segunda-feira, julho 31, 2006

Gincanas de TV e a Racionalidade

Uma reportagem do Wall Street Journal sobre a racionalidade nas gincanas de TV:

Economistas encontram um precioso objeto de estudo nas gincanas da TV
January 13, 2006 4:05 a.m.

Por Charles Forelle
The Wall Street Journal

Daryl Johnson, um ator e web designer freelance de 27 anos — "o que signfica que eu não tenho um emprego" — balançava ansiosamente o corpo de um lado para o outro em Deal or No Deal, um programa de TV parecido com o extinto Eu Compro o Seu Televisor, que o SBT transmitiu em meados de 2004.

Depois de várias rodadas decepcionantes, que acabaram com a esperança de Johnson de sair milionário, o apresentador do programa, Howie Mandel, ofereceu US$ 37.000 para ele desistir. Johnson ainda tinha uma chance remota de ganhar uma mala contendo US$ 200.000. Por isso ele recusou os US$ 37.000.

Mais tarde, com apenas uma chance entre três de embolsar os US$ 200.000, Johnson recebeu uma nova oferta para desistir: US$ 67.000. Ele esfregou as mãos. Agitado, bateu os dedos sobre o peito. Depois balançou a cabeça indicando que, ainda assim, não desistiria.

"Você é corajoso", disse Mandel.

Para Thierry Post, professor de finanças da Universidade Erasmus, em Roterdã, na Holanda, Johnson também é uma cobaia valiosa para pesquisas econômicas. "Seu apetite por riscos é realmente anormal", diz o professor. Mais precisamente, calcula Post, Johnson mostrou uma "aversão a riscos relativos" de 0,006 — o que denota uma atitude atípica de indiferença quase absoluta a risco financeiro.

Post integra um pequeno grupo de economistas que estuda game-shows da TV numa variação da Teoria dos Jogos, buscando explicar as escolhas dos participantes e as indicações que elas podem dar sobre o comportamento econômico das pessoas no dia-a-dia.

Num estudo de 2002, dois economistas calcularam o "equilíbrio único perfeito de Nash do subjogo" — grosso modo, a melhor maneira de se jogar — em um dos segmentos do programa The Price Is Right, um jogo que premia os candidatos que melhor advinharem os preços de produtos. Eles descobriram que os jogadores freqüentemente fogem dessa maneira, agindo com muito conservadorismo quando se preocupavam em ser eliminados.

Outros programas, como Who Wants to Be a Millionaire (o Show do Milhão), também são estudados. Mas Deal or No Deal tem gerado um entusiasmo especial, em parte por não envolver nenhum tipo de habilidade. Isso reduz as variáveis ao comparar os participantes.

"Não há dúvida de que essas são pessoas verdadeiras que fazem escolhas verdadeiras em grandes apostas, e raramente temos a oportunidade de observar decisões tão puras", diz Richard Thaler, um dos principais economistas comportamentais da Graduate School of Business da Universidade de Chicago, nos EUA.

Os economistas não os únicos cativados por Deal or No Deal, que foi criado na Holanda em 2002 pela produtora Endemol e é veiculado hoje em 38 países. No Brasil, o SBT está sendo processado pela Endemol Globo SA, uma joint venture formada pela empresa holandesa e a TV Globo em agosto de 2001. O processo foi aberto em julho de 2004 e acusa a emissora do Sílvio Santos de plagiar o formato do programa original em Eu Compro o Seu Televisor.

Post está estudando o programa para ver se o jogo pode ajudar a explicar por que as pessoas tomam decisões econômicas irracionais e arriscadas. Junto com seus colegas, ele já gravou dezenas de episódios. Eles fizeram trocas online com colecionadores de programas de TV de todo o mundo e até contrataram uma equipe de estudantes turcos para traduzir o conteúdo da versão turca do programa.

Entender como o risco afeta o comportamento financeiro pode ter impacto em grandes decisões como em quais ativos se deve investir e quanto governos devem gastar em redes de proteção social. Mas dados reais são raros.

O formato de Deal or No Deal funciona assim: 26 modelos seguram 26 malas — cada uma com uma quantidade diferente de dinheiro variando de US$ 0,01 a US$ 1 milhão, na versão americana. O participante escolhe uma mala para ser sua, e depois passa a abrir as outras 25. Cada vez que abre uma mala, ele pode descobrir um pouco mais sobre o quanto a sua mala pode conter, pelo processo de eliminação. O jogador também pode trocar a sua mala por uma das outras que ainda não foram abertas.

O suspense aumenta — assim como a chance de o jogador ganhar bastante dinheiro — à medida que os valores são eliminados e as malas com US$ 1 milhão e US$ 500.000 ainda não foram abertas. Periodicamente, um "banqueiro" agourento aparece e faz uma proposta de negócio ao participante. A oferta é: pare de jogar agora e leve o dinheiro oferecido.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Obrigado por Blog intiresny

1:59 AM  

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