Bolha
Palavra do gestor: Fatores psicológicos presentes na formação de bolhas
Vera Rita Ferreira - Valor Econômico
Repararam como hoje fala-se com familiaridade e naturalidade em bolhas? Até o ano passado, isso era menos frequente e despertava controvérsias. Agora chegamos a encontrar três títulos numa mesma página de jornal com a palavra estampada.
Se antes tínhamos discussões intermináveis sobre as razões para altos e baixos no mercado e economistas renomados se declaravam com urticária ao ouvir a famigerada expressão, hoje o fenômeno virou premissa para a maior parte dos analistas. O debate se resume em quem será capaz de prever com exatidão quando uma bolha poderá estourar.
Quando se fala em bolha, ficam implícitos os fatores psicológicos presentes nos fenômenos econômicos. Por isso, há uma dificuldade para entender como e por que se formam, além de prever sua duração e término.
O que sabemos é que tudo o que sobe demais, desce em proporção equivalente. E quanto mais extremados os movimentos, seja para o lado que for, pode-se esperar oscilações igualmente bruscas para o outro lado. Às vezes me perguntam se essas curvas mimetizam o comportamento de pacientes portadores de transtorno bipolar, ora depressão, ora euforia, sem motivos concretos que justifiquem essas mudanças. Nesse sentido de oscilação e motivação obscura, sim, o quadro guarda semelhanças. Este é também nosso modo de funcionar psiquicamente mais básico e primitivo. Daí sua força e fácil preponderância sobre formas mais sofisticadas - embora raras - de operação mental.
Elementos psicológicos já identificados: na formação da bolha, existe a questão da inovação. A crença de que estamos vivendo algo inaudito e maravilhoso, mesmo que não se compreenda bem do que se trata. Ou será que essa sensação de estar acima do entendimento comum já não seria, justamente, um dos combustíveis para esse momento? De um lado, há a minha necessidade de o indivíduo acreditar que alguém superior deve saber do assunto - pois assim reduzo meu sentimento de desamparo num mundo tão complexo. Do outro, existe o desejo de satisfazer carências e afastar encrencas. Com isso, não há questionamentos. De bom grado, embarco na miragem da novidade - até porque ela costuma me prometer risco zero e satisfação garantida.
Embrulhando a inovação - e acabando por embrulhar, no mau sentido, muita gente boa também - vem a história. Líderes, experts e autoridades se empenharão em apresentar a miragem numa narrativa mais ou menos amarradinha, dependendo de sua competência e da incompetência de seus interlocutores, o que ajuda a dar sentido (aparente) à barafunda toda.
Isso lembra o relato de Bernard Madoff, o da pirâmide, que agora vê o sol nascer quadrado nos EUA: eu não mentia, é que o pessoal da SEC (a CVM americana) não me fazia as perguntas certas, isto é, aquelas que poderiam ser comprometedoras...
Outro elemento em comum é a vontade geral de calar as vozes que ousarem levantar a hipótese de ser uma bolha durante sua vigência. Assim, todo mundo fica doido para acreditar na historinha fofa, mesmo que ela não faça o menor sentido! E dá-lhe promessa de um mundo novo - e lucros sem fim para todos - com a internet, contabilidade criativa na Enron, os derivativos do subprime, as areias de Dubai e por aí vamos.
Até que um belo dia chega o bicho-papão: vai cair, já caiu, não vai sobrar nada, corre, foge, não tem mais jeito! É o pânico. É como se, de repente, todas aquelas dúvidas em estado latente por tanto tempo retornasse como estouro da boiada. Pronto, começou o fim do mundo. Otimismo excessivo vira pessimismo idem.
Se sabemos que é sempre assim, por que caímos de novo na mesma cilada? Será que Freud explica? Ele (e também M.Klein e Bion) pelo menos apontam a direção: a maior parte de nosso conteúdo mental é inconsciente, inacessível ao nosso conhecimento e controle, e quanto mais primitivas as emoções e operações psíquicas, mais tenderão a se repetir, seguindo padrões com certa rigidez. Flexibilidade, presença de espírito, intuição, aprender com a experiência, infelizmente, não são para quem quer. São para quem consegue e olhe lá...
Vera Rita Ferreira - Valor Econômico
Repararam como hoje fala-se com familiaridade e naturalidade em bolhas? Até o ano passado, isso era menos frequente e despertava controvérsias. Agora chegamos a encontrar três títulos numa mesma página de jornal com a palavra estampada.
Se antes tínhamos discussões intermináveis sobre as razões para altos e baixos no mercado e economistas renomados se declaravam com urticária ao ouvir a famigerada expressão, hoje o fenômeno virou premissa para a maior parte dos analistas. O debate se resume em quem será capaz de prever com exatidão quando uma bolha poderá estourar.
Quando se fala em bolha, ficam implícitos os fatores psicológicos presentes nos fenômenos econômicos. Por isso, há uma dificuldade para entender como e por que se formam, além de prever sua duração e término.
O que sabemos é que tudo o que sobe demais, desce em proporção equivalente. E quanto mais extremados os movimentos, seja para o lado que for, pode-se esperar oscilações igualmente bruscas para o outro lado. Às vezes me perguntam se essas curvas mimetizam o comportamento de pacientes portadores de transtorno bipolar, ora depressão, ora euforia, sem motivos concretos que justifiquem essas mudanças. Nesse sentido de oscilação e motivação obscura, sim, o quadro guarda semelhanças. Este é também nosso modo de funcionar psiquicamente mais básico e primitivo. Daí sua força e fácil preponderância sobre formas mais sofisticadas - embora raras - de operação mental.
Elementos psicológicos já identificados: na formação da bolha, existe a questão da inovação. A crença de que estamos vivendo algo inaudito e maravilhoso, mesmo que não se compreenda bem do que se trata. Ou será que essa sensação de estar acima do entendimento comum já não seria, justamente, um dos combustíveis para esse momento? De um lado, há a minha necessidade de o indivíduo acreditar que alguém superior deve saber do assunto - pois assim reduzo meu sentimento de desamparo num mundo tão complexo. Do outro, existe o desejo de satisfazer carências e afastar encrencas. Com isso, não há questionamentos. De bom grado, embarco na miragem da novidade - até porque ela costuma me prometer risco zero e satisfação garantida.
Embrulhando a inovação - e acabando por embrulhar, no mau sentido, muita gente boa também - vem a história. Líderes, experts e autoridades se empenharão em apresentar a miragem numa narrativa mais ou menos amarradinha, dependendo de sua competência e da incompetência de seus interlocutores, o que ajuda a dar sentido (aparente) à barafunda toda.
Isso lembra o relato de Bernard Madoff, o da pirâmide, que agora vê o sol nascer quadrado nos EUA: eu não mentia, é que o pessoal da SEC (a CVM americana) não me fazia as perguntas certas, isto é, aquelas que poderiam ser comprometedoras...
Outro elemento em comum é a vontade geral de calar as vozes que ousarem levantar a hipótese de ser uma bolha durante sua vigência. Assim, todo mundo fica doido para acreditar na historinha fofa, mesmo que ela não faça o menor sentido! E dá-lhe promessa de um mundo novo - e lucros sem fim para todos - com a internet, contabilidade criativa na Enron, os derivativos do subprime, as areias de Dubai e por aí vamos.
Até que um belo dia chega o bicho-papão: vai cair, já caiu, não vai sobrar nada, corre, foge, não tem mais jeito! É o pânico. É como se, de repente, todas aquelas dúvidas em estado latente por tanto tempo retornasse como estouro da boiada. Pronto, começou o fim do mundo. Otimismo excessivo vira pessimismo idem.
Se sabemos que é sempre assim, por que caímos de novo na mesma cilada? Será que Freud explica? Ele (e também M.Klein e Bion) pelo menos apontam a direção: a maior parte de nosso conteúdo mental é inconsciente, inacessível ao nosso conhecimento e controle, e quanto mais primitivas as emoções e operações psíquicas, mais tenderão a se repetir, seguindo padrões com certa rigidez. Flexibilidade, presença de espírito, intuição, aprender com a experiência, infelizmente, não são para quem quer. São para quem consegue e olhe lá...
1 Comments:
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