quinta-feira, abril 12, 2007

Investidores

Um artigo sobre finanças comportamentais, publicado na Gazeta de 12/04/2007

Oportunista versus disciplinado
12 April 2007

12 de Abril de 2007 - Os mercados de ativos de risco, como as bolsas de valores, são famosos por seus altos e baixos. A chamada finança comportamental (behavioral finance) é o campo que aborda as conseqüências dos movimentos dos mercados financeiros sobre o investidor. Nessa cadeira, os acadêmicos buscam compreender como as expectativas dos agentes são formadas e de que forma as reações mais comuns são determinadas.

O professor Amos Tversky - um dos fundadores desse campo de estudo - propôs a Teoria dos Prospectos em 1979, tomando por base um levantamento sobre o comportamento de investidores pessoa física frente às flutuações do mercado financeiro. Uma de suas principais observações é que as pessoas passam por um estresse maior quando experimentam perdas em um mercado de baixa do que se sentem recompensadas por ganhos semelhantes quando o mercado é de alta, mesmo que tal baixa e alta tenham sido da mesma proporção. Ou seja, há uma assimetria nas percepções geradas pelas flutuações do mercado. Não precisamos de um psicólogo para nos dizer que o investidor odeia perder dinheiro.

A grande maioria está perturbada com volatilidade recente dos mercados de risco. No entanto, caso estejamos tratando de um plano de investimentos bem desenhado e um investidor informado, uma parte significativa das apreensões naturais ao aplicador pode ser reduzida, o que tende a favorecer a boa gestão do patrimônio. Um plano sólido de investimentos trabalha sempre com a hipótese de que o mercado irá apresentar períodos de realização. A literatura financeira está repleta de estudos que demonstram a baixa capacidade dos agentes financeiros de antecipar consistentemente tais movimentos. Dessa forma, caso seu objetivo seja superar o retorno oferecido por aplicações conservadoras, como o oferecido por um fundo DI, tenha em mente que, durante alguns períodos, ao menos uma parte de sua carteira enfrentará momentos desfavoráveis. Isso é normal e deve ser visto como uma oportunidade para a gestão de seus recursos.

Se você formulou um plano de investimentos tomando por base suas limitações financeiras, objetivos e tolerância ao risco, não há motivos para apreensão quando o mercado apresenta suas habituais flutuações. A gestão disciplinada de uma alocação definida pelos 3 pontos acima é responsável pela maior parte do retorno de uma carteira que envolve investimentos em diferentes instrumentos financeiros e tenha horizonte amplo (via de regra superior a 12 meses) para acomodar as flutuações e propiciar tempo para que o potencial de alta dos ativos possa se materializar.

Já para o investidor que faz suas aplicações com base na percepção de que esse ou aquele mercado pode apresentar uma oportunidade para os próximos 30 dias, a recomendação que fica é menos tranquilizadora. Esse investidor precisa acompanhar de perto os movimentos dos ativos onde estão seus recursos, sobretudo indicadores antecedentes que possam sinalizar os movimentos futuros dessas aplicações, bem como a evolução do preço de cada um dos ativos de sua carteira.

Além disso, é necessário monitorar com atenção o cenário macroeconômico e político, interno e externo, para tentar prever o melhor momento de fazer ou desfazer posições. Dito isso, não parece razoável para a grande maioria dos investidores pessoa física, sobretudo o pequeno poupador, montar um plano de investimentos de longo prazo que acomode propensão ao risco, limitações orçamentárias, objetivos e que seja capaz de acomodar as flutuações do mercado ao longo do tempo? Nesse caso, a arte está em selecionar um gestor capaz de alocar os recursos em diferentes ativos de tal forma a atender os critérios mencionados.

Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3 - Aquiles Mosca