quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Remuneração e Comportamento

Uma experiência interessante foi realizada Nina Mazar, Uri Gneezy, George Loewenstein e Dan Ariely para verificar o efeito da remuneração em diversas tarefas (montar quebra-cabeça, jogar jogo de memória, entre outras tarefas). Foi prometido a um terço dos participantes o pagamento em uma semana; para outro terço, uma remuneração em duas semanas; e o restante iria receber em cinco meses. O estudo foi realizado na Índia, onde o custo de vida é mais baixo.

O grupo de pior desempenho foi aquele que iria receber somente em cinco meses. Isto tem uma implicação interessante para as discussões sobre remuneração. Os adversários da atual sistemática de elevadas gratificações por desempenho vinculadas as ações afirmam que o sistema induz ao foco no curto prazo, esquecendo o longo prazo. Sugerem que a remuneração seja essencialmente de longo prazo.

O estudo também trabalho outro aspecto da avaliação: o escrutínio público. Novamente algumas tarefas foram propostas (solucionar anagramas) de duas formas: privadamente, em cubículos, ou na frente de outros. O resultado foi que as pessoas queriam ter um melhor desempenho quando trabalhavam um na frente de outro.

Veja mais sobre o estudo em Bonuses boost activity, not quality, Dan Ariely, 1º de fevereiro de 2010, Wired.

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quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Leilão e preço

Este trabalho buscou evidenciar se a inclusão de informações sobre produtos altera substancialmente as estimativas de preços dos produtos na simulação de leilões de preço reserva. Os produtos escolhidos foram: mouse, tênis, relógio e o wice que é um refrigerador de bebidas desconhecido no mercado brasileiro. Foi testado também se uma âncora aleatória pode influenciar nas estimativas de preços, a âncora escolhida foi os três últimos dígitos da Identidade de cada participante. Como resultado encontrou-se que âncora afeta as estimativas de preços dos quatro produtos quando leiloados sem informação. A inclusão da informação aumentou significativamente os preços ofertados e diminuiu o efeito da âncora aleatória. Nos quatro produtos pesquisados ocorreu a Maldição do Vencedor, tanto nos leilões com informação quanto nos leilões sem informação.


Efeito da Informação na Simulação de um Leilão de Preço Reserva - Bruno Vinícius Ramos Fernandes, Josué Lins Silva, César Augusto Tibúrcio Silva

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Finanças Comportamentais e Publicação

Apesar dos conceitos de finanças comportamentais já estarem relativamente difundidos, a aceitação por parte dos cientistas tradicionais não foi fácil. Até o final da década de setenta, os artigos desta área não eram publicados nos periódicos tradicionais de finanças ou economia. Isto mudou em 1984, com a publicação de um artigo de Hersh Shefrin e Meir Statman no Journal of Financial Economics. Esta publicação foi relevante por três motivos:

  1. O editor deste periódico era Black, conhecido pelo desenvolvimento da teoria de opções e defensor da abordagem racionalista de finanças. Black apoiou a publicação do artigo, por achá-lo brilhante.
  2. O fato é mais importante já que o Journal of Financial Economics foi fundado por Eugene Fama, Michael Jensen e Robert Merton, todos eles financistas de visão tradicional e racional.
  3. O texto discute a questão da distribuição de dividendos, um assunto de ocupou Modigliani e Miller já em 1961

Mas o papel de Black foi mais além. Como presidente eleito da American Finance Association também em 1984 chamou Shefrin para organizar uma apresentação sobre finanças comportamentais. Em tal evento, Richard Thaler teve oportunidade de divulgar um estudo realizado juntamente com Werner de Bondt, hoje um clássico na área, sobre reação das pessoas a novos eventos.

Um ano mais tarde, Black escreveria um artigo denominado "Noise".

Fonte: FOX, Justin. The Myth of the Rational Market, cap. 11.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

A ilusão do preço

O jornal Valor Econômico de 22/2/2010 traz uma interessante reportagem de Luciana Monteiro (A ilusão do preço). Trata-se de uma pesquisa realizada na Fundação Getúlio Vargas onde foram montadas três carteiras: a primeira composta por ações com preços inferiores a dez reais; a média, com preços entre dez e vinte reais; e a terceira somente com ações cujos preços eram acima de vinte reais. Entre o período de 3 de janeiro de 2005 a metade de 2009 a carteira com menor preço teve desempenho superior as duas outras (197,85% maior que a carteira média).

Isto não muito racional, já que o comportamento do preço da ação dependeria de outras variáveis. Mas pode existir uma possível explicação para este comportamento: uma ação com valor de R$0,01, se subir um centavo na cotação terá uma valorização de 100%. Já uma ação com preço de dez reais, se tiver um aumento de um centavo, sua valorização é bastante reduzida. Como o período analisado foi um período altista na bolsa, a aparente contradição pode ser explicada por este fator.

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Incentivos e Aversão à perda

A The Economist de 14 de janeiro traz um texto interessante sobre incentivos em empresas e o conceito de aversão à perda (Carrots dressed as sticks, 14 jan 2010). O texto relata uma experiência de Tanjim Hossain (Universidade de Toronto) e John List (da Universidade de Chicago) numa fábrica chinesa. A experiência foi realizada em dois grupos. Num primeiro, anunciou-se que os trabalhadores receberiam um bônus de doze dólares no final de uma semana se atingissem uma meta de produção. Para outro grupo foi anunciado tanto o bônus, no mesmo valor, ou a possibilidade de perda, se a produtividade caísse.

Em termos objetivos, os dois grupos são basicamente os mesmos. Mas para finanças comportamentais, existe o conceito de aversão à perda. As conclusões de Hossain e List mostraram que o conceito funciona também neste caso. É a teoria do chicote e da cenoura em prática.

Um aspecto interessante, ao ler a reportagem, é o nome do pesquisador List. Quem leu o recentemente lançado Superfreakonomics (p. 110 e seguintes) deve lembrar as várias páginas que o livro de Levitt e Dubner dedicaram a este pesquisador. No livro, existe um comentário negativo sobre a metodologia de pesquisa denominada de experimental. E questionavam algumas das conclusões encontradas por este tipo de pesquisa. Mas observe que as conclusões do estudo de Hossain e List são as mesmas que as finanças comportamentais encontraram em estudos experimentais.

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Corretores

O livro O Naturalista da Economia, de Robert Frank (editora Best Business) apresenta um estilo de perguntas instigantes com respostas numa linguagem fácil e lógica. Num capítulo com perguntas relacionadas com finanças comportamentais surge a seguinte questão (p. 197 e 198):

Por que os corretores imobiliários geralmente mostram aos clientes duas casas quase idênticas, embora uma seja mais barata e esteja em condições melhores que a outra?

A resposta diz respeito ao Decoy Effect, que no livro foi traduzido através da seguinte situação:

(...) do homem que pergunta à garçonete de uma lanchonete que tipo de sanduíche é servido ali.

- Temos de salada de frango e de rosbife – responde a garçonete.

O cliente pede um sanduíche de rosbife. A garçonete então acrescenta:

- Ah, eu esqueci, também temos de atum.

- Nesse caso, vou querer o de salada de frango – responde o cliente.

O decoy effect trata da mudança de preferência quando se acrescenta um parâmetro de comparação diferente no processo decisório. No caso da lanchonete, a mudança de dois para três sanduíches faz com que a opção escolhida pelo homem seja alterada.

A relevância do decoy effect para situações de decisão foi mostrada por Simonson e Tversky. Mesmo quando se apresenta uma alternativa irrelevante para a situação, os efeitos são consideráveis. No caso do imóvel, ao mostrar outro imóvel, mesmo em condições piores, faz com que o cliente decida mais rapidamente pelo outro imóvel.

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sábado, fevereiro 20, 2010

Mercado pode ser racional, mas é ignorante!!

O mercado de petróleo apresentou uma alta no barril na semana passada. Uma explicação foi dada pela agência Reuters: um golpe militar em Níger, país da África Central. Níger é um dos países mais pobres do mundo – o pior IDH do mundo, com produção centrada na agricultura de subsistência e pecuária. O país foi produtor de urânio na década de setenta e até onde se sabe não produz petróleo.

Como isto foi acontecer? Alguns traders confudiram com a Nigéria, também um da África. Neste país o petróleo é responsável por 20% do PIB e 95% das exportações.



Nigéria


Níger

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Woods e o Mercado


Ontem pela manhã o golfista Tiger Woods fez uma declaração sobre seus problemas pessoais. As redes de televisão dos EUA interromperam sua programação normal para mostrar ao vivo as imagens de Woods. A CNBC, especializada na área financeira, também transmitiu os quinze minutos em que Woods reconheceu os erros cometidos no passado.

Para Michael Corkery, do Wall Street Journal (How Tiger Woods Affected Wall Street Trading Volume), as declarações de Tiger Woods o mundo real da bolsa, onde uma grande parte das negociações é realizada por modelos computadorizados, os negócios não foram afetados. Na realidade, o volume de negociação aumentou durante a aparição de Woods. Uma conclusão diferente de Joe Weisenthal (Boy! Tiger Woods Really Disrupted Wall Street Trading). Para Weisenthal, tendo por base os gráficos da Bloomberg, as palavras de Woods afetaram o volume de negociação (vide gráfico).

De qualquer forma, qual a razão do interesse do mercado para um típico escândalo de celebridades? Duas possíveis explicações para isto.

Em primeiro lugar, talvez não seja somente um mero escândalo de uma celebridade. Woods possuía um grande número de patrocinadores (General Motors, Gillette, AT&T, Gatorade, Accenture e Tag Heuer) que tiveram perdas de 12 bilhões de dólares com os escândalos. Além disto, Woods era uma mina de ganhar dinheiro. Num determinado ano, o golfista chegou a ganhar 127 milhões de dólares, sendo o primeiro esportista com uma fortuna de 1 bilhão.

Uma segunda possível explicação é que talvez o mercado não seja tão racional assim. As pessoas que negociam ações também possuem interesses mundanos, que inclui fofocas e desejo de saber sobre o futuro de um astro do esporte. A curiosidade de saber sobre o futuro de um astro do golfe é maior do que a vontade de negociar ações num determinado momento. Além disto, fatos como este expõe, de uma forma indireta, os sentimentos de um país sobre a situação econômica. Assim, Tiger Woods é um grande jogador de golfe que caiu na tentação e procura agora a redenção. Algumas pessoas podem ver nisto uma relação com a situação da economia de um país que caiu na tentação do consumo e do endividamento e agora procura o resgate.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Nota de zero rúpia

Na Índia uma organização sem fins lucrativos desenvolveu um projeto para lugar contra a corrupção. Apesar da corrupção ser um crime punido, é raro existir resistência por parte das pessoas comuns quando funcionários públicos exigem o "do café". A ONG lançou uma nota de zero rúpia, moeda local, que representa uma declaração contra a corrupção.

Conforme o sítio Nudge, o programa é um sucesso já que existem pessoas dispostas a utilizar as notas. Elas tem pouco a perder e as notas é um sinal de que existe uma organização que está lutando contra a corrupção.

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segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Homens ficam bobos com mulheres bonitas


Um estudo, publicado no Journal of Experimental Social Psychology (via Gazitz), mostrou que os homens ficam com o cérebro prejudicado quando falam com mulheres bonitas. A explicação é que parte do cérebro dos homens é desviada para a tentativa de impressionar a mulher.

Os pesquisadores da universidade holandesa responsável pelo estudo fizeram um teste de memória com homens heterossexuais. Depois, parte do grupo falou com mulheres e parte com homens, durante sete minutos. O teste de memória foi novamente repetido e o grupo que falou com mulheres atraentes teve um resultado pior do que o grupo de falou com homens.

A pesquisa foi realizada com mulheres e não ocorreu nenhuma variação no resultado. Para os pesquisadores, os homens ficam procurando pistas físicas nas mulheres para um futuro "acasalamento".



(Foto: Rajesh, personagem The Big Bang Theory, que não consegue falar com mulheres)

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quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Artigo para Periódico

A revista Contabilidade, GEstão e Governança está aceitando artigos científicos. Os artigos podem ser encaminhados ao editor (este blogueiro) por e-mail (Infelizmente o sítio da revista, mantido pelo IBICT, está apresentando defeitos constantes). O e-mail é cesaraugustotiburciosilva@gmail.com

O leque de artigos é bastante amplo e estamos fazendo um grande esforço no sentido de dar uma resposta aos autores em até três meses.

Encaminhem...

terça-feira, fevereiro 02, 2010

EMH e Finanças Comportamentais

Os estudiosos de Finanças Comportamentais sabem da divergência com a eficiência do mercado e o conceito do homem racional. Uma história muito instrutiva foi contada no livro The Myth of the Rational Market, de Justin Fox (p.192), e ilustra muito bem a forma como os dois grupos entendem o ser humano.

Em 1979, depois da publicação do artigo Prospect Theory, Daniel Kahneman e Amos Tversky foram visitar Richard Thaler na University of Rochester. Thaler, fazendo as honras da casa, preparou um jantar para seus convidados e estava presente Michael Jensen. Jensen, um rigoroso teórico das finanças, mas defensor da idéia do mercado eficiente, não gostava muito das idéias comportamentais de Kahneman e Tversky. Além disto, Jensen era muito rigoroso com as pessoas.

Tversky perguntou a Jensen o que ele achava das decisões que eram tomadas por sua esposa. Jensen reconheceu que ela não tomava boas decisões. Tversky então quis saber o que Jensen achava do então presidente Carter. Jensen respondeu que Carter era um idiota. E a política econômica do Chairman do Federal Reserve, questionou Tversky para Jensen. Tudo errado, disse Jensen. Tversky continuou querendo saber de Jensen o que ele achava de vários tipos de pessoas, e a opinião de Jensen não era muito boa.

Tversky finalmente fez um fechamento no seu bate-papo com Jensen: "Quando nós falamos das pessoas, especialmente os policy makers, eles fazem grandes erros nas suas decisões. Mas no agregado, eles estão corretos?"

O que Tversky chamou a atenção é algo muito interessante. Para os defensores da eficiência do mercado existe um mecanismo regulador nas decisões individuais que mesmo que algumas pessoas comentam erros, o mercado como um todo estaria correto. A soma dos comportamentos geraria esta eficiência. Mas os estudiosos de finanças comportamentais acreditam que algumas decisões os erros individuais não são anulados no mercado.

Considere o caso do custo perdido. Sabemos pela contabilidade de custos que as decisões passadas não devem afetar as minhas decisões futuras. Os custos perdidos não podem ser considerados no processo decisório. Racionalmente isto é muito fácil de entender e compreender. Mas nas nossas decisões pessoais cometemos constantemente este erro. Quando um número muito grande de pessoas não age de forma racional, a eficiência do mercado deixa de existir.

Sabemos que existem estes problemas e um grande número de pesquisas já mostraram como isto ocorre. O que ainda não sabemos é o impacto disto para o conjunto total de decisões. Os partidários da eficiência do mercado, quando reconhecem as questões levantadas pelas finanças comportamentais, consideram que isto é uma exceção reduzida a regra mais abrangente do bom funcionamento do mercado. Os estudiosos de finanças comportamentais enxergam que os vieses apontados nas pesquisas são importantes demais para serem considerados como residuais.

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