quinta-feira, janeiro 11, 2007

Investidores são seres humanos

Mais um artigo enviado por Ricardo Viana (grato)
Valor Econômico

Investidores, afinal, são seres humanos
Por Luciana Monteiro
14/12/2006

É preferível ganhar R$ 80 mil ou ter 80% de chance de ganhar R$ 100 mil? Certamente, a grande maioria das pessoas escolherá a primeira opção. E entre perder R$ 80 mil e a probabilidade de 80% de perder R$ 100 mil? Sem dúvida, a maioria escolherá a segunda alternativa. As respostas dadas a essas perguntas, feitas em pesquisa conduzida por Amos Tversky, fundador da teoria financeira comportamental, mostram que, em qualquer parte do mundo, a reação do investidor será a mesma: ele não está disposto a correr risco para obter ganhos.

Esse padrão de comportamento ratifica a essência daquela teoria, segundo a qual as decisões econômicas não se pautam apenas por motivos racionais. Em seu livro, o economista Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais da ABN Amro Asset Management, usa essa premissa como moldura de recomendações que faz ao investidor individual.

Mosca fez uma coletânea de artigos que publicou na coluna "Palavra do Gestor", do Valor, para mostrar como o investidor pode orientar suas aplicações por princípios de análise comportamental e como é importante considerar contextos que recomendam essa opção - inclusive, para evitar decisões mal fundamentadas.

Um dos erros mais comuns está associado ao entendimento equivocado do que o economista chama de "representatividade" - a tentativa de prever o futuro com base em resultados passados. Mosca cita como exemplo um mês em que a bolsa de valores tenha apresentado um bom desempenho. "Com certeza, haverá um maior fluxo de recursos para fundos de ações no período seguinte." O problema, no entanto, é que o investidor estará entrando em bolsa num momento de alta, quando é justamente o oposto que deveria fazer.

Outra armadilha se apresenta quando o investidor se amedronta diante de eventos raros, que o autor chama de "saliências". "São eventos com baixa probabilidade de se repetir, mas que, como são muito divulgados, influenciam o comportamento do investidor", diz. Basta lembrar a forte queda dos papéis da área de aviação após o acidente com o avião da Gol no fim de setembro.

As pessoas também têm uma forte tendência de agir conforme a maioria, o que provoca o chamado efeito manada. "É muito confortável agir em conformidade com um grupo", diz. Nos investimentos, é muito mais aceitável a perda quando todo mundo está perdendo, mas ao fazer isso o aplicador não está levando em conta que poderia estar ganhando se tivesse assumido o risco de agir diferente.

Outro erro comum é a dificuldade de aceitar que se está errado. A "teoria do arrependimento", diz o autor, faz o investidor persistir numa estratégia incorreta por não assumir que errou. "As pessoas acreditam que há um momento peculiar para investir, e não admitem que erraram", diz o estrategista da ABN Amro Asset. "Todo fim de mês, os investidores tentam adivinhar o que acontecerá no mês seguinte, o que é um erro." Segundo Mosca, as pessoas têm uma tendência de superestimar o próprio conhecimento.

A cultura do curto prazo, ainda dominante entre os investidores no Brasil, potencializa a possibilidade de erros ao se adotar essa estratégia, lembra o executivo. "É a tentativa de adivinhar o que acontecerá com a economia num prazo de 22 dias úteis", afirma Mosca. Além disso, o aplicador acostumou-se com as altas taxa de juros pagas pelos papéis do governo. "Com juros agora mais baixos, será preciso assumir mais riscos para bater o CDI."

A dificuldade em lidar com o dinheiro, no entanto - que é, no fundo, o que determina o comportamento do investidor - não é característica exclusiva do brasileiro. Pesquisadores da Universidade de Cambridge constataram que 50% dos entrevistados, numa amostra tomada para estudo de comportamento, apresentaram aceleração significativa no ritmo cardíaco quando tiveram de organizar suas finanças. Outros 15% ficaram imóveis e sequer tentaram analisar os dados antes de desistirem por completo. Quando o assunto é dinheiro, mudanças comportamentais ocorrem e podem impedir que a pessoa tome as melhores decisões, usando a mesma desenvoltura com que trata de outros assuntos, escreve o autor.

Para o economista, o primeiro passo para fugir desses comportamentos de risco é tomar consciência do problema, perceber os sintomas e decidir com a maior clareza possível de objetivos.

"Investimento Sob Medida" - De Aquiles Mosca. Lazuli/CEN, 110 págs. R$ 25