sexta-feira, outubro 31, 2008

Finanças Comportamentais e crise

Um texto de David Brooks para o NY Times discute a crise atual sob a ótica comportamental. O texto enfatiza que a racionalidade não existiu durante a crise (como prova a reação de Greenspan, que estava chocado com o fato do mercado não ter reagido racionalmente). O texto apoia-se no último livro de Taleb (que estou tentando terminar neste momento), que usa as finanças comportamentais para enfatizar sua teoria dos cisnes negros.


OP-ED COLUMNIST
The Behavioral Revolution
By DAVID BROOKS
Roughly speaking, there are four steps to every decision. First, you perceive a situation. Then you think of possible courses of action. Then you calculate which course is in your best interest. Then you take the action.
Over the past few centuries, public policy analysts have assumed that step three is the most important. Economic models and entire social science disciplines are premised on the assumption that people are mostly engaged in rationally calculating and maximizing their self-interest.
But during this financial crisis, that way of thinking has failed spectacularly. As Alan Greenspan noted in his Congressional testimony last week, he was “shocked” that markets did not work as anticipated. “I made a mistake in presuming that the self-interests of organizations, specifically banks and others, were such as that they were best capable of protecting their own shareholders and their equity in the firms.”
So perhaps this will be the moment when we alter our view of decision-making. Perhaps this will be the moment when we shift our focus from step three, rational calculation, to step one, perception.
Perceiving a situation seems, at first glimpse, like a remarkably simple operation. You just look and see what’s around. But the operation that seems most simple is actually the most complex, it’s just that most of the action takes place below the level of awareness. Looking at and perceiving the world is an active process of meaning-making that shapes and biases the rest of the decision-making chain.
Economists and psychologists have been exploring our perceptual biases for four decades now, with the work of Amos Tversky and Daniel Kahneman, and also with work by people like Richard Thaler, Robert Shiller, John Bargh and Dan Ariely.
My sense is that this financial crisis is going to amount to a coming-out party for behavioral economists and others who are bringing sophisticated psychology to the realm of public policy. At least these folks have plausible explanations for why so many people could have been so gigantically wrong about the risks they were taking.
Nassim Nicholas Taleb has been deeply influenced by this stream of research. Taleb not only has an explanation for what’s happening, he saw it coming. His popular books “Fooled by Randomness” and “The Black Swan” were broadsides at the risk-management models used in the financial world and beyond.
In “The Black Swan,” Taleb wrote, “The government-sponsored institution Fannie Mae, when I look at its risks, seems to be sitting on a barrel of dynamite, vulnerable to the slightest hiccup.” Globalization, he noted, “creates interlocking fragility.” He warned that while the growth of giant banks gives the appearance of stability, in reality, it raises the risk of a systemic collapse — “when one fails, they all fail.”
Taleb believes that our brains evolved to suit a world much simpler than the one we now face. His writing is idiosyncratic, but he does touch on many of the perceptual biases that distort our thinking: our tendency to see data that confirm our prejudices more vividly than data that contradict them; our tendency to overvalue recent events when anticipating future possibilities; our tendency to spin concurring facts into a single causal narrative; our tendency to applaud our own supposed skill in circumstances when we’ve actually benefited from dumb luck.
And looking at the financial crisis, it is easy to see dozens of errors of perception. Traders misperceived the possibility of rare events. They got caught in social contagions and reinforced each other’s risk assessments. They failed to perceive how tightly linked global networks can transform small events into big disasters.
Taleb is characteristically vituperative about the quantitative risk models, which try to model something that defies modelization. He subscribes to what he calls the tragic vision of humankind, which “believes in the existence of inherent limitations and flaws in the way we think and act and requires an acknowledgement of this fact as a basis for any individual and collective action.” If recent events don’t underline this worldview, nothing will.
If you start thinking about our faulty perceptions, the first thing you realize is that markets are not perfectly efficient, people are not always good guardians of their own self-interest and there might be limited circumstances when government could usefully slant the decision-making architecture (see “Nudge” by Thaler and Cass Sunstein for proposals). But the second thing you realize is that government officials are probably going to be even worse perceivers of reality than private business types. Their information feedback mechanism is more limited, and, being deeply politicized, they’re even more likely to filter inconvenient facts.
This meltdown is not just a financial event, but also a cultural one. It’s a big, whopping reminder that the human mind is continually trying to perceive things that aren’t true, and not perceiving them takes enormous effort.

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terça-feira, outubro 28, 2008

Papel do medo

O papel do medo no mercado
Renae Merle *
O Estado de São Paulo - 26/10/2008

As desvairadas oscilações horárias do mercado se tornaram o exemplo da turbulência provocada pela crise financeira, mas ainda deixam perplexos muitos profissionais do mercado. A média industrial Dow Jones agora viaja rotineiramente centenas de pontos em questão de horas, apenas para mudar de direção em muitos casos. Num único dia no início do mês, o índice percorreu mil pontos pela primeira vez na história. Em outro dia, uma recuperação de 400 pontos durante a última hora de pregão conferiu ao índice um ganho histórico de 936 pontos.

Durante a última hora de pregão no dia 20, o índice Dow subiu mais de 100 pontos. Os analistas financeiros sugerem que as agudas guinadas para cima e para baixo refletem a incerteza dos investidores quanto à velocidade com a qual a crise financeira pode ser resolvida e se a recessão vai ser transmitida do setor bancário para outros setores da economia.

Ganhos e perdas íngremes também foram detonados conforme as ações atingem patamares predeterminados de compra e venda, provocando negociações automáticas e causando um efeito chicote entre os investidores.

As maiores oscilações têm ocorrido com freqüência durante as últimas horas do pregão, o que demandou uma supervisão mais atenta por parte da Agência Reguladora da Indústria Financeira(FIRA), uma reguladora não-governamental de empresas seguradoras. O fim de um dia de negociações é o momento no qual os investidores institucionais, incluindo fundos de hedge e fundos mútuos, correm para atender as demandas dos clientes e tirar o dinheiro do mercado.

Os giros transformaram até os mais experientes profissionais do mercado em investidores desconfiados, a espera de uma pequena notícia capaz de virar a maré e dar início a um estouro da manada, seja em alta ou em queda. “O psicológico e o emocional constituem boa parte daquilo que impulsiona o mercado”, disse Andrew Brooks, chefe de comércio de ações junto à T. Rowe Price. “Estamos obviamente passando por um momento extremamente emotivo e esquizofrênico.” O índice de volatilidade da bolsa de commodities e valores mobiliários da Chicago Board Options Exchange, conhecido como VIX, tornou-se um indicador diário da ansiedade dos investidores. O VIX mede o quanto os investidores esperam que oscile o valor das ações, e é freqüentemente chamado de “medidor do medo”. Este índice fechou em 70,33 na sexta-feira, 17 de outubro, o maior valor já registrado, e atingiu o valor de 81,17 durante os dias de negociação da semana passada. Em tempos normais, seu valor transita na casa dos 15 a 20.

“Não fazemos idéia de que rumo as coisas irão tomar. É isso que ‘alta volatilidade’ quer dizer”, disse Robert F. Engle, professor de finanças e diretor do Centro de Econometria Financeira da Universidade de Nova York.

O índice de volatilidade baixou para 53 no dia 20 enquanto Wall Street celebrava os sinais precoces de que os esforços do governo para descongelar os mercados de crédito estariam obtendo resultado positivo.

Mas os analistas dizem esperar que a volatilidade perdure durante algum tempo, quem sabe por todo o fim do ano. A volatilidade do mercado proporciona uma oportunidade para alguns negociadores por meio do lucro com mudanças abruptas. “É ruim para nós, mas alguém está prosperando em cima desta volatilidade”, disse Ashwani Kaul, diretor de pesquisas da Thomson Reuters. “Sempre que há volatilidade, alguém está ganhando dinheiro.”

O último período de volatilidade contínua foi entre 2000 e 2003, após o colapso da bolha da internet e os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, disse Engle. “Já excedemos em muito o que ocorreu naquele período”, disse.

Mas a volatilidade atual não se compara à da Grande Depressão, disse Engle. “As notícias durante a Grande Depressão eram ainda mais dramáticas. Tivemos milhares de falências de bancos. O desemprego chegou a 30%”, disse ele. “O mercado de ações perdeu 70% do valor, em vez dos 35% a 40% que estamos vendo agora. Foi uma catástrofe econômica muito maior.” Os analistas dizem que parte da volatilidade recente poderia ter sido evitada se os investidores tivessem começado a reavaliar o mercado num momento anterior, talvez depois da falência do banco de investimentos de Wall Street, Bear Sterns, em março.

Um certo nível de volatilidade é natural quando os investidores reavaliam apressadamente o valor de setores inteiros, em vez de fazê-lo gradualmente ao longo do tempo, disseram. “Se o investidor inteligente tivesse se retirado gradualmente de suas posições mais arriscadas, não teríamos passado por uma queda tão abrupta”, disse Kaul.

O momento mais volátil do dia tornou-se a última hora de pregão, quando os fundos de hedge e fundos mútuos enfrentam pressão por parte dos seus clientes para obter lucro. Os negociadores às vezes recebem um pacote determinado de ações para vender e passam a maior parte do dia tentando obter o melhor preço. Mas ao final do dia, muitos deles precisam vender sem se importar com o preço, simplesmente para cumprir metas.

“Ao invés de trabalhar a venda para obter o melhor preço, eles acabam vendendo por qualquer valor apenas para atingir o patamar de lucro que seus chefes exigem”, disse Art Hogan, analista-chefe de mercado da Jeffrey’s & Co.

De acordo com o TrimLabs Investment Research, os investidores retiraram US$ 43 bilhões dos fundos de hedge em setembro, o maior saque jamais registrado num único mês. Cerca de US$ 22 bilhões foram retirados dos fundos mútuos americanos no mês passado, outro recorde.

Espera-se que outubro seja pior. “Claramente estamos testemunhando vendas forçadas”, disse Tobias Levkovich, estrategista-chefe para títulos do governo americano da Citigroup Investment Research. “Se você possuía uma ação que perdeu 60% do seu valor ao longo de três ou quatro meses, o único motivo para vendê-la agora seria a obrigação de fazê-lo.”

A FIRA também confirmou no dia 20 que está observando se a histórica volatilidade de final de dia está relacionada com a manipulação dos investidores. A agência está examinando se os negociadores têm estabelecido inapropriadamente durante os últimos 20 minutos de pregão - um período conhecido como “mercado em fechamento” - preços artificiais para as ações, em desacordo com o patamar de venda do dia.

As oscilações têm se mostrado inquietantes para alguns investidores.

“O período entre as 15 horas e 16 horas foi seqüestrado por alguns destes fundos de hedge e fundos mútuos maiores, seja quem for que disponha de grande volume de transações”, disse Kaul. “É necessária uma enorme quantidade de dinheiro e um imenso volume de transações, mas se eles quiserem elevar os preços, eles o fazem. Se quiserem derrubá-los, eles os derrubam.”

*Renae Merle escreve para o Washington Post

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sexta-feira, outubro 17, 2008

Risco e gene



Segundo esta notícia RISK-TAKING: IN THE GENES a nossa attitude perante o risco pode depender, parcialmente, da genética. Dois genes, que regulam a atividade do cérebro, afetam a proporção que uma pessoa investe seus ativos em investimentos de risco.

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quarta-feira, outubro 15, 2008

Efeito Manada

O efeito manada é uma das pesquisas realizadas em finanças comportamentais. As pessoas agem conforme o que é feito pela manada.

Este viés ajuda a explicar o comportamento das pessoas em situações de crise. Uma forma de entender este efeito é através desta fotografia que encontrei na internet.

A fotografia mostra as pessoas num campo de futebol reagindo da mesma forma.

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sábado, outubro 11, 2008

Ilusão


Hoje, um setor inteiro da economia norte-americana - filiação à ginástica - parece baseada na auto-decepção. Muitas pessoas superestimam quanto elas irão visitar uma academia de ginástica. (...) Um estudo com 7752 membros de academia de ginástica, feito com 3 clubes e 3 anos, confirmou como nós superestimamos nossa propensão ao exercício físico. Sob um contrato, o cliente paga um cliente paga uma taxa fixa mensal de 70 dólares. As pessoas com este acordo vão a academia cerca de 4,3 vezes ao mês, em média. Isto significa um preço médio por visita de $17.

Essa mesma pessoa poderia compra um passe com dez ingressos, que custaria exatamente $10 por visita, um preço muito menor. A despesa média seria $43 em lugar de $70 (existe também um ingresso único por $12, que seria mais barato ainda).

As pessoas gastam [mais] porque elas não estão dispostas a enfrentar as suas ilusões sobre o quanto - ou o pouco - elas adoram exercício. Ou elas podem pensar, erradamente, que a taxa fixa vai incentivá-las a ir a academia com mais freqüência. (...)

Este estudo produziu outro resultado. As pessoas que não visitam a academia tomam muito tempo para cancelar seus contratos. Elas não gostam de admitir que são lesmas preguiçosas.


Tyler Cowen, Discover your inner Economist, Dutton, 2007, p. 118-119, sobre pesquisa de Stefano DellaVigna e Ulrike Malmendier, Paying not to Go to the Gym, American Economic Review, June, 2006.

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sexta-feira, outubro 10, 2008

Publicação e Economia

Na teoria econômica a maldição do vencedor (winners curse) remete à idéia de que alguém que coloca o lance vencedor em um leilão pode ter pago demasia. Considere, por exemplo, os lances de desenvolver um campo petrolífero. A maioria das ofertas estão próximas do verdadeiro valor dos recurso, então a proposta mais elevada, provavelmente pagou demais.

A mesma coisa pode estar acontecendo na publicação científica, de acordo com uma nova análise. Com tantos trabalhos científicos perseguindo tão poucas páginas nas mais prestigiadas publicações, os vencedores poderiam ser os mais prováveis para a promover resultados dramáticos importantes que mais tarde podem-se revelar falsos.

Isso produz uma imagem distorcida da investigação científica conhecimento, com resultados menos dramáticos (mas mais exato) relegados para obscuros periódicos ou inéditos sem publicação.

Em Public Library of Science (PloS) Medicine, um periódico on-line, John Ioannidis, um epidemiologista da Faculdade de Medicina em Ioannina, na Grécia, e os seus colegas, sugerem que uma variedade de condições econômicas, tais como oligopólios, escassez artificial e maldição do vencedor, podem ter analogias na publicação científica.

Publish and be wrong - Oct 9th 2008 - The Economist

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quarta-feira, outubro 08, 2008

Ignóbil

A reação de Dan Ariely ao receber o prêmio Ignobil pelo trabalho em finanças comportamentais:

"I've won quite a lot of academic awards; I can't think of one that makes me happier than this one," said Dan Ariely, a Duke University economist and author of the book "Predictably Irrational: The Hidden Forces that Shape our Decisions," who said his deserving work has been passed over year after year.

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Padrões na crise?

Olhe as duas figures. Você consegue enxergar algum padrão?



Uma pesquisa mostrou que quando uma pessoa sente que não possui controle sobre sua vida, tem-se mais probabilidade de ver padrões onde não existe. (A imagem da esquerda não tem nada; da direita, o planeta Saturno e seus anéis) Pessoas com tendencia a acreditar em conspirações e supertições possuem este tipo de sentimento.

Esta pesquisa foi usada aqui para tentar entender os políticos que enxergam padrões onde não existe.

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sexta-feira, outubro 03, 2008

Finanças Comportamentais é premiada no Ignobil

Lista completa:

Nutrição
Massimiliano Zampini da Universidade de Trento, Itália, e Charles Spence da Universidade Oxford, Reino Unido, por modificar eletronicamente o ruído de uma batata frita a fim de fazer com que a pessoa que a mastiga pensar que ela é mais crocante e fresca do que realmente é.

Paz
O Comitê Federal Suíço de Ética para Biotecnologia Não-Humana e os cidadãos suíços, por adotar o princípio legal de que plantas têm dignidade.

Arqueologia
Astolfo G. Mello Araujo e José Carlos Marcelino,da Universidade de São Paulo, por medir como o curso da história, ou pelo menos o conteúdo da escavação de um sítio arqueológico, pode ser remexido pelas ações de um tatu vivo.

Biologia
Marie-Christine Cadiergues, Christel Joubert e Michel Franc da Escola Veterinária de Toulouse, França, por descobrir que as pulgas que vivem em um cão podem saltar mais alto que as que moram em um gato.

Medicina
Dan Ariely, da Universidade Duke, EUA, por demonstrar que remédios inúteis caros funcionam melhor que remédios inúteis baratos.


Ciências Cognitivas
Toshiyuki Nakagaki, da Universidade de Hokkaido, Hiroyasu Yamada, Ryo Kobayashi da Universidade de Hiroshima, Atsushi Tero, Akio Ishiguro da Universidade de Tohoku, and Ágotá Tóth da Universidade de Szeged, na Hungria, por descobrir que gosma pode resolver quebra-cabeças.

Economia
Geoffrey Miller, Joshua Tybur e Brent Jordan da Universidade do Novo México (EUA) por descobrir que o ciclo de ovulação de uma stripper afeta a gorjeta que recebe.

Física
Dorian Raymer da Iniciativa Observatórios Oceânicos da Scripps, e Douglas Smith, da Universidade da Califórnia, San Diego, por provar matematicamente que montes de barbantes, cabelo ou qualquer outra coisa acabarão, inevitavelmente, emaranhados em nós.

Química
Sharee A. Umpierre da Universidade de Porto Rico, Joseph A. Hill dos Centros de Fertilidade de da Nova Inglaterra, Deborah J. Anderson da Escola de Medicina de Boston e da Faculdade de Medicina de Harvard, por descobrir que a Coca-Cola é um espermicida eficiente; e para Chuang-Ye Hong da Universidade Médica de Taipé, C.C. Shieh, P. Wu, e B.N. Chiang (todos de Tawian) por descobrir que, na verdade, não é.

Literatura
David Sims da Escola de Administração de Negócios Cass, Inglaterra, por ter redigido o estudo You Bastard: A Narrative Exploration of the Experience of Indignation within Organizations (Seu Filho da Mãe: Uma Exploração Narrativa da Indignação Dentro das Organizações).

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