segunda-feira, julho 31, 2006

Macaco Cebus


O macaco Cebus é também chamado de capuchino por lembrar os freis capuchinhos da igreja católica. Em certos lugares é conhecido como mico.

Ele é encontrado na América Central e na América do Sul, inclusive Brasil. Esse macaco mede entre 30 a 56 cm e pesa em torno de 1,3 kg. É um macaco que vive em árvores e possui como inimigos os falcões, as cobras e os gatos. O Cebus alimenta-se de frutas, insetos, aranhas, ovos de pássaros e pequenos vertebrados.

O Cebus é considerado um dos macacos mais inteligentes e por essa razão tem sido utilizado em pesquisas em laboratórios. Em Boston, o Cebus tem sido treinado para ajudar quadriplégicos, da mesma forma de cachorros.

Qual a relação do Cebus com a contabilidade financeira?

Durante muitos anos os especialistas de finanças comportamentais atribuiram muita atençaõ a conceitos como aversão à perda e dependência de referência (reference-dependence). Além deles, os estudiosos de sociologia e psicologia também davam uma atenção especial a esses conceitos. Um pressuposto do uso desses conceitos era que sua aplicação ocorria na sociedade humana. Até o momento tem sido comum associar os conceitos de finanças aos sentidos do homem.

Três pesquisadores da Yale University, Keith Chen, Venkat Lakshminarayanan e Laurie Santos, questionaram se certos comportamentos considerados como viés do ser humano talvez possa ser inato a outros seres. Os pesquisadores utilizaram cinco Cebus, sendo dois machos. Além disso, somente dois dos animais possuía vínculo genético.

A analise dos pesquisadores mostrou que é possível afirmar que as decisões do Cebus são parecidas com a dos seres humanos no que diz respeito a aversão à perda. Desse modo o Cebus também não gosta de perder, sendo algo talvez inato aos ancestrais.

Maximizar resultado é sempre utilizado?

Pesquisa em Contabilidade Financeira

Uma típica pesquisa na área de contabilidade financeira procura estabelecer como usuário irá reagir em determinadas situações. Para isso, os pesquisadores procuram estabelecer variáveis relevantes para seu estudo e determinar qual a reação do usuário.

Uma forma fácil de analisar essa reação é através do comportamento dos preços no mercado de capitais. Considere a seguinte situação para exemplificar: um pesquisador acredita que o anúncio de uma negociação por parte de uma empresa possa afetar a forma como o usuário percebe a empresa, sendo importante para análise. A partir desse ponto, o analista pode buscar na história das empresas situações onde esse fato ocorreu e verificar se o mercado reagiu a essa notícia.

O problema é que nosso mercado de capitais não é suficientemente grande para fazer algumas pesquisas interessantes como, por exemplo, o impacto de anúncio de investimento em P&D, influencia da retirada de um executivo ou alteração do método de avaliação de estoques.

Uma alternativa é buscar através de estudo de caso. A técnica do estudo de caso não permite, no entanto, que se faça inferências mais genéricas sobre um determinado assunto.

Uma saída interessante que a temática de finanças comportamentais está utilizando é através de perguntas relacionadas ao tema que se deseja investigar para pessoas comuns. Apesar de muitas vezes não reproduzir uma situação típica de mercado, os questionários apresentam conclusões interessantes.

Se o objetivo é verificar como se comporta um determinado indivíduo diante um processo decisório outras fontes podem ser utilizadas.

David Romer, um pesquisador da University of California, fez uma pesquisa interessante sobre a maximização das empresas. Esse é um tema de interesse não somente da contabilidade financeira, mas também da economia e de finanças. A base de dados para sua discussão foi a parte mais interessante do seu trabalho: o futebol americano. Romer analisou como os indíviduos se comportam diante de uma situação de risco e visando a maximização de resultados.

Para sua pesquisa, utilizou a decisão de técnicos de futebol americano para mostrar que esses indivíduos tendem a ser conservadores mesmo atuando num ambiente onde a permanência no emprego não é garantido (não é só no futebol brasileiro que isso ocorre). Entre duas estratégias, uma conservadora, mas com pouca chance de vitória, e outra mais "radical", onde a probabilidade é maior, os técnicos preferem a alternativa padrão, mesmo que não seja a melhor.

Confesso que a pesquisa de Romer fica sem sentido para nós que não conhecemos/entendemos o futebol americano. Mas para quem quer dar uma olhada, veja também os comentários do sítio
Statiscal Modeling, Causal Inference, and Social Science e no sítio Marginal Revolution (4 de Maio)

Quanto menos informação, melhor

Quanto menos informação, melhor

Publicado no jornal Valor Econômico, cita uma pesquisa que afirma que "quanto menos informação, melhor". Comenta uma pesquisa realizada nos Estados Unidos e é muito interessante. Enviado por Ricardo Vianna.

Quanto menos informação, melhor a decisão de investimento
Aquiles Mosca
11/07/2006

Via de regra, aceitamos sem questionar que quanto mais informação tivermos, maior é a probabilidade de que uma dada decisão seja acertada, sobretudo se tais informações forem apresentadas de maneira lógica e sistemática. No entanto, em diferentes campos de estudo, que variam da medicina ao comportamento de consumidores, passando por decisões de investimentos, há ampla evidência de que a maior parte de decisões acertadas são feitas com base em um conjunto bastante limitado, porém altamente relevante, de poucas informações.

Para a maioria dos profissionais é difícil admitir que tal afirmação seja verdadeira e provavelmente ninguém sofre mais com isso que os economistas (grupo do qual também faço parte), para quem o domínio das relações de causa e efeito, de variáveis endógenas e exógenas e uma pretensa capacidade de organizar o caos econômico conferem uma aura de sabedoria.

O estudo conduzido por Stuart Oskamp, professor emérito de ciência do comportamento da Universidade de Stanford, pode ajudar a compreender a mecânica mental e a conseqüência comportamental que dão validade à afirmação de que na hora de tomar decisão, menos informação pode valer muito mais. Oskamp reuniu um grupo de psiquiatras e psicólogos aos quais foi colocado o desafio de traçar o perfil de um indivíduo de 29 anos e veterano de guerra de nome Joseph Kidd.

Na primeira fase, apenas informações básicas, como idade, cidade de origem, profissão dos pais, etc, foram disponibilizados. Na segunda fase, Oskamp forneceu uma página e meia com informações relativas à infância de Joseph, seguidas na terceira fase por informações sobre os anos de Joseph no colegial e faculdade. Por fim, na quarta e última fase, o grupo de analistas recebeu informações detalhadas sobre o tempo de Joseph no exército e em outras atividades. Após cada fase, os analistas tinham de responder um questionário de múltipla escolha sobre a vida de Joseph.

Oskamp descobriu que, quanto mais informação era fornecida aos analistas, maior era a crença desses na exatidão de suas avaliações. Esse aumento de confiança se tornava mais significativo quanto mais detalhes recebiam. No entanto, apesar dos próprios analistas julgarem estar cada vez mais precisos em suas avaliações, o que Oskamp verificou foi que a cada nova fase e inclusão de novas informações, o percentual de acerto permanecia consistentemente ao redor de 30% para todos os analistas, muitos dos quais respondiam de maneira diferente a mesma questão em fases distintas.

Ou seja, conforme recebemos mais e mais informações, a certeza na exatidão de avaliações torna-se fora de proporção se comparada com a exatidão das decisões efetivamente tomadas. Para o universo dos investimentos, tal estudo e suas conclusões colocam grandes questionamentos. Há um risco não desprezível de ao coletar e analisar um número crescente de informações (o que é perfeitamente compreensível dada a complexidade dos sistemas econômicos) acaba-se por gerar uma situação onde o volume de dados é tal que uma parcela significativa das informações ou é irrelevante para a decisão a ser tomada ou somos simplesmente incapazes de processá-las de tal forma que contribuam positivamente para a qualidade de decisão. No entanto, fazem com que seja muito maior o grau de conforto e a confiança sob o qual a decisão é feita.

Há uma grande ironia em tudo isso: o desejo de gerar confiança é exatamente o que acaba minando a qualidade da decisão tomada. Acaba-se alimentado com mais dados e informações, muitas delas irrelevantes, um sistema mental que muitas vezes já se encontra congestionado.

O mercado financeiro não está imune a essa tendência comportamental. Ganha espaço a avaliação de que o fator fundamental para o sucesso das decisão de alocação, seleção de ativos e momento mais adequado de montar posições nos diversos mercados parece estar baseado na identificação das teses de mercado, isto é, a convergência da expectativas dos agentes para uns poucos temas que acabam conduzindo os movimentos das cotações dos principais ativos. No período atual, tal tese é de que há um risco global de que o período recente de bonança nos mercados poderá ser ameaçado pela continuidade do ciclo de aperto monetário nos EUA. Esse fator tem ditado o rumo dos mercados há alguns meses e o investidor que concentrou com antecedência o foco de sua atenção nesse componente do mercado, desconsiderando demais informações que possam poluir seu processo decisório, certamente teve mais sucesso que seus concorrentes, ao menos até que tal tese, e a conseqüente convergência de expectativas, sofra nova mudança de foco.

Aquiles Mosca é economista e estrategista de investimentos pessoais do ABN Amro Asset Management

Deformações e Assimetrias

Deformações e Assimetrias

8 de Março de 2005 - No livro "Profiting from Chaos" (McGraw-Hill; NY; 1994), o físico Tonis Vaga traça uma curiosa analogia entre o golfe e o comportamento dos mercados financeiros. Em primeiro lugar, ele analisa as variáveis envolvidas na execução de um "putt", uma tacada leve e de precisão, executada no "green", com o intuito de colocar a bola no buraco. Segundo Vaga, a dispersão desta jogada em torno do objetivo obedece a uma distribuição normal, aonde as variáveis determinantes, como o alinhamento do taco, o tipo de grama, a inclinação do terreno e eventuais deformações no "green" causadas pelo uso têm uma influência linear na trajetória da bola, e podem ser eficientemente neutralizadas pelos profissionais. Já o "drive", uma tacada forte e longa, executada no "fairway", está sujeita a fatores que levarão a uma dispersão não-linear nas trajetórias observadas, e darão origem a uma distribuição bi-modal (assimétrica). Quanto mais forte for o golpe, maior será a deformação temporária da bola, e o spin (efeito da bola girando sobre si mesma). Estes dois fatores juntos potencializam qualquer erro no alinhamento do taco em relação à bola, e tornam a trajetória de um "drive" imprevisível.

O mais interessante é que existe um viés pessoal, já que a bola de alguns jogadores desvia com mais freqüência para a esquerda (hook) e de outros para a direita (slice). O campeão Jack Nicklaus, cujo "drive" sempre foi considerado um exemplo de consistência, utilizava constantemente uma técnica chamada "fade", que consiste em "abrir" ligeiramente o ângulo do taco em relação à bola, e alinhar a posição do corpo e o taco, um pouco à esquerda do objetivo desejado, fazendo com que o efeito que a bola pega para a direita minimize a imprevisibilidade da tacada e virtualmente elimine a possibilidade de um "hook". Quando o objetivo é evitar que a bola desvie para a direita (slice), a jogada indicada é o "draw", que é quase simétrica ao "fade", sendo que a trajetória da bola é mais curta e mais baixa.

A utilização de técnicas como o "fade" e o "draw" não eliminam o risco de dispersão, mas permitem ao golfista profissional trazer alguma "coerência" à aparente imprevisibilidade do jogo, e possibilitam a implementação de uma estratégia, cuja meta é fazer com que as chances passem a ficar do seu lado. E isto só é obtido com um profundo entendimento dos fatores de risco, e das variáveis que podem interferir no resultado.

Daniel Kahneman, professor de Psicologia da Universidade de Princeton, e ganhador do prêmio Nobel de Economia (?!) de 2002, em uma de suas palestras no World Economic Forum (2002) levantou a seguinte questão: "Se a tentativa de obter lucro nos mercados financeiros é perda de tempo, como afirma a teoria econômica tradicional, por que tantos investidores fazem fila para comprar o que os outros querem vender?" Segundo ele, estudantes de introdução à mecânica newtoniana aprendem o comportamento dos corpos físicos, num mundo sem atrito, e estudantes de introdução à economia aprendem sobre o comportamento dos mercados, num mundo povoado por agentes racionais, "dotados de uma perfeita habilidade para utilizar informação incompleta".

Segundo ele, "o não uso do atrito e dos limites da racionalidade dão origem a uma matemática elegante e à simplicidade das leis, tanto para a física quanto para as ciências econômicas. Mas uma diferença surge quando as teorias são aplicadas no mundo real. O atrito dificilmente será ignorado pelos engenheiros que constróem estradas, enquanto as limitações à racionalidade são normalmente deixadas de lado pelos engenheiros sociais (economistas)".

As idéias acima são a base de uma teoria, desenvolvida por Kahneman em parceria com o também psicólogo Amos Tversky, chamada de "Prospect Theory" (Teoria da Perspectiva). Segundo Kahneman, uma das características da percepção humana em relação ao risco é que pequenas amostras de dados são interpretadas como sendo representativas de todas as possibilidades de ocorrências, fenômeno conhecido como "Lei dos Pequenos Números". Ao que ele também se refere como "excesso de confiança, na habilidade de identificar propriedades estruturais, a partir da observação de uma limitada seqüência de fatos", um viés que induz à "interpretação de eventos de pequena probabilidade, como eventos de probabilidade igual a zero, ignorando que pequenas probabilidades se acumulam com a inclusão de novos eventos, e podem com o passar do tempo levar à catástrofe".

Este conceito veio chamar a atenção para um viés estatístico, comum nos mercados financeiros, chamado de "Skewness Negativo" (ver gráfico). Este tipo de assimetria acontece a partir da utilização, por parte de gestores de carteiras e fundos, de estratégias de trading, com uma grande probabilidade de ganhar pouco e uma pequena probabilidade de perder muito. E confirma, desta forma, a observação de que os gestores, em sua maioria, optam por estratégias que apresentam ganhos pequenos e regulares, mesmo que correndo o risco de uma eventual perda substancial. Existe, inclusive, boa evidência empírica confirmando este fenômeno, já que um grande número de fundos, anteriormente reconhecidos por sua consistência em gerar retornos, acabaram tendo perdas significativas, como: Long Term Capital, Manhattan Fund, Granite Fund, Tiger Management, Fenchurch Capital, V. Niederhoffer, D.E. Shaw, etc...

Uma interpretação curiosa, apesar de relativamente psicótica, deste viés, foi apresentada por Nassim Taleb no livro "Fooled by Randomness" (Texere; 2004), e aponta como provável causa para o "Skewness Negativo" a fraude (Moral Hazard) ou má fé. E especula que um gestor de recursos de terceiros, motivado pelo fato de a periodicidade do pagamento de "performances fees" ser inferior à periodicidade de ocorrência de eventos de grande magnitude que podem causar grandes perdas, tende a priorizar estratégias que criem uma ilusão de previsibilidade para o investidor, através da obtenção de um fluxo "quasi" constante de retornos positivos.

Exemplos muito populares de eventos, que apresentam a assimetria de risco descrita acima são: venda de opções de compra cobertas (Covered call writing); venda de opções "longe do preço de exercício" (Out-of-the-money); empréstimos a taxas de juros exorbitantes; taxas de câmbio fixas; operações de arbitragem estatística; operações de arbitragem entre ativos correlacionados; operações de arbitragem de taxas de juros entre moedas; percepção do automóvel como meio de transporte mais seguro que o avião; venda de prêmios de seguro; medo de usinas nucleares; etc...

Fica claro na análise de Kahneman que há um viés simplificador nas "escolhas" feitas pelos agentes econômicos, que não se enquadra no perfil de "racionalidade e maximização de utilidade e retorno", essenciais à teoria econômica tradicional. Esta impulsividade nas tomadas de decisão se adequa melhor ao perfil, traçado pelos biólogos, de um homem caçador e coletador, em constante luta pela sobrevivência e em competição com o meio ambiente, aonde o cérebro necessita de respostas rápidas para o risco representado por outros predadores, pelo próprio homem e pela necessidade de obtenção de alimento em bases diárias.

Portanto, é perceptível que a teoria econômica ortodoxa se baseia em hipóteses simplistas, que, além de buscarem objetivos estéticos, permitirão a utilização de uma metodologia linear na busca das soluções.

A melhor forma, no entanto, de lidar com sistemas complexos que apresentam assimetrias e comportamento não-linear é através de métodos probabilísticos que utilizam computação intensiva. E que terão como objetivo dimensionar e identificar com robustez os verdadeiros fatores de risco, e perseguir uma linha de ação que vá tirar proveito das características inerentes ao sistema. E não, ignorar algumas características fundamentais, e escolher um pequeno número de variáveis lineares com o fim de "modelar" a complexidade observada, através do uso de uma matemática simples e elegante, e papel e lápis, para a obtenção de um resultado "ótimo".

É através do reconhecimento dos limites da racionalidade, e do aperfeiçoamento de estratégias e técnicas eficientes, como é feito no golfe, que será possível controlar, gerenciar e minimizar a imprevisibilidade e o risco envolvidos no processo decisório, em ambientes e situações em que o nosso entendimento é reconhecidamente limitado e imperfeito.

((Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Luiz Alfredo A. Rangel - ) Economista e consultor em Controle de Riscos e Métodos QuantitativosEspecial para a Gazeta MercantilE-mail: artmann@gazetamercantil.com.br)

Comportamento irracional traz perdas e oportunidades

Comportamento irracional
Reportagem recente do Valor sobre finanças comportamentais

Comportamento irracional traz perdas e oportunidades
Mara Luquet
29/05/2006

Mais do que nunca os partidários da escola comportamental estão conquistando adeptos no mercado de ações. Esses estudiosos estão convencidos de que as emoções - e não aspectos fundamentalistas de uma empresa ou de uma economia - é que estão no comando das decisões da média dos investidores. Eles tendem a reagir excessivamente a notícias boas ou ruins. Por isso, o efeito manada tem ocorrido com uma freqüência maior, deixando muitas vezes para trás os pilares da chamada "eficiência" do mercado.

O debate vem aumentando e, mesmo os partidários da eficiência do mercado, reconhecem que este é um fenômeno que não pode ser desconsiderado. Ao contrário. Tanto investidores como administradores de empresas têm de considerar esse aspecto em suas rotinas de trabalho.

Um estudo da consultoria McKinsey divulgado recentemente com considerações sobre os efeitos da atitude irracional de investidores também aponta algumas oportunidades para os executivo de empresas cujas ações tenham sido alvo de euforia ou nervosismo do mercado. No trabalho, assinado por Marc Goedhart, Timothy Koller e David Wessels, os estudiosos dizem que um momento de alta ou queda irracional dos preços das ações pode ser interessante para que o executivo da empresa considere algumas atitudes estratégicas.

Um exemplo é emitir ações quando os preços estão com alta que supera o valor intrínseco da empresa ou ainda aproveitar esses momentos para fazer aquisição de outros ativos utilizando as ações da empresa como moeda em lugar do desembolso de recursos. Já se os preços estão muito depreciados de forma irracional, o melhor é iniciar um programa de recompra das ações.

Para eles, é certo que o comportamento irracional do investidor leva o mercado para direções na maior parte das vezes errada, pressionando excessivamente o preço de uma ação tanto para cima como para baixo. Para os administradores dessas empresas, a questão crítica é saber com que freqüência esses desvios ocorrem, quando eles acontecem e se são significantes o bastante para afetar o processo de decisão de investimentos da empresa.

Já para você investidor, conhecer esse fenômeno e ficar atento as suas ocorrências é importante, basicamente porque ele pode proporcionar excelentes negócios tanto na hora de vender suas ações (aproveitando os momentos de alta irracional) quanto para recompor sua carteira de investimentos em momentos de nervosismo exagerado.

Afinal, isso é o que todos procuram: as ações baratas. Pois comprar uma ação barata é garantia de lucro, às vezes lucros enormes, capazes de construir fortunas ao longo do tempo.

No entanto, não se engane. O fato de o preço de uma ação estar baixo não significa que ela está barata. Os chamados investidores do contra ("contrarian investors") adoram esses momentos porque o que eles gostam é exatamente de ir contra o mercado. Assim, eles se dispõem a comprar uma ação depois de um declínio sustentado do preço, na expectativa de uma retomada. "Eles acreditam que uma ação que tenha perdido de 80% a 90% de seu preço no pico tem muito mais chances de ser uma pechincha", diz o professor Aswath Damodaran no livro "Mitos de Investimentos", editado no Brasil pela Prentice Hall.

Mas Damodaran adverte que a bonança depois da tempestade não é uma regra. Montar uma estratégia que foque apenas em ações perdedoras tem um risco elevado que não deve ser desprezado. Assim, diz Damodaran, é necessário uma análise mais acurada e o investidor deve colocar alguns filtros para formar essa carteira. Um deles que pode ser bastante útil nessa estratégia é o que ele chama de catalisadores de melhorias.

Por esse filtro, o investidor deve escolher entre as ações perdedoras apenas aquelas de empresas com resultados positivos no último trimestre e com aumento do lucro no exercício anterior. "A idéia, aqui, é a de que empresas que estejam ganhando dinheiro não apenas são de menor risco, como também têm mais liberdade para realizar as mudanças necessárias para chegar a um estado saudável", diz Damodaran.

Mara Luquet é editora da revista ValorInveste e autora do Guia Valor Econômico para o Planejamento da Aposentadoria

Enviado por Ricardo Vianna

Cilada Emocional

Cilada Emocional

Reportagem enviada por Ricardo Viana, publicada no Jornal Valor Econômico:

Cilada emocional
Por Catherine Vieira
20/06/2006

O empresário Hélio do Amaral começou a investir em ações há cerca de três anos, como forma de turbinar a renda de sua futura aposentadoria. Até maio, com a animadora seqüência de altas no mercado local, ele nunca precisou rever a estratégia. Com as turbulências iniciadas em maio, porém, o temor de colocar o futuro em risco assustou Amaral. Assim como milhares de investidores individuais, que passaram a abarrotar os chats na internet e as centrais telefônicas das corretoras, ele se viu diante da necessidade de tomar uma decisão: é hora de vender ou devo manter minhas posições?

É justamente nestes momentos, de maior pressão, quando o assunto envolve decisões estratégicas, que os especialistas do comportamento humano alertam: cuidado com as armadilhas internas.

Quando o mercado passa por momentos de virada e os investidores precisam decidir o que fazer em relação ao novo cenário, ficam mais evidentes os fatores que mostram que os aplicadores não se comportam de forma puramente racional, lembra o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em finanças comportamentais Jurandir Sell Macedo. Eles são também influenciados pelas emoções e as chamadas "ilusões cognitivas". "Quem só conhece mercado em alta pode ter essa ilusão, mas a queda também faz parte da dinâmica e quem não convive bem com isso não deve investir em ações", diz.

Um artigo dos especialistas John Hammond, Ralph Keeney e Howard Raiffa na revista Harvard Busines Review enumerou as sete ciladas psicológicas que costumam atrapalhar gestores de negócios e carteiras na hora da decisão. A primeira das chamadas "armadilhas ocultas" é a que eles chamaram de efeito-âncora, que leva o investidor a dar um peso desproporcional à primeira informação recebida sobre determinado assunto. Já a armadilha do status quo mostra a tendência a manter a carteira ou posição como está, ainda que possam haver alternativas melhores, enquanto o problema do custo irrecuperável leva o investidor a perpetuar erros cometidos no passado por evitar realizar algum prejuízo. Outro vício é aquele que faz com que as pessoas tentem sempre buscar dados que confirmem suas teses e recusar dados que as refutam.

Há ainda a questão do excesso de confiança, que leva a superestimar a exatidão das próprias projeções ou de terceiros ou, ao contrário, a armadilha da prudência exagerada, que traz demasiada cautela na hora de prever eventos incertos. Por fim, há o efeito lembrança, que é uma espécie de trauma no qual o indivíduo acaba atribuindo um peso desmedido a eventos recentes e dramáticos.

Ao contrário do que ocorreu em outros momentos de volatilidade do passado, os investidores individuais revelam uma paciência maior com o sobe-e-desce. Isso também é explicado pela fase prolongada de altas do Índice Bovespa, que chegou a valer 8.500 pontos em 2002 e este ano, antes dos solavancos, foi perto dos 42.000 pontos. "Não vou dizer que não dá medo olhar o mercado em queda, o mercado está perigoso", diz o empresário Hélio Amaral. Cliente da Corretora Ativa, ele prefere continuar acompanhando de perto antes de tomar a decisão de vender. "Mas estou mais cauteloso, não dá para entrar em qualquer lançamento de ações, por exemplo."

O diretor de varejo da corretora Ágora Senior, Marcelo Smarrito, conta que os clientes aumentaram muito o volume de consultas e freqüência aos chats. "Mas em geral eles têm mantido as posições", conta o executivo.

Se as decisões tomadas hoje são acertadas é difícil saber, diz Macedo, da UFSC. Mas, pelo menos num ponto, o especialista acredita que a atitude atual dos investidores pode estar sendo mais positiva do que em outros momentos. "Não ser movido pelo pânico e não tentar vencer o mercado a todo momento já é um bom caminho, demonstra um maturidade maior do investidor brasileiro", diz. "O que os estudos de finanças comportamentais mostram é que bater o mercado, ou seja, os índices básicos, com consistência, é praticamente impossível", acrescenta.

O especialista americano Meir Statman, que esteve no Brasil no mês passado, lembrou que justamente dessa conclusão nasceram os chamados fundos de ações passivos, ou fundos de índice, que só reproduzem as carteiras teóricas dos índices.

De acordo com o especialista catarinense, muitos investidores tendem a acreditar que podem conseguir sempre superar o mercado, a começar por ele próprio, que também é consultor. " Eu tenho um perfil muito especulador e um dos clientes que eu assessoro é superconservador, quase não gira a carteira e gosta de bons dividendos ", conta Macedo. "Sempre achei que eu ganhava muito mais que ele e, um dia, coloquei na ponta do lápis e descobri que, num período de oito anos, minha carteira perdia em 3% para a dele".

Para se livrar das ciladas, os especialistas recomendam comprar devagar, vender devagar, não ficar suscetível a momentos de pânico e manter-se fiel aos objetivos. "Quem quer juntar dinheiro para comprar um apartamento por exemplo, quando a quantia já for suficiente, deve vender as ações e comprar o imóvel", diz Macedo. "Não se pode ceder à tentação de acreditar que a bolsa só sobe e ficar sempre tentando ganhar mais, assim como não se deve resistir a realizar um ganho menor porque surgiu uma queda", conclui.

Valor Econômico

Reportagem do Jornal Valor Econômico

Os parâmetros comportamentais do investidor brasileiro

Martin Casals Iglesias
Diz a lenda que no seu regresso à Espanha, Colombo foi convidado a um banquete, no qual vários comensais comentaram que não viam nenhuma façanha no que ele tinha feito, pois era evidente que dava para chegar às Índias navegando para o ocidente. Colombo pegou um ovo e desafiou os participantes a o colocassem em pé. Após muitas tentativas frustradas, Colombo pegou o ovo e o bateu levemente contra a mesa, provocando um pequeno achatamento que permitiu com que o mesmo ficasse em pé. "Óbvio, desse jeito eu também teria conseguido", disse um dos convidados, que ainda não percebera que aquilo não tinha sido um desafio, mas uma sutil resposta. Há coisas que parecem óbvias, fáceis ou até evidentes, depois de terem sido vistas, feitas ou ditas por alguém.

Uma coisa que intriga muita gente é a baixa exposição ao mercado acionário dos investidores locais. Uma das explicações mais freqüentes é de que no Brasil os investidores são muito conservadores e não estão dispostos a correr o risco do mercado acionário.

A teoria do prospecto de Daniel Kahneman descreve o comportamento do investidor em duas equações, montadas em função de parâmetros comportamentais. Certamente o mais importante deles é o coeficiente de aversão a perdas que Kahneman estimou em 2,25 num experimento realizado por ele em 1992, com alunos de Berkeley e Standford. O coeficiente quer dizer que a perda de uma unidade monetária gera desgosto que só pode ser compensado pelo ganho de 2,25 unidades.

Se de fato existisse algum viés comportamental que inibisse o investidor brasileiro a aplicar em ações, seria de esperar que os parâmetros da teoria do prospecto calculados no Brasil fossem diferentes dos obtidos nos EUA.

Para verificar isso, fui até o laboratório de economia experimental da Fundação Getúlio Vargas. Segui à risca todo o procedimento feito por Kahneman e apliquei a um grupo de participantes exatamente as mesmas perguntas feitas no experimento de 1992. Foi solicitado aos estudantes que optassem entre participar de 64 jogos, nos quais os ganhos (ou perdas) dependiam de probabilidades, ou receber (ou pagar) um valor fixo e desistir de jogar. Todas as perguntas seguiam o seguinte modelo: "Suponha um jogo no qual você tem 90% de chance de ganhar zero e 10% de chance de ganhar R$ 50,00". Os participantes então deviam escolher o valor fixo a ser recebido, pelo qual desistiriam do jogo. Variavam, de uma pergunta para outra, o valor, as probabilidades e se o jogo se referia a chances de ganhos, de perdas ou a uma combinação de ambas.

Os resultados do experimento foram surpreendentemente parecidos aos encontrados nos EUA, a começar pelo coeficiente de aversão a perdas que foi estimado em 2,21 para o Brasil, contra os 2,25 dos Estados Unidos.

A conclusão a que se chega é bastante simples: se acreditamos que a teoria do prospecto de fato explica a forma como as pessoas se posicionam perante o risco, temos de aceitar que a diferença entre o percentual alocado em bolsa no Brasil e nos EUA não se deve a fatores comportamentais.

De certa forma, esta constatação traz esperança sobre o crescimento futuro do mercado acionário brasileiro já que, segundo as conclusões do estudo, não há nada de comportamental que impeça o brasileiro de alocar em risco e, assim sendo, a grande diferença entre as alocações no Brasil e nos Estados Unidos é explicada pelo retorno dos ativos, dentre eles o nível da taxa básica de juros e o prêmio de risco do mercado acionário ("Equity Premium").

A mesma conclusão pode ser vista de outro ângulo. Se os investidores americanos fossem submetidos às condições do mercado brasileiro, teriam basicamente a mesma alocação que os investidores locais, ou seja, uma aparentemente baixa exposição à bolsa.

Se acreditarmos que num futuro próximo os retornos dos ativos serão ajustados com a redução da taxa básica de juros, podemos acreditar que o mercado brasileiro de ações pode vir a se tornar, em termos proporcionais, tão importante e relevante como o dos EUA.

Bem. Se por um lado a constatação da semelhança entre os investidores americanos e brasileiros me parece um fato novo e de extrema importância, por outro lado, sendo bem sincero, o fato de o nível de juros ser um dos principais fatores que inibem o investidor brasileiro a aplicar em bolsa era algo que mesmo antes do teste de laboratório já me parecia óbvio... tal qual o ovo.

Martin Casals Iglesias é gerente sênior do Wealth Management Services do BankBoston

Desempenho depende da pronúncia

Performance da ações é ligada à pronúncia do nome da empresa
30/5/2006
Estadão

A facilidade em pronunciar o nome de uma empresa e a sigla que a representa na lista de cotações influencia a performance do papel nos dias que se seguem à oferta pública inicial, descobriram dois psicólogos da Universidade de Princeton. Um novo estudo sobre ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) de duas importantes bolsas de valores dos EUA mostram que as pessoas têm mais probabilidade de comprar ações novas com nomes fáceis de pronunciar, de acordo com os pesquisadores Adam Alter e Danny Oppenheimer. O efeito se estende à facilidade de pronúncia do símbolo de cotação, geralmente com algumas poucas letras.

"A pesquisa mostra que as pessoas tomam atalhos mentais, mesmo quando se trata de investimento, quando aprece que deveriam querer ser mais racionais", disse Oppenheimer. O trabalho será publicado na edição desta terça-feira do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

A pesquisa começou com outro objetivo em mente: os pesquisadores pediram a um grupo de estudantes que estimasse como uma série de ações de empresas fictícias iria se sair na bolsa. "Na época, nosso objetivo principal era estudar se poderíamos manipular como as pessoas interpretam a sensação de que é fácil entender uma informação".

No entanto, a correlação entre pronúncia e previsões positivas mostrou-se forte - não importava como os pesquisadores manipulassem a situação, os estudantes acreditavam que as ações com nomes fáceis iriam se sair melhor.

Com esse dado, os cientistas resolveram analisar as performances em duas grandes bolsas - a de Nova York e a Americana. O efeito se manteve no mundo real: quanto mais "fluente" fossem o nome e o símbolo, melhor tinha sido o lançamento do papel.

Fonte: Estadão

Efeito Propriedade

Efeito Propriedade

Um dos conceitos mais interessantes das Finanças Comportamentais é o efeito propriedade. Os pesquisadores descobriram que as pessoas tendem a valorizar aquilo que possui, em detrimento dos bens de terceiros.

O efeito propriedade pode ser traduzido no provérbio "mais vale um pássaro na mão do que dois voando". A pesquisa crucial foi realizada por Knetsch, em 1989. Esse pesquisador fez um experimento interessante. Perguntou a um grupo de pessoas qual produto gostava mais - chocolate e café. Após obter um resultado equilibrado, com metade das pessoas optando por chocolate e a outra metade por café, distribuiu os dois produtos (café e chocolate), um para cada indíviduo, aleatoriamente. Como o gosto estava dividido e o número de produtos distribuídos corresponde ao número de pessoas, Knetsch esperava que a metade dos indíviduos receberia o produto da sua preferência, mas a outra metade não. Existindo a possibilidade de trocar os produtos recebidos, Knetsch constatou que a grande maioria das pessoas optaram pela manutenção do produto recebido, o que era incoerente.

Essas situações onde o processo decisório dos indivíduos apresentam uma decisão incoerente é típica dos estudos de Finanças Comportamentais. Entretanto, a teoria Neoclássica discorda dos resultados obtidos nessas situações. Os teóricos neoclássicos ressaltam que o processo decisório da forma como é apresentado pelas Finanças Comportamentais difere das situações práticas. Segundo os neoclássicos, as pessoas mudam suas posições com o processo de aprendizado. Assim, caso a experiência fosse repetida mais vezes os indíviduos poderiam melhorar suas decisões, deixando de existir o efeito propriedade.

Em 2003 John List refez o estudo de Knetsch utilizando de uma pesquisa (aqui o vínculo para arquivo, em inglês, em PDF) com fãs de figurinhas e outros itens. List encontrou que as pessoas tomam decisões incoerentes caso sejam consumidores inexperientes. Mas para os consumidores experientes, com grandes oportunidades de troca, as bases de Finanças Comportamentais não são razoáveis para estudar seu comportamento. Nesse caso é mais interessante usar a abordagem da teoria neoclássica.

Ou seja, pessoas com experiência intensa de mercado não possuem a anomalia descrita pelas Finanças Comportamentais.

Conceitos de Finanças Comportamentais

Finanças Comportamentais

Alguns conceitos relevantes de finanças comportamentais:

Aversão à Perda - Tendência das pessoas preferirem fortemente evitar perdas do que adquirir ganhos. Alguns estudos sugerem que as perdas são duas vezes mais poderosas do que os ganhos. A aversão a perda ajuda a explicar os efeitos dos custos perdidos.

Aversão à Ambiguidade - as pessoas preferem o familiar ao não familiar.

Contágio Emocional - tendência de expressar/ter emoções similares e influenciadas por outras pessoas. As pessoas tendem a ficar felizes quando outras pessoas estão felizes.

Efeito calendário - O desempenho de certos investimetnos tem variado significativamente dependendo do dia da semana, do dia do mês, do mês do ano, da proximidade dos feriados, da posição da terra, lua e sol, etc. Apesar da descrença de certos autores e do fato de que algumas dessas anomalias desapareceram recentemente, o efeito calendário ocorrem em muitos países.

Efeito do falso consenso - Refere-se a tendência que a pessoas possuem em superestimar o grau com que os outros concordam com elas. Pessoas geralmente acham que suas opiniões, crenças e predileções são mais majoritárias do que realmente são. Esse viés ocorre num grupo de pessoas que pensam que sua opinião representa uma grande população. Uma vez que existe consenso e que não existe disputa, eles tende a acreditar que todos pensam igual.

Efeito propriedade (ou "mais vale um pássaro na mão do que dois voando") - As pessoas dão um valor maior aos objetos que são proprietários. Isso contradiz a teoria econômica e tem sido muito questionado.

Uma experiência foi realizada com estudantes universitários. Eram dados dois produtos (café e chocolate) com mesmo valor de mercado. Numa primeira etapa, provou-se que a preferência era idêntica para os produtos (50% optava por café e 50% por chocolate). Depois, foram dados os produtos aleatoriamente aos estudantes e solicitados que os estudantes fizessem troca, caso desejassem. Somente 10% dos estudantes optaram pela troca. O normal seria 50%.

Falácia da Conjunção - Uma condição específica é mais provável de ocorrer que uma geral.

Um exemplo pode ser ilustrado a seguir: Lúcia tem 31 anos de idade, é solteira e brilhante. Graduou-se em filosofia. Quando era estudante, ela teve noções sobre discriminação e justiça social e participou de manifestações contra a guerra nuclear. Qual é mais provável? (1) Lúcia é uma bancária; (2) Lúcia é uma bancária e uma ativista do movimento feminista. Os entrevistados geralmente escolhem o número (2). Entretanto, matematicamente, a probabilidade dos dois eventos ocorrerem juntos (em conjunção) é sempre menor que a probabilidade de ocorrer sozinho. Considere a probabilidade de Lúcia ser bancária com sendo 5%. E também suponha a probabilidade dela ser feminista é de 95%. A Probabilidade de Lúcia ser bancária E feminista é de .05 × .95 ou 0.0475. Isso é menor que a Pr(Lúcia é uma bancária). A opinião 2 parece ser mais representativa da descrição, mesmo sendo menos provável.

Outro exemplo: Foi perguntado a especialistas qual a probabilidade da União Soviética invadir a Polônia e os Estados Unidos cortarem as relações diplomáticas, no próximo ano. Os especialistas responderam com 4% de probabilidade. Para outro grupo de especialistas foi questionada a probabilidade dos Estados Unidos cortarem as relações diplomáticas com a União Soviética no próximo ano. A probabilidade foi de 1%.

Falácia do jogador - As pessoas possuem pouca intuição sobre o comportamento de eventos aleatórios.

Os conceitos errôneos são os seguintes:

(1) um evento aleatório é mais provável de ocorrer por que ele não ocorreu num período de tempo;
(2) um evento aleatório é menos provável de ocorrer por que ele não ocorreu num período de tempo;
(3) um evento aleatório é mais provável de ocorrer por que ele ocorreu recentemente; e
(4) um evento aleatório é menos provável de ocorrer por que ele ocorreu recentemente.

Isso pode ser resumido na seguinte frase: uma moeda não tem memória.

Outros exemplos: (a)
Uma moeda tem 50% de chance de sair cara. A chance de “cara” duas vezes é de 0,5 x 0,5 = 0,25. Três caras é de 0,5 x 0,5 x 0,5 = 0,125. Considere que 4 caras já saíram num jogo de moedas. A falácia do jogador acha que a chance da próxima moeda ser “cara” é de 0,5 5 = 0,03125. Isso está errado. A probabilidade é 0,5.

Uma piada serve para ilustrar essa falácia. Voando num avião, um homem decidiu levar com ele uma bomba. “A chance de um avião ter uma bomba é pequena e a chance de ter duas é quase nenhuma.”

Joguei um moeda 20 vezes e deu cara todas as vezes. Qual a probabilidade de dar coroa na próxima jogada?

Um casal tem duas filhas. Qual a chance do próximo filho ser um menino?

É mais provável vencer na loteria escolhendo o mesmo número toda vez ou escolhendo um número diferente de cada vez?

Mas atenção: a falácia só ocorre quando os eventos são independentes. Se for um jogo de baralho sem reposição, não ocorre a falácia. Eventos esportivos também não podem ser considerados. A rigor, um vencedor num evento tem mais probabilidade no próximo evento que um perdedor.

Heurística - Pessoas quase sempre tomam decisões baseado em regras informais aproximadas e não análise racional.

Ilusão da moeda - A ilusão da moeda pode afetar a percepção dos resultados.

Experiências tem mostrado que pessoas geralmente percebem que um corte de 2% no salário nominal é injusto; mas vêem um aumento de 2% no salário nominal quando a inflação é de 4% como justo, apesar de serem equivalentes.

Preços nomimais são um regra interessante para determinados valores e preços reais somente são calculados quando eles são altamente relevantes (hiperinflação, por exemplo)

Ilusão do Conhecimento - Fazer uma inferência mais forte do que garantida pelos dados.

Moldura (Framing) - A forma como o problema ou a decisão é apresentada irá afetar sua ação. Na teoria da racionalidade de escolha supõe-se que a forma com que o problema é dado não afeta a ordem de escolha.

O exemplo clássico é o problema da doença. Uma nova doença atingiu a população da cidade onde você reside. Um grupo de cientistas trabalha para conter a epidemia. Eles esperam que no mínimo 600 pessoas morrerão por causa da doença. Duas soluções para combater a doença foram encontradas:
=> Se a Solução “A” for aplicada, 400 pessoas morrerão
=> Se a Solução “B” for aplicada, há 1/3 de probabilidade de que ninguém morrerá e 2/3 de probabilidade de 600 pessoas morrerem

A maioria das pessoas escolhem a alternativa B. Também é feito a seguinte pergunta:

Uma nova doença atingiu a população da cidade onde você reside. Um grupo de cientistas trabalha para conter a epidemia. Eles esperam que no mínimo 600 pessoas morrerão por causa da doença. Duas soluções para combater a doença foram encontradas:
=> Se a Solução “A” for aplicada, 200 pessoas serão salvas.
=> Se a Solução “B” for aplicada, há 1/3 de probabilidade que 600 pessoas serão salvas e 2/3 de probabilidade de ninguém ser salvo.

Os dois problemas são idênticos, mas a resposta não.

Ilusão de Controle - Tendência para o ser humano acreditar que ele pode controlar ou influenciar fatores que eles não tem influencia. Poderes para normais, superstições e crenças são situações dessas ilusões de controles. É facilmente encontrado em cassinos: soprar dados, evitar olhar o resultado, etc. As pessoas começam a acreditar que isso é sinal de que estava correto. As pessoas com ilusão de controle geralmente possuem pior desempenho.

Pensamento Mágico - Descreve um tipo de relação causal não científica. O pensamento mágico comete erros de causa-efeito. Por exemplo: alguém acha que a camisa dá sorte pois venceu um jogo com ela. Essa pessoa irá continuar a usar a camisa e irá associar a vitória a camisa. Adeptos não consideram isso como uma mágica. Na Ásia isso é denominado de Karma.

Outra situação são pessoas que acreditam que palavras podem afetar o mundo e por isso evitam certos termos (não fale no demônio que ele aparece). Essas pessaos usam eufenismo. As vezes o pensamento mágico ocorre devido ao fato das pessoas não saberem estatística. Uma situação típica ocorre com o efeito placebo que explica o interesse persistente por medicina alternativa.

Viés de Confirmação - Desejo das pessoas em encontrar informação que confirma a sua visão da situação

Viés do Conservadorismo - Pessoas são lentas em mudar suas opiniões em resposta a evidências recentes.

Winner's curse (Vitória de Pirro) - Ocorre quando ações comuns são tomadas com informação incompleta. Um produto deveria ter valor similar para todos os compradores, mas os jogadores estão incertos sobre o valor do mesmo. Cada jogador estima independente o valor do produto antes da aposta.
O vencedor será aquele que oferecer a maior aposta. Se considerarmos que a média das propostas é a estimativa acurada, então a pessoa com maior aposta terá um produto cujo valor foi superestimado. O efeito dependerá do número de apostadores.

Palestra sobre Finanças Comportamentais

"Behavioral Finance" em pauta

São Paulo, 16 de Fevereiro de 2006 - Vice-chairman da Alliance Bernstein discute tema com comunidade local. "Behavioral Finance" ou Finanças Comportamentais. Esse é o tema da visita da indiana Ranji Nagaswami ao Brasil nesta semana. Especialista no assunto, a vice-chairman da Alliance Bernstein - uma das maiores gestoras globais de investimento, com cerca de US$ 600 bilhões em ativos sob administração e sede em Nova York - esteve reunida ontem, em São Paulo, com parceiros locais, entre eles representantes de bancos, distribuidores de fundos e empresas de gestão de recursos. Na agenda, uma palestra promovida para associados da Anbid, a entidade que representa os bancos de investimento, sobre como promover uma consultoria de investimentos eficiente, com base no comportamento do investidor.

Os estudos sobre Finanças Comportamentais - ainda incipientes no Brasil - tratam de como a psicologia afeta as finanças, partindo do pressuposto de que o ser humano é suscetível a cometer erros, ao agir freqüentemente sob impulsos "irracionais" e "passionais". Mudar o comportamento do investidor e condicioná-lo a tomar a decisão correta, no entanto, é uma tarefa difícil e deve levar anos, destaca Ranji. "Quem sabe na geração de nossos filhos", brinca. E o desafio, afirma a executiva, é global e não só dos mercados em desenvolvimento.

Há pelo menos quatro tendências de comportamento do investidor que podem atrapalhar a tomada de decisão, informa Ranji. Uma delas é a "aversão a perdas". "O investidor não teme o risco e, sim, as perdas", afirma. Segundo a especialista, os estudos constataram que a dor da perda é maior do que o prazer dos ganhos. A lição que se tira a partir dessa constatação, continua, é que o acompanhamento diário do comportamento de uma ação (com suas altas e baixas), por exemplo, pode levar a uma decisão errada, uma vez que o investidor dá mais relevância do que deveria aos retornos negativos, mesmo que num cenário de longo prazo o investimento mostre-se rentável.

O investidor tende ainda a cometer erros como comprar papéis quando estão em alta e vendê-los na baixa, ou superestimar o potencial de ganhos, com base em dados do passado e informações que induzem a um comportamento errado. "O futuro quase sempre é desapontador."

Para Ranji, a chave para evitar comportamentos equivocados é a informação. "Matematicamente é impossível ganhar sempre", argumenta. O investidor, na sua opinião, tem de focar o resultado global e usar a volatilidade dos mercados a seu favor, ou seja, aproveitar as baixas para entrar no mercado e as altas para sair.

Outra recomendação da especialista, "e o maior desafio", é convencer o cliente a montar uma estratégia de alocação de recursos e mantê-la pelo prazo determinado. Segundo Ranji, quanto menos operações, menores serão as perdas. "Não operar, às vezes, é melhor."

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 6)(Alessandra Bellotto) - 16/02/2006

Gincanas de TV e a Racionalidade

Uma reportagem do Wall Street Journal sobre a racionalidade nas gincanas de TV:

Economistas encontram um precioso objeto de estudo nas gincanas da TV
January 13, 2006 4:05 a.m.

Por Charles Forelle
The Wall Street Journal

Daryl Johnson, um ator e web designer freelance de 27 anos — "o que signfica que eu não tenho um emprego" — balançava ansiosamente o corpo de um lado para o outro em Deal or No Deal, um programa de TV parecido com o extinto Eu Compro o Seu Televisor, que o SBT transmitiu em meados de 2004.

Depois de várias rodadas decepcionantes, que acabaram com a esperança de Johnson de sair milionário, o apresentador do programa, Howie Mandel, ofereceu US$ 37.000 para ele desistir. Johnson ainda tinha uma chance remota de ganhar uma mala contendo US$ 200.000. Por isso ele recusou os US$ 37.000.

Mais tarde, com apenas uma chance entre três de embolsar os US$ 200.000, Johnson recebeu uma nova oferta para desistir: US$ 67.000. Ele esfregou as mãos. Agitado, bateu os dedos sobre o peito. Depois balançou a cabeça indicando que, ainda assim, não desistiria.

"Você é corajoso", disse Mandel.

Para Thierry Post, professor de finanças da Universidade Erasmus, em Roterdã, na Holanda, Johnson também é uma cobaia valiosa para pesquisas econômicas. "Seu apetite por riscos é realmente anormal", diz o professor. Mais precisamente, calcula Post, Johnson mostrou uma "aversão a riscos relativos" de 0,006 — o que denota uma atitude atípica de indiferença quase absoluta a risco financeiro.

Post integra um pequeno grupo de economistas que estuda game-shows da TV numa variação da Teoria dos Jogos, buscando explicar as escolhas dos participantes e as indicações que elas podem dar sobre o comportamento econômico das pessoas no dia-a-dia.

Num estudo de 2002, dois economistas calcularam o "equilíbrio único perfeito de Nash do subjogo" — grosso modo, a melhor maneira de se jogar — em um dos segmentos do programa The Price Is Right, um jogo que premia os candidatos que melhor advinharem os preços de produtos. Eles descobriram que os jogadores freqüentemente fogem dessa maneira, agindo com muito conservadorismo quando se preocupavam em ser eliminados.

Outros programas, como Who Wants to Be a Millionaire (o Show do Milhão), também são estudados. Mas Deal or No Deal tem gerado um entusiasmo especial, em parte por não envolver nenhum tipo de habilidade. Isso reduz as variáveis ao comparar os participantes.

"Não há dúvida de que essas são pessoas verdadeiras que fazem escolhas verdadeiras em grandes apostas, e raramente temos a oportunidade de observar decisões tão puras", diz Richard Thaler, um dos principais economistas comportamentais da Graduate School of Business da Universidade de Chicago, nos EUA.

Os economistas não os únicos cativados por Deal or No Deal, que foi criado na Holanda em 2002 pela produtora Endemol e é veiculado hoje em 38 países. No Brasil, o SBT está sendo processado pela Endemol Globo SA, uma joint venture formada pela empresa holandesa e a TV Globo em agosto de 2001. O processo foi aberto em julho de 2004 e acusa a emissora do Sílvio Santos de plagiar o formato do programa original em Eu Compro o Seu Televisor.

Post está estudando o programa para ver se o jogo pode ajudar a explicar por que as pessoas tomam decisões econômicas irracionais e arriscadas. Junto com seus colegas, ele já gravou dezenas de episódios. Eles fizeram trocas online com colecionadores de programas de TV de todo o mundo e até contrataram uma equipe de estudantes turcos para traduzir o conteúdo da versão turca do programa.

Entender como o risco afeta o comportamento financeiro pode ter impacto em grandes decisões como em quais ativos se deve investir e quanto governos devem gastar em redes de proteção social. Mas dados reais são raros.

O formato de Deal or No Deal funciona assim: 26 modelos seguram 26 malas — cada uma com uma quantidade diferente de dinheiro variando de US$ 0,01 a US$ 1 milhão, na versão americana. O participante escolhe uma mala para ser sua, e depois passa a abrir as outras 25. Cada vez que abre uma mala, ele pode descobrir um pouco mais sobre o quanto a sua mala pode conter, pelo processo de eliminação. O jogador também pode trocar a sua mala por uma das outras que ainda não foram abertas.

O suspense aumenta — assim como a chance de o jogador ganhar bastante dinheiro — à medida que os valores são eliminados e as malas com US$ 1 milhão e US$ 500.000 ainda não foram abertas. Periodicamente, um "banqueiro" agourento aparece e faz uma proposta de negócio ao participante. A oferta é: pare de jogar agora e leve o dinheiro oferecido.

Artigo 1

Um artigo interessante que trata da irracionalidade das decisões financeiras pode ser encontrado - em PDF - no seguinte endereço:

www.cesartiburcio.com.br/noticias/eficiencia.pdf