sábado, janeiro 27, 2007

Como podemos enganar o cerébro

Os erros que uma pessoa costuma cometer podem ser explicados. Um endereço recente na internet fez comentários sobre alguns desses erros aplicados a questão da dieta dos seres humanos. Ou seja, como nós comemos. Os exemplos são interessantes e variam de situações como:

a) num prato maior, comemos mais
b) copo menor e mais largo, os garçons servem mais bebida
c) comemos mais quando gostamos do que estamos bebendo
d) o nome da comida pode criar predisposição (positiva ou não)
e) uma pessoa come 92% quando ela mesma se serve
f) as pessoas esquecem de contar os extras (entradas, por exemplo)
g) comemos mais quando as evidências são removidas

Entre outras evidências. Clique aqui para ler

Carta aos acionistas

Da Carta aos acionistas da Legg Mason Value Trust:

Being valuation driven means that we minimize our exposure to the panoply of social psychological cognitive errors identified by the behavioral finance researchers.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Neuroeconomia

Economia clássica está construída sob a suposição de que os humanos são racionais e que tem um clara idéia dos seus interesses para extrair o benefício máximo (ou utilidade, no jargão econômico) para qualquer situação. (...)

Um estudo publicado em Neuron, três pesquisadores (Loewenstein, Knutson e Prelec) perguntaram a 26 voluntários se comprariam produtos como uma caixa de chocolate Godiva a filmes depois dos produtos aparecerem na tela de um computador. Em cada rodada, primeiro os pesquisadores apresentaram os produtos e depois os preços.

Usando uma tecnologia de verificar a atividade do cerébro, denominada ressonância magnética de imagem funcional (fMRI), que mede o fluxo de sange e oxigênio em partes do cerébro e serve como indicador da sua atividade, os pesquisadores encontraram que diferentes partes do cerébro estavam envolvidas em diferentes estágios da pesquisa. Entretanto, o nível de atividade estava correlacionada com o nível de desejo do produto em questão.

Entretanto, quando o preço aparecia, as atividades do cerébro ocorriam em outras partes. Existe uma separação entre o produto e seu preço.

Os pesquisadores acham que o uso do cartão de crédito pode-se juntar ao açúcar e ao café como um indutor ao comportamento, subvertendo os instintos humanos.

Fonte: The Economist, The Triumph of unreason?, 13/01/2007, p. 73

sábado, janeiro 13, 2007

Vitória de Pirro

A Vitória de Pirro (Winner´s Curse, em inglês) é uma situação onde o ganhador é na realidade o grande perdedor. Uma situação típica da Vitória de Pirro ocorre em leilão. O ganhador de um leilão é aquele que deu o maior lance e provavelmente tem maiores expectativas do valor de um bem. Essas expectativas estão, no entanto, acima do padrão normal das pessoas. Ou seja, a pessoa paga mais do que deveria nessa situação.

Um sítio (clique aqui) acredita que a recém contratação do jogador de futebol David Beckham seja um exemplo de Vitória de Pirro. Beckham é um jogador de futebol conhecido por ter um valor de mercado positivo. O contrato que assinou prevê 50 milhões por cinco anos.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Viver e aprender

Viver e aprender
Por Danilo Fariello
19/09/2006

Quando dois aviões atingiram o World Trade Center, em um dos maiores atentados terroristas da história, os mercados mundiais desabaram. Seus efeitos duraram vários dias e alguns analistas acharam que nada voltaria ao que era antes pelo receio de novos ataques. Cinco anos e vários atentados depois - incluindo um em Madri e outro em Londres -, os agentes do mercado já não reagem com a mesma apreensão aos riscos do terrorismo. Esse comportamento ratifica uma nova teoria que estuda a ação dos investidores no ambiente econômico e que pode ajudar na montagem de estratégias de investimento tendo em vista mudanças globais, permitindo até tirar proveito delas.

As teorias que pregam que decisões econômicas não são pautadas apenas por motivos racionais já são bastante respeitadas entre agentes do mercado financeiro. Prova disso é seu desenvolvimento e questionamento, que resultaram na criação da nova Hipótese dos Mercados Adaptáveis (HMA), consolidada em artigo recente de Andrew Lo, economista do MIT Sloan School of Management. Sua tese é um meio do caminho entre aqueles que acham que o mercado é puramente racional - adeptos da Hipótese dos Mercados Eficientes (HME) - e os que acham que ele seria totalmente irracional, dadas as características psicológicas inatas de cada agente. A nova tese, segundo Lo, permitiria entender melhor fenômenos cíclicos da economia, como bolhas, e melhorar a administração de investimentos.

A HMA prevê, em resumo, que o mercado financeiro tende à racionalidade até que surjam alterações de conceitos básicos que tornem as previsões irracionais. Os agentes econômicos passariam por processos de adaptação a novas realidades. Exemplos recentes são a bolha da internet e reviravoltas do mercado com os atentados.

A tese clássica prevê que os agentes do mercado sempre agem racionalmente ao aplicar recursos, buscando a melhor relação entre retorno e risco. Já a psicologia comportamental diz o contrário, ou seja, que os agentes sempre agem movidos por emoções pessoais, como egoísmo, competição, medo e euforia. A HMA prevê ciclos, que, quando alterados, elevam a motivação irracional dos agentes do mercado, explica Ilan Ryfer, sócio responsável por estratégias de investimento da corretora Hedging-Griffo. Conforme a situação se acomoda ou torna-se mais corriqueira, os agentes vão retomando a racionalidade. Até que ocorra uma nova ruptura, como nos atentados.

Avanços tecnológicos, como a bolha das empresas pontocom no início da década, seriam o motivo mais comum de mudanças de ciclos econômicos que aumentam a irracionalidade do mercado. "No começo da onda de internet, as empresas do setor eram avaliadas muito acima de seu valor patrimonial e, atualmente, muitas não valem tanto ou desapareceram", diz o economista Ryfer. No entanto, ele avalia que a identificação de um novo período irracional, como o da atual bolha dos imóveis americanos, é difícil de ser comprovado ao longo do processo.

Segundo a tese dos mercados adaptáveis, pequenos ciclos em mercados e setores específicos ocorrem sistematicamente, oferecendo brechas para a busca de lucros mais altos com possíveis distorções irracionais o tempo todo. Mas a tese pura da psicologia comportamental prevê que não necessariamente um mercado com valores distorcidos por questões irracionais migrará para a racionalidade, lembra Vera Rita Ferreira, psicóloga econômica e representante nacional da Associação para Pesquisa em Psicologia Econômica (Iarep, na sigla em inglês). Exemplos são a bolha da internet, que demorou anos para estourar ou a bolha imobiliária nos EUA atualmente, já sinalizada há anos.

A HMA tem raiz na psicologia evolucionista, que prevê o aprendizado das pessoas, num paralelo com a teoria de Charles Darwin, explica Roberta Muramatsu, pesquisadora de finanças comportamentais e professora de economia do Ibmec-SP e do Mackenzie. Por essa teoria, certas pessoas teriam traços que os auxiliariam a identificar melhor os movimentos do mercado. "Esse é um dos motivos porque alguns gestores e investidores prosperam e outros não."

Copiar estratégias desses vencedores ajuda, mas é preciso compreender também que o ambiente econômico está em constante mutação e a mesma estratégia poderia não funcionar numa segunda vez, diz a economista. "Não dá para termos a pretensão de nos adaptarmos na mesma velocidade do ambiente", afirma Roberta, acrescentando porém que "também não somos fadados à irracionalidade".

A tese dos mercados adaptáveis traz aos estudos das finanças comportamentais o entendimento de que não são apenas as pessoas que interferem na economia, mas que o próprio ambiente é fator que influencia o comportamento financeiro, diz Roberta. "Hoje, temos de responder muito rápido a decisões econômicas, portanto podemos agir mais irracionalmente frente a uma novidade" explica. "Mas acredito na otimização e maximização das decisões com o tempo."

A tese evolucionista já é antiga nos debates sobre psicologia, embora controversa, mas sua incorporação reforça a aceitação de temas relativos à mente no universo dos economistas, diz Vera Rita. A tendência é que a discussão se amplie para além da psicologia econômica tradicional. Na semana passada, o psicólogo Waldemar Magaldi Filho lançou o livro "Dinheiro, saúde e sagrado", sobre o valor cultural, consciente e inconsciente, do dinheiro na vida das pessoas, tendo base nas teorias de Carl Gustav Jung, dissidente das teses de Sigmund Freud.

Artigo publicado no Valor Econômico (enviado por Ricardo Viana)

Investidores são seres humanos

Mais um artigo enviado por Ricardo Viana (grato)
Valor Econômico

Investidores, afinal, são seres humanos
Por Luciana Monteiro
14/12/2006

É preferível ganhar R$ 80 mil ou ter 80% de chance de ganhar R$ 100 mil? Certamente, a grande maioria das pessoas escolherá a primeira opção. E entre perder R$ 80 mil e a probabilidade de 80% de perder R$ 100 mil? Sem dúvida, a maioria escolherá a segunda alternativa. As respostas dadas a essas perguntas, feitas em pesquisa conduzida por Amos Tversky, fundador da teoria financeira comportamental, mostram que, em qualquer parte do mundo, a reação do investidor será a mesma: ele não está disposto a correr risco para obter ganhos.

Esse padrão de comportamento ratifica a essência daquela teoria, segundo a qual as decisões econômicas não se pautam apenas por motivos racionais. Em seu livro, o economista Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais da ABN Amro Asset Management, usa essa premissa como moldura de recomendações que faz ao investidor individual.

Mosca fez uma coletânea de artigos que publicou na coluna "Palavra do Gestor", do Valor, para mostrar como o investidor pode orientar suas aplicações por princípios de análise comportamental e como é importante considerar contextos que recomendam essa opção - inclusive, para evitar decisões mal fundamentadas.

Um dos erros mais comuns está associado ao entendimento equivocado do que o economista chama de "representatividade" - a tentativa de prever o futuro com base em resultados passados. Mosca cita como exemplo um mês em que a bolsa de valores tenha apresentado um bom desempenho. "Com certeza, haverá um maior fluxo de recursos para fundos de ações no período seguinte." O problema, no entanto, é que o investidor estará entrando em bolsa num momento de alta, quando é justamente o oposto que deveria fazer.

Outra armadilha se apresenta quando o investidor se amedronta diante de eventos raros, que o autor chama de "saliências". "São eventos com baixa probabilidade de se repetir, mas que, como são muito divulgados, influenciam o comportamento do investidor", diz. Basta lembrar a forte queda dos papéis da área de aviação após o acidente com o avião da Gol no fim de setembro.

As pessoas também têm uma forte tendência de agir conforme a maioria, o que provoca o chamado efeito manada. "É muito confortável agir em conformidade com um grupo", diz. Nos investimentos, é muito mais aceitável a perda quando todo mundo está perdendo, mas ao fazer isso o aplicador não está levando em conta que poderia estar ganhando se tivesse assumido o risco de agir diferente.

Outro erro comum é a dificuldade de aceitar que se está errado. A "teoria do arrependimento", diz o autor, faz o investidor persistir numa estratégia incorreta por não assumir que errou. "As pessoas acreditam que há um momento peculiar para investir, e não admitem que erraram", diz o estrategista da ABN Amro Asset. "Todo fim de mês, os investidores tentam adivinhar o que acontecerá no mês seguinte, o que é um erro." Segundo Mosca, as pessoas têm uma tendência de superestimar o próprio conhecimento.

A cultura do curto prazo, ainda dominante entre os investidores no Brasil, potencializa a possibilidade de erros ao se adotar essa estratégia, lembra o executivo. "É a tentativa de adivinhar o que acontecerá com a economia num prazo de 22 dias úteis", afirma Mosca. Além disso, o aplicador acostumou-se com as altas taxa de juros pagas pelos papéis do governo. "Com juros agora mais baixos, será preciso assumir mais riscos para bater o CDI."

A dificuldade em lidar com o dinheiro, no entanto - que é, no fundo, o que determina o comportamento do investidor - não é característica exclusiva do brasileiro. Pesquisadores da Universidade de Cambridge constataram que 50% dos entrevistados, numa amostra tomada para estudo de comportamento, apresentaram aceleração significativa no ritmo cardíaco quando tiveram de organizar suas finanças. Outros 15% ficaram imóveis e sequer tentaram analisar os dados antes de desistirem por completo. Quando o assunto é dinheiro, mudanças comportamentais ocorrem e podem impedir que a pessoa tome as melhores decisões, usando a mesma desenvoltura com que trata de outros assuntos, escreve o autor.

Para o economista, o primeiro passo para fugir desses comportamentos de risco é tomar consciência do problema, perceber os sintomas e decidir com a maior clareza possível de objetivos.

"Investimento Sob Medida" - De Aquiles Mosca. Lazuli/CEN, 110 págs. R$ 25

Percepção

Percepção de sucesso financeiro é ligada à satisfação pessoal
Vera Rita Ferreira
21/12/2006

Você tem certeza de que faz seus cálculos usando calculadora, Excel ou, até mesmo, o velho lápis e papel? O economista comportamental Richard Thaler garante que estas não são as únicas ferramentas que usamos quando fazemos contas. Para ele, que criou o conceito de "contas, ou contabilidade, mentais", outros fatores entram em jogo quando pensamos em quanto ganhamos, gastamos, temos ou viremos a ter, no valor do que compramos e usamos. No artigo "Invest now, drink later, spend never: on the mental accounting of delayed consumption", com Eldar Shafir (Journal of Economic Psychology, outubro, 2006), exemplos simples são apresentados e podem nos intrigar no que possuem, para todos nós, de corriqueiro.

Eles desenvolveram uma pesquisa com colecionadores de vinhos finos, formulando perguntas como: supondo que você tenha comprado uma caixa de Bordeaux 1982, no mercado futuro, por US$ 20 a garrafa há alguns anos e, agora, o mesmo vinho custa US$ 75 a garrafa, como você se sentiria nos seguintes casos - ao presentear um amigo com ela; ao tomar o vinho; se, por acaso, quebrasse uma garrafa acidentalmente. As cinco respostas que surgiram para os primeiros dois casos (presentear ou saborear o vinho) se distribuíram de maneira mais ou menos homogênea: ´tenho a impressão de que a garrafa me saiu de graça, já que paguei por ela há tanto tempo´; ´parece que me custou só US$ 20, que é o que me lembro de ter pago´; ´talvez como se custasse US$ 20, mais os juros sobre esse valor´ (quem disse isso deve ser contador profissional!); ´sinto como se custasse US$ 75, que é o valor que eu teria que desembolsar agora para substituí-la´; ´a sensação é de estar economizando US$ 55, porque estou dando, ou tomando, uma garrafa de US$ 75 que, na verdade, custou-me apenas US$ 20´.

No entanto, caso a garrafa se quebrasse acidentalmente, a maior parte das respostas à questão ´quanto você sentiria que teria perdido agora?´, expressou um sentimento de perda no valor de US$ 75. Neste caso, o que ficou "saliente", para usar a expressão dos autores, foi o custo de substituição, diferentemente dos dois primeiros casos. Ou seja, muitos que haviam considerado a conta "fechada" nas situações de presentear ou tomar o vinho - já tinham pago e o gasto quase não tinha mais importância, depois de tanto tempo - experimentavam, agora, uma espécie de "ressurreição do valor", como se a conta tivesse sido reaberta e reativada. Ao complementar a pesquisa, mais tarde, com a pergunta ´como você se sente ao comprar uma caixa de vinho, agora, por US$ 400 que, quando for enviada, já valerá US$ 500, mas você só vai beber daqui a 10 anos?´, a maioria respondeu como se estivesse fazendo um tipo de investimento. Isso levou os pesquisadores a concluir que é possível sentir o gasto como investimento e, ao saborear (ou dar de presente) anos mais tarde, o sentimento é de que não custou nada - daí o título do artigo: invista agora, beba mais tarde, não gaste nunca!

Assim, consumir uma coisa que foi adquirida muito tempo antes pode ser sentido como se fosse grátis ou, até mesmo, como se estivesse economizando dinheiro. Da mesma forma, compras "adiantadas", isto é, para consumo posterior, são sentidas como investimento, e não como gasto. Mas, se o item em questão não for consumido da forma esperada, ele volta a adquirir valor, na verdade, o mais alto valor, já que o parâmetro, agora, é o custo para substituí-lo.

Um outro fator que pode causar distorções na percepção de valor e, conseqüentemente, no modo como a questão será avaliada e conduzida, é a sua história. Por exemplo, depois de comprar um par de sapatos por US$ 250, você descobre que eles machucam seus pés; em outra situação, você comprou o par, que também machuca, por US$ 55; e, num terceiro caso, idem, mas numa liquidação, de US$ 250 por US$ 55. Em qual dos três cenários seria mais fácil doar aqueles sapatos, em ótimo estado, mas que você não vai ter condição de usar, porque são tão incômodos? Os mais "generosos" foram aqueles que pagaram US$ 55, com o pessoal da "pechincha" no meio, e os que pagaram US$ 250, muito mais apegados aos seus belos, porém igualmente inúteis, sapatos. Ou seja, o tom da decisão tomada parece ter sido dado por sua história.

Vale lembrar que manobras desse tipo não são captadas por calculadoras ou computadores. Em outras palavras, são operações que têm lugar no âmbito da psique, ali onde emoção e razão convivem de forma nem sempre harmônica - embora tudo se reflita diretamente na maneira como as decisões são tomadas e dinheiro, investimentos e bens, administrados.

Vera Rita Ferreira é psicanalista, consultora na área psico-econômica, professora do curso "Psicanálise e Psicologia Econômica", representante no Brasil da IAREP-International Association for Research in Economic Psychology