Morte da economia comportamental?
Jason Hreha escreveu um artigo com o chamativo título de “The death of behavioral economics” (A morte da economia comportamental) O principal ponto considerado por Hreha é o fato de que a aversão a perda está sendo “questionado” por pesquisas mais recentes.
Parte do debate conduzido por Hreha está no método empregado pelos criadores/divulgadores do conceito. Hreha questiona fortemente as referências usadas por Kahneman e Tversky, assim como a forma como fizeram a pesquisa. Há uma boa resposta a estas acusações no Astral Codex e minha sugestão é a leitura https://astralcodexten.substack.com/p/on-hreha-on-behavioral-economics dos argumentos apresentados no longo texto existente lá. Como Hreha cita uma pesquisa de Gal e Rucker recente, Scott Alexander, do Astral, rebate com alguns bons argumentos. A pesquisa de Gal e Rucker parece indicar que a aversão a perda seria consequência de outros viéses, especialmente o efeito propriedade (ou efeito dotação) e o status quo. Mas os pesquisadores não dizem que a aversão não existe, mas somente que talvez não seja a principal explicação para o que ocorre na prática.
Você não pode usar este artigo (Gal e Rucker) para argumentar que “a economia comportamental está morta”. Na melhor das hipóteses, o artigo prova que a aversão à perda é melhor explicada por outros conceitos econômicos comportamentais. Mas você não pode se livrar completamente da economia comportamental.
Mesmo as críticas que indicam que os experimentos foram realizados com estudantes de graduação, foram rebatidos por outros experimentos, realizados com pessoas que possuem elevada renda e mesmo assim possuem aversão a perder pequenas quantias.
O outro ataque de Hreha é sobre as cutucadas. O foco é o fato de que as cutucadas possuem um efeito pequeno, de 1,5%. Alexander argumenta que 1,5% pode ser pequeno em certas situações, mas quando o Uber usa as cutucadas, 1,5% sobre 10 bilhões significa 100 milhões, o que é muito dinheiro. Quando você considera 1,5% sobre 90 milhões de pessoas que não querem vacinar ou são preguiçosos demais, são 1,4 milhão de vacinados.
É normal que críticas irão surgir contra os conhecimentos que temos hoje da economia comportamental (ou das finanças comportamentais). Mas é necessário distinguir entre uma crítica sem fundamento, de uma revisão científica bem feita. Parece não ser o caso das considerações de Hreha.
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