Dormência psíquica
Eu li o texto abaixo sob a forma de quadrinhos. Se você achar interessante, pode ir para página onde estão as ilustrações. Fiz uma tradução nem sempre literal, mas acho que o espírito está dentro do que o autor queria transmitir. Não pude deixar de associar com a estatística que todo dia o Jornal Nacional apresenta, com o número de mortos. Aquilo não funciona. Qual a razão? O texto explica.
Toda semana eu verifico as últimas mortes do COVID-19 para a NPR. Depois de um tempo, não senti nenhuma tristeza pelos números. Eu me senti entorpecido. Eu queria entender o porquê - e como superar essa dormência.
O mês de março passado foi uma época assustadora. Os casos e mortes da Covid-19 estavam aumentando rapidamente. Eu estava preocupado com meus avós na China, que não tinham deixado sua casa em semanas.
Então eu obtido um trabalho: atualizar os dados de Covid-19 para o NPR.
Cada semana eu tinha que verificar os últimos números de mortes do Covid19 nos Estados Unidos e no resto do mundo. Os números estavam aumentando e aumentando. Depois de algum tempo, os números de mortos não me afetavam emocionalmente.
Quando eu vi que o número de mortos nos Estados Unidos ultrapassou os 500 mil em fevereiro e no mundo todo estava acima de 2 milhões, eu me senti entorpecido.
E não era o único que tinha dificuldade de evocar emoções com um tragédia de grande tamanho. Este é um fenônemo chamado dormência psíquica (psychic numbing).
Para aprender mais, eu falei com Paul Slovic, um pesquisador de psicologia da Universidade de Oregon, que estuda esse fenônemo.
Eu aprendi que nosso cérebro tipicamente processa situações através de sentimentos instintivos, não lógica.
Então nós não sentimos necessariamente duas vezes pior quando duas pessoas morrem versus uma pessoa. E como o número de mortes era maior, a dormência geralmente cresce também. Estatística igual a 500 mil mortes é tão grande e incompreensível que não gera qualquer emoção.
Essa dormência pode impedir de notar quão séria é a situação e então não motiva a fazer ações que podem fazer a diferença.
Então, como contornar essa dormência psíquica?
De acordo com Slovic, nós precisamos estar atento ao fenônemo e como este funciona. Então, quando nós escutamos nova informação, nós precisamos de dar um tempo e pensar cuidadosamente sobre o que significa, em lugar de automaticamente sentir uma dormência.
E precisamos prestar atenção para estórias de pessoas - que é uma maneira de conectar emocionalmente com a questão.
A guerra da Síria é um bom exemplo. De 2011 a 2015, cerca de um quarto de um milhão de pessoas morreram. Mas não existia um interesse internacional.
Então um pequeno garoto cuja família estava fugindo da Síria afogou. A fogo do pequeno corpo na praia tornou viral. Doações para caridade cresceram, mas poucos meses depois da foto publicada, as doações diminuíram. Imagens e narrativas individuais podem chocar e sair da dormênia, dando uma pequena janela para agir.
Desde minha conversa com Slovic, eu me tornei mais consciente sobre como interagir com as notícias.
Um passo limitar a quantidade. Em lugar de passar pelo Twitter e afogar com notícias ruins, eu subscrevo newsletters. Tendo menos conteúdo para ler me dá mais energia mental para digerir as últimas notícias.
Como Slovic sugeriu, eu tento ler estórias sobre a influência nas pessoas. E quero saber como elas vivem e suas expectativas.
Então eu olho para meios realísticos que eu possa ajudar dentro da minha janela de oportunidade, como fazer uma doação. E eu tento fazer tanto quanto possível. Eu sei que quanto mais eu espero, menos motivação eu terei.
Por mais que tente, eu não tenho conseguido seguir estes passos o tempo todo. Tem sido um ano cansativo, com múltiplas crises.
E por vezes tudo parece tão desesperador. Há tantas pessoas que foram despedidas durante a pandemia. Qual a diferença de mandar $20 para um desempregado?
Mas isto importa.
É igual vestir máscara; se no final da pandemia eu evitei de transmitir Covid para uma pessoa não é suficiente? Eu penso que eu tento fazer isso nesse texto - dizendo que um gesto pequeno é suficiente. Para lhe dizer que, se se sentir entorpecido, não estará sozinho. É uma reação normal e humana a tanta perda.
Mas eu espero que agora você tenha melhor entendido como lidar melhor com esse sentimento.
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