Profissão e mercado
A profissão influencia na hora de escolher o melhor investimento
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro - 16/04/2007
A escolha do investimento mais adequado passa por diversas esferas. A profissão do aplicador pode ser determinante na formação da carteira de investimentos. Se o ofício for de uma área muito distante, poderá parecer não existir influência direta. Na advocacia, por exemplo, existem áreas que podem acabar direcionando as aplicações. O advogado societário Fernando Gammino diz-se totalmente influenciado pela área em que atua. Já o médico Felipe Werneck conta que não acredita que seu trabalho tenha ajudado nos investimentos que faz. De qualquer forma, o ser humano é um só e cada aprendizado pode ser levado para campos aparentemente diferentes. A metodologia e a racionalidade utilizadas na medicina podem transferidas para o aprendizado financeiro.
O diretor da Mercatto Gestão de Recursos, Paulo Veiga, especialista em investimentos, acredita que o mais importante para ter-se uma cultura financeira é o nível de formação sócio-econômico. “Quando se tem um grau de instrução maior, principalmente financeiro, fica mais fácil para o gestor perceber qual é o perfil do investidor”, diz.
poupança.Para ele, o ideal é que o investidor ao menos conheça as diferentes formas de formar poupança, para travar um diálogo com o profissional de investimento. “É importante que antes de investir se procure um profissional de confiança, que não seja de um banco, porque eles têm metas a cumprir e podem indicar investimentos que não sejam adequados”, aconselha. Para ele, quanto maior for o grau de escolaridade será esperado maior acesso a leitura e à conseqüente formação de uma camada de informação.
A cultura de investimentos começa no orçamento doméstico. Antes de querer investir, é preciso saber organizar as finanças, conhecer os juros pagos, definir metas de poupança.
O segundo passo é estudar e conhecer as possibilidades, para então procurar conselho de alguém mais experiente. Um curso básico sobre mercado financeiro também pode ajudar. A Bovespa, a Andima, o Instituto Nacional dos Investidores e diversas corretoras oferecem cursos.
Mas não é todo mundo que precisa procurar ajuda profissional de nível básico. O advogado societário Fernando Gammino conhece bem o funcionamento das empresas e a importância de práticas de governança corporativa. Isso ajudou na hora de investir em ações.
“Acredito que além da profissão em si, a área de atuação influenciou meus investimentos. Por trabalhar com direito societário, acabo me interessando pelo mercado de capitais e pelo histórico da Bolsa. Outros advogados acabam preferindo comprar imóveis ou aplicar em renda fixa”, comenta Gammino.
sem domínio.Já o médico Felipe Werneck tem uma visão bastante diferente quanto à influência da profissão sobre os investimentos. Com uma carteira diversificada entre ações, fundo de renda fixa, títulos públicos e debêntures, o médico começou a aplicar já na faculdade. Inicialmente, realizava os investimentos mais tradicionais.
“A medicina não me ajudou em nada. Pelo contrário, porque percebo que é muito comum médicos não terem sequer domínio sobre os gastos domésticos. É preciso ter cuidado com as finanças pessoais antes de querer investir”, conta Werneck.
Ele acredita que a medicina ajudou a ter cultura geral, mas não de investimentos. E este é ponto explicitado pelo especialista Paulo Veiga. A facilidade de aprendizado e o interesse por estudo são importantes para o desenvolvimento de cultura financeira, independentemente da área de atuação. Seja da área de ciências humanas, de ciências exatas, tenha ou não ensino superior. O importante é interesse e estudo sobre o mundo dos investimentos, além é claro da organização financeira.
“Duas pessoas com a mesma cultura, com o mesmo nível de formação, mas com nível de poupança diferenciados, vão precisar de investimentos diferenciados”, explica Veiga. É necessário, para ele, que se trace o perfil social, cultural, educacional, econômico e de apetite a risco antes de aplicar.
A educação familiar é mais um diferencial que pode ser decisivo para determinar o perfil de um investidor. Experiências como a da diretora financeira da Business Professional Women do Rio de Janeiro (BPW-Rio) Eliana Bussinger, que acostuma os filhos desde cedo ao sobe-e-desce do mercado financeiro, podem ser determinantes para o perfil dos futuros investidores.
“As pessoas agem dentro de uma família. Acredito que uma parte da relação das pessoas com o dinheiro e com os investimentos seja passada de geração para geração, com a educação dentro de casa”, diz a psicóloga Sandra Jessula, especialista em terapia familiar.
A especialista pondera que não apenas os ensinamentos diretamente ligados a investimento serão transformados em experiências muitas vezes usadas no futuro. De acordo com Sandra, situações corriqueiras podem ser determinantes para o perfil que a criança terá como investidor no futuro.
“Limites em excesso tendem a criar um adulto mais cauteloso, que se sentirá pouco à vontade para arriscar. Enquanto uma criança mais livre e atirada tem mais chance de se tornar um investidor ousado, sem medo de perder. Não fiz uma pesquisa específica sobre isso, mas acredito que esse comportamento deve ser observado também no mercado financeiro”, acrescenta a psicóloga.
Sandra lembra que a educação financeira nem sempre é passada pelos pais. Em muitos casos os avós ou primos mais velhos e bem sucedidos servem como espelhos para as crianças. O principal, segundo a psicóloga, é o incentivo para que as crianças ousem.
“Se a criança arrisca, ela deve ser apoiada porque isso vai ser bom para ela no futuro. Nem sempre o funcionário mais obediente é o melhor funcionário”, ressalta Sandra.
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro - 16/04/2007
A escolha do investimento mais adequado passa por diversas esferas. A profissão do aplicador pode ser determinante na formação da carteira de investimentos. Se o ofício for de uma área muito distante, poderá parecer não existir influência direta. Na advocacia, por exemplo, existem áreas que podem acabar direcionando as aplicações. O advogado societário Fernando Gammino diz-se totalmente influenciado pela área em que atua. Já o médico Felipe Werneck conta que não acredita que seu trabalho tenha ajudado nos investimentos que faz. De qualquer forma, o ser humano é um só e cada aprendizado pode ser levado para campos aparentemente diferentes. A metodologia e a racionalidade utilizadas na medicina podem transferidas para o aprendizado financeiro.
O diretor da Mercatto Gestão de Recursos, Paulo Veiga, especialista em investimentos, acredita que o mais importante para ter-se uma cultura financeira é o nível de formação sócio-econômico. “Quando se tem um grau de instrução maior, principalmente financeiro, fica mais fácil para o gestor perceber qual é o perfil do investidor”, diz.
poupança.Para ele, o ideal é que o investidor ao menos conheça as diferentes formas de formar poupança, para travar um diálogo com o profissional de investimento. “É importante que antes de investir se procure um profissional de confiança, que não seja de um banco, porque eles têm metas a cumprir e podem indicar investimentos que não sejam adequados”, aconselha. Para ele, quanto maior for o grau de escolaridade será esperado maior acesso a leitura e à conseqüente formação de uma camada de informação.
A cultura de investimentos começa no orçamento doméstico. Antes de querer investir, é preciso saber organizar as finanças, conhecer os juros pagos, definir metas de poupança.
O segundo passo é estudar e conhecer as possibilidades, para então procurar conselho de alguém mais experiente. Um curso básico sobre mercado financeiro também pode ajudar. A Bovespa, a Andima, o Instituto Nacional dos Investidores e diversas corretoras oferecem cursos.
Mas não é todo mundo que precisa procurar ajuda profissional de nível básico. O advogado societário Fernando Gammino conhece bem o funcionamento das empresas e a importância de práticas de governança corporativa. Isso ajudou na hora de investir em ações.
“Acredito que além da profissão em si, a área de atuação influenciou meus investimentos. Por trabalhar com direito societário, acabo me interessando pelo mercado de capitais e pelo histórico da Bolsa. Outros advogados acabam preferindo comprar imóveis ou aplicar em renda fixa”, comenta Gammino.
sem domínio.Já o médico Felipe Werneck tem uma visão bastante diferente quanto à influência da profissão sobre os investimentos. Com uma carteira diversificada entre ações, fundo de renda fixa, títulos públicos e debêntures, o médico começou a aplicar já na faculdade. Inicialmente, realizava os investimentos mais tradicionais.
“A medicina não me ajudou em nada. Pelo contrário, porque percebo que é muito comum médicos não terem sequer domínio sobre os gastos domésticos. É preciso ter cuidado com as finanças pessoais antes de querer investir”, conta Werneck.
Ele acredita que a medicina ajudou a ter cultura geral, mas não de investimentos. E este é ponto explicitado pelo especialista Paulo Veiga. A facilidade de aprendizado e o interesse por estudo são importantes para o desenvolvimento de cultura financeira, independentemente da área de atuação. Seja da área de ciências humanas, de ciências exatas, tenha ou não ensino superior. O importante é interesse e estudo sobre o mundo dos investimentos, além é claro da organização financeira.
“Duas pessoas com a mesma cultura, com o mesmo nível de formação, mas com nível de poupança diferenciados, vão precisar de investimentos diferenciados”, explica Veiga. É necessário, para ele, que se trace o perfil social, cultural, educacional, econômico e de apetite a risco antes de aplicar.
A educação familiar é mais um diferencial que pode ser decisivo para determinar o perfil de um investidor. Experiências como a da diretora financeira da Business Professional Women do Rio de Janeiro (BPW-Rio) Eliana Bussinger, que acostuma os filhos desde cedo ao sobe-e-desce do mercado financeiro, podem ser determinantes para o perfil dos futuros investidores.
“As pessoas agem dentro de uma família. Acredito que uma parte da relação das pessoas com o dinheiro e com os investimentos seja passada de geração para geração, com a educação dentro de casa”, diz a psicóloga Sandra Jessula, especialista em terapia familiar.
A especialista pondera que não apenas os ensinamentos diretamente ligados a investimento serão transformados em experiências muitas vezes usadas no futuro. De acordo com Sandra, situações corriqueiras podem ser determinantes para o perfil que a criança terá como investidor no futuro.
“Limites em excesso tendem a criar um adulto mais cauteloso, que se sentirá pouco à vontade para arriscar. Enquanto uma criança mais livre e atirada tem mais chance de se tornar um investidor ousado, sem medo de perder. Não fiz uma pesquisa específica sobre isso, mas acredito que esse comportamento deve ser observado também no mercado financeiro”, acrescenta a psicóloga.
Sandra lembra que a educação financeira nem sempre é passada pelos pais. Em muitos casos os avós ou primos mais velhos e bem sucedidos servem como espelhos para as crianças. O principal, segundo a psicóloga, é o incentivo para que as crianças ousem.
“Se a criança arrisca, ela deve ser apoiada porque isso vai ser bom para ela no futuro. Nem sempre o funcionário mais obediente é o melhor funcionário”, ressalta Sandra.
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