sexta-feira, junho 23, 2023

Conexão mente-corpo

Do livro Emocional, de Leonard Mlodinow (Zahar, 2022, p 99)

cientistas reuniram estatísticas sobre 1112 casos envolvendo oito juízes com uma média de 22 anos e meio de experiência no trabalho. E constataram que, em média, 60% das vezes em que os juízes concederam liberdade eram ou o primeiro caso apresentado no dia, ou o primeiro após o intervalo para o café/almoço. Como mostra o gráfico a seguir, a taxa em que a liberdade condicional foi concedida caiu consistentemente nos sucessivos casos, até que, entre aqueles ouvidos antes do intervalo seguinte, a liberdade condicional quase nunca foi concedida. 

A pesquisa citada é de Shai Danzinger et al, Extraneous Factors in Judicial Decisions, PNAS, v. 108, p. 6889-92, 2011. 


terça-feira, junho 06, 2023

Fazendo coisas estúpidas

Qual a razão de uma pessoa inteligente fazer algo estúpido? Não há uma resposta, mas Stumbling and Mumbling tem uma boa discussão para isto. 


Em primeiro lugar, a arrogância impede que pessoas inteligentes ignorem os conselhos. Grandes colapsos financeiros geralmente são frutos desta arrogância. Aqueles que acreditam que são líderes tendem a acreditar demais na sua capacidade intelectual e na possibilidade de exercer controle dos eventos. Mas há imprevisibilidade demais no mundo e o ambiente é complexo demais para imaginar que saberemos como o mundo irá mudar no próximo dia. Kahneman chamava isto de ilusão de controle. 

Esta ilusão ocorre na política, na economia, em finanças e nas nossas decisões pessoais. Muitos de nós achamos que temos capacidade de exercer o controle sobre o resultado de uma empresa da qual compramos uma ação, achando que é uma barganha.

Stumbling and mumbling lembra o termo Fronese. Ou seja, não basta ter o intelecto. É necessário aplicar esse intelecto no contexto adequado. Fronese pode ser traduzido para sabedoria prática. E isto falta as pessoas "inteligentes". 

Entre os anos 60 a 90, os economistas mais inteligentes que foram produzidos pela academia brasileira serviram ao governo. Isto incluía Roberto Campos, Simonsen, Delfim Neto, Langoni entre outros. Mas o resultado desta inteligência foi a produção de uma série de medidas econômicas estúpidas, que conduziram nosso país para uma hiperinflação. A esperteza política de Sarney e a grande arrogância de Collor também não foi suficiente para resolver este problema. Foi necessário um presidente considerado bronco por muitos para termos um plano que finalmente foi um sucesso.   

Há uma frase bastante adequada, atribuída a George Orwell: algumas ideias são tão estúpidas que apenas os intelectuais acreditam nelas. 

Além da ilusão do controle, há outro elemento importante que leva a decisão estúpida por parte de pessoas inteligentes. A nossa visão de mundo tende a distorcer nossas percepções. Os acadêmicos tendem a acreditar que somente um governo de ilustres seria eficiente. A história brasileira mostra justamente o contrário. Os advogados tendem a valorizar o papel do estado de direito e da mudança legal na transformação da sociedade. Os economistas acreditam que os incentivos são suficientes para que tudo funcione de forma adequada. Os políticos acham que somente através do processo político, da discussão entre seus pares, é que um país irá seguir adiante. 

Foto: Michal Matlon