Meios de Comunicação e a tomada de decisão
Interessante artigo de Aquiles Mosca, publicado no Valor Econômico, sobre a influência dos meios de comunicação na decisão financeira:
Os meios de comunicação e a influência na tomada de decisão
Aquiles Mosca
A teoria comportamental, mais precisamente a teoria do aprendizado, detalha condições comuns ao processo de formação de expectativas e a conseqüente mudança de atitude dos indivíduos quando estes observam o comportamento de pessoas tidas como formadoras de opinião, indivíduos que a ciência social chama de "modelos de comportamento". Segundo essa teoria, o observador tende dar maior peso e seguir as recomendações de outro indivíduo se este possuir qualidades que o observador considerar como desejáveis.
As implicações de tal teoria para o mercado financeiro foram expostas por um estudo da Escola de Gestão Kellogg da Universidade Northwestern. No estudo "Is the Market Mad?", os pesquisadores tomam por base o popular programa de TV "Mad Money", exibido pela CNBC no qual o apresentador Jim Cramer, ex-gestor de hedge funds, faz recomendações de investimentos no mercado acionário. A audiência do programa atualmente está na casa dos 300 mil espectadores.
No estudo, os pesquisadores acompanharam as movimentações dos papéis que foram alvo de recomendações (retorno, volume negociado, variações máximas e mínimas, etc). Uma das conclusões foi que as recomendações de compra para determinados papéis tiveram impacto estatisticamente significativo no comportamento dos preços desses ativos no dia subseqüente ao programa. Na média, a alta dessas ações foi de 2%, ao passo que as menos líquidas chegaram a observar variações de até 5% na comparação com o pregão anterior. Ainda segundo o estudo, no período de análise, as altas não puderam ser associadas a nenhuma notícia que por ventura pudesse causar alterações de preços, como divulgação de dividendos, fechamentos de novos contratos ou outros fatores que pudessem causar movimento das cotações. Esses fatores simplesmente não ocorreram no período.
Dessa forma, o estudo sugere que uma parcela não desprezível de espectadores do programa "Mad Money" estão de fato seguindo à risca as recomendações do apresentador ou, na linguagem da ciência social, estão seguindo seu modelo de comportamento. Por fim, o estudo revelou que, dada à natureza frágil do movimento de alta, tais valorizações tiveram curta duração, sendo diluídas 12 dias após a recomendação inicial. O fato de as recomendações não possuírem embasamento em fatores fundamentais do modelo de negócios das empresas revelam a baixa longevidade do movimento de alta. Assim, temos alguma evidência que o comportamento irracional de alguns investidores pode criar padrões coletivos previsíveis, cujas conseqüências têm influência significativa a curto prazo sobre os preços de certos ativos.
Podemos observar no mercado brasileiro algum fenômeno semelhante? Há algum modelo de comportamento em nosso meio financeiro cuja força pode condicionar o comportamento de determinados investidores e afetar os preços dos ativos?
Tomemos as principais manchetes das reportagens de finanças veiculadas no Brasil no primeiro dia útil nos últimos dez meses (de janeiro a outubro). Dado que a maioria dos investidores brasileiros avalia mensalmente a performance dos principais ativos, observar as matérias dedicadas a investimentos pessoais na virada do mês pode sugerir em que direção tenderá a mover-se o comportamento do investidor. Assim, essas publicações poderiam desempenhar o papel de modelo de comportamento.
Vale mencionar que no último congresso da Anbid, a pesquisa "Radiografia do Investidor de Fundos no Brasil" revelou que tais publicações são responsáveis pela tomada de decisão de investimento de 45% dos investidores pessoa física. Nesse aspecto, os dados divulgados pela Bovespa permitem verificar que o volume aplicado por investidores do varejo na Bovespa de fato teve comportamento crescente no período subseqüente à veiculação de matérias com tom positivo no que tange à rentabilidade observada por essas aplicações (janeiro e fevereiro, abril e julho).
Uma parcela de tais aplicadores efetuou uma análise das empresas para fazer as aplicações. No entanto, uma parcela efetuou investimentos em ações devido ao que a teoria financeira comportamental chama de representatividade, ou atribuição de uma probabilidade a um evento futuro com base em fatos e notícias observadas no presente. Para formar expectativas, tendemos a dar maior importância a informações recentemente recebidas e oriundas de fontes que consideramos sólidas. Logo, uma alta observada hoje é percebida por muitos investidores individuais como algo que tende a se propagar no futuro. Tal percepção pode resultar em movimentos de compras durante períodos de alta recente e resultar em compras a preços elevados. No entanto, abre a oportunidade para o investidor explorar desvios nas tendências indicadas pelos fundamentos para os preços dos principais ativos.
Aquiles Mosca é estrategista de investimentos pessoais da ABN Amro Asset Management
E-mail aquiles.mosca@br.abn amro.com)
Os meios de comunicação e a influência na tomada de decisão
Aquiles Mosca
A teoria comportamental, mais precisamente a teoria do aprendizado, detalha condições comuns ao processo de formação de expectativas e a conseqüente mudança de atitude dos indivíduos quando estes observam o comportamento de pessoas tidas como formadoras de opinião, indivíduos que a ciência social chama de "modelos de comportamento". Segundo essa teoria, o observador tende dar maior peso e seguir as recomendações de outro indivíduo se este possuir qualidades que o observador considerar como desejáveis.
As implicações de tal teoria para o mercado financeiro foram expostas por um estudo da Escola de Gestão Kellogg da Universidade Northwestern. No estudo "Is the Market Mad?", os pesquisadores tomam por base o popular programa de TV "Mad Money", exibido pela CNBC no qual o apresentador Jim Cramer, ex-gestor de hedge funds, faz recomendações de investimentos no mercado acionário. A audiência do programa atualmente está na casa dos 300 mil espectadores.
No estudo, os pesquisadores acompanharam as movimentações dos papéis que foram alvo de recomendações (retorno, volume negociado, variações máximas e mínimas, etc). Uma das conclusões foi que as recomendações de compra para determinados papéis tiveram impacto estatisticamente significativo no comportamento dos preços desses ativos no dia subseqüente ao programa. Na média, a alta dessas ações foi de 2%, ao passo que as menos líquidas chegaram a observar variações de até 5% na comparação com o pregão anterior. Ainda segundo o estudo, no período de análise, as altas não puderam ser associadas a nenhuma notícia que por ventura pudesse causar alterações de preços, como divulgação de dividendos, fechamentos de novos contratos ou outros fatores que pudessem causar movimento das cotações. Esses fatores simplesmente não ocorreram no período.
Dessa forma, o estudo sugere que uma parcela não desprezível de espectadores do programa "Mad Money" estão de fato seguindo à risca as recomendações do apresentador ou, na linguagem da ciência social, estão seguindo seu modelo de comportamento. Por fim, o estudo revelou que, dada à natureza frágil do movimento de alta, tais valorizações tiveram curta duração, sendo diluídas 12 dias após a recomendação inicial. O fato de as recomendações não possuírem embasamento em fatores fundamentais do modelo de negócios das empresas revelam a baixa longevidade do movimento de alta. Assim, temos alguma evidência que o comportamento irracional de alguns investidores pode criar padrões coletivos previsíveis, cujas conseqüências têm influência significativa a curto prazo sobre os preços de certos ativos.
Podemos observar no mercado brasileiro algum fenômeno semelhante? Há algum modelo de comportamento em nosso meio financeiro cuja força pode condicionar o comportamento de determinados investidores e afetar os preços dos ativos?
Tomemos as principais manchetes das reportagens de finanças veiculadas no Brasil no primeiro dia útil nos últimos dez meses (de janeiro a outubro). Dado que a maioria dos investidores brasileiros avalia mensalmente a performance dos principais ativos, observar as matérias dedicadas a investimentos pessoais na virada do mês pode sugerir em que direção tenderá a mover-se o comportamento do investidor. Assim, essas publicações poderiam desempenhar o papel de modelo de comportamento.
Vale mencionar que no último congresso da Anbid, a pesquisa "Radiografia do Investidor de Fundos no Brasil" revelou que tais publicações são responsáveis pela tomada de decisão de investimento de 45% dos investidores pessoa física. Nesse aspecto, os dados divulgados pela Bovespa permitem verificar que o volume aplicado por investidores do varejo na Bovespa de fato teve comportamento crescente no período subseqüente à veiculação de matérias com tom positivo no que tange à rentabilidade observada por essas aplicações (janeiro e fevereiro, abril e julho).
Uma parcela de tais aplicadores efetuou uma análise das empresas para fazer as aplicações. No entanto, uma parcela efetuou investimentos em ações devido ao que a teoria financeira comportamental chama de representatividade, ou atribuição de uma probabilidade a um evento futuro com base em fatos e notícias observadas no presente. Para formar expectativas, tendemos a dar maior importância a informações recentemente recebidas e oriundas de fontes que consideramos sólidas. Logo, uma alta observada hoje é percebida por muitos investidores individuais como algo que tende a se propagar no futuro. Tal percepção pode resultar em movimentos de compras durante períodos de alta recente e resultar em compras a preços elevados. No entanto, abre a oportunidade para o investidor explorar desvios nas tendências indicadas pelos fundamentos para os preços dos principais ativos.
Aquiles Mosca é estrategista de investimentos pessoais da ABN Amro Asset Management
E-mail aquiles.mosca@br.abn amro.com)