendier e Mr Nagel também encontraram que pessoas que viveram em períodos de elevada inflação sistematicamente esperam que a inflação futura seja mais elevada do que aqueles que não tiveram a experiência com alta inflação


Este aspecto é interessante. No passado, reproduzimos (eu e minha orientanda Ludmila) um trabalho sobre ilusão da moeda. E os resultados não corresponderam ao que foi obtido nos Estados Unidos. Teria alguma relação?