sexta-feira, outubro 19, 2012

Efeito vencedor

Quando John Coates passou por um período muito bem-sucedido como corretor de valores do Deutsche Bank e do Goldman Sachs, a euforia que ele experimentou foi tão poderosa que ele decidiu investigar o tema. Assim, após 13 anos trabalhando no pregão da bolsa de valores em Wall Street, ele se mudou para os laboratórios de neurociências da Rockefeller University, em Nova York (EUA), e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

No laboratório, o operador que virou neurocientista se empenhou em descobrir o que aconteceu com seu cérebro quando ele estava mergulhado naquele êxtase. Após vários anos pesquisando estudos feitos com animais e algumas experiências interessantes com a saliva, ele concluiu que a disposição para assumir riscos é motivada por um "efeito vencedor" - um mecanismo hormonal em que cada vitória leva a tomada de mais riscos. "O êxtase era mais poderoso que qualquer coisa que já sentira", disse Coates em uma entrevista concedida durante uma conferência médica em Londres, descrevendo a experiência de conseguir lucros enormes e grandes bonificações em alguns dos maiores bancos do mundo.

Outros especialistas em psiquiatria e neurociências presentes na conferência afirmaram as consequências de um "efeito vencedor" que foge do controle podem levar algumas pessoas a se tornarem políticos corrompidos, ditadores cruéis e até mesmo cirurgiões que gostam de 'brincar de Deus' nos hospitais. "Você fica eufórico, iludido, passa a dormir menos, ter pensamentos competitivos e um maior apetite pelo risco. Basicamente, você se transforma em um negociador sem escrúpulos", diz Coates.

Depois que publicou os primeiros estudos científicos que exploram esses traços presentes nos operadores do mercado, Coates diz que foi procurado por pesquisadores que analisam políticos, soldados e até mesmo esportistas. "Conforme as pesquisas avançavam, ficou claro que estávamos indo além de estudar a biologia da tomada de riscos no mercado financeiro, estávamos estudando a biologia de todos os tipos de tomada de risco", disse

Com as evidências das consequências extremas do "efeito vencedor" - operadores que partem para falcatruas e quebram bancos inteiros, líderes políticos corrompidos pelo poder e que tratam seus subordinados com crueldade ou soldados que se transformam em máquinas de matar -, Coates está indo mais fundo. "Quando você vê essa transformação ocorrendo nas pessoas, vê que elas começam a se portar como senhores do universo. E não se trata de um processo cognitivo. Não se trata nem mesmo de ganância. É mais a sensação de consumar o poder, uma sensação de que você está dominando o mundo."

Coates diz que ficou muito impressionado com o fato de que quase todos os estouros envolvendo mais de US$ 1 bilhão - do tipo que sacode as estruturas de um banco - foram obra de um operador que se encontrava no fim de um período de resultados excepcionais. "Uma sequência de vitórias parece estimular uma tomada de riscos excessiva", diz.

Intrigado e na ânsia de aplicar sua experiência anterior em sua função de pesquisador em neurociências, Coates pediu a alguns ex-colegas da City de Londres que concedessem a ele algum tempo e um pouco de saliva. Ao longo de oito dias úteis consecutivos, pesquisadores colheram amostras de saliva de 17 operadores do sexo masculino, de manhã e à tarde, para medir os níveis de testosterona durante o dia de trabalho.

Os resultados foram reveladores. O nível diário de testosterona esteve significativamente mais alto nos dias em que os operadores ganhavam mais dinheiro do que a média mensal em um mês. E no período da manhã, quando eles estavam com os níveis de testosterona elevados, seus lucros eram significativamente maiores do que quando os níveis de testosterona estavam baixos. Essas constatações refletem estudos parecidos feitos com animais que também já constataram o "efeito vencedor" entre machos que brigam por território ou por uma parceira, por exemplo.

Segundo Coates, elas também mostram que a decisão de assumir riscos pelos humanos é psicológica e não apenas uma atividade cognitiva. "Há na economia a crença de que andamos por aí com um supercomputador em nossas mentes, que não é afetado pelo corpo e tem a capacidade de calcular os retornos, as probabilidades e a alocação ideal de capital", afirmou. "Mas é claro que a ciência não dá suporte a isso."

As observações feitas por Coates na conferência encontraram respaldo nas de outros participantes. O evento reuniu psiquiatras e neurocientistas para examinar o fenômeno do excesso de confiança na vida pública - em outras palavras, o que leva as pessoas com poder a se tornarem corruptas e se comportar de maneira arrogante e destrutiva. Nassir Ghaemi, professor de psiquiatria da Tufts University, de Massachusetts, disse na conferência que desordens como a depressão podem frequentemente auxiliar líderes políticos, econômicos e militares em tempos de crise, porque os depressivos são mais compreensivos, são mais autocríticos e mais realistas em relação ao mundo que os cerca.

Coates sugere que o que dá errado no caso dos operadores mal intencionados é que o mecanismo hormonal que está por trás do "efeito vencedor" se torna patológico, alimentando a "exuberância irracional" e a tomada excessiva de riscos. Ele também disse que não basta os comentaristas e analistas simplesmente observarem os erros. Eles devem exigir estudos científicos adequados que possam fornecer respostas conclusivas sobre o que deu errado. "O que estou descrevendo são dados científicos negligenciados", disse.

A hipótese de Coates é que num certo nível de aumento da testosterona, a tomada de risco efetiva gradualmente se transforma em uma onda biológica de comportamento de risco excessivo. Se este for o caso, é preciso mudar a maneira como os operadores são monitorados. "O problema com os bancos é que seus sistemas de gerenciamento de riscos e planos de remuneração estão ampliando essas ondas biológicas, quando deveriam fazer o contrário. Em vez de sempre aumentar os limites de risco de operadores que acumula vitórias, eles deveriam limitá-los ou mesmo dizer a eles para liquidar suas posições e tirar três semanas de férias até reequilibrar os hormônios", afirma. (Tradução Mario Zamarian)

O "efeito vencedor" e o perigo de perder tudo depois de ganhar muito - 18 de Outubro de 2012 - Valor Econômico - Kate Kelland | Reuters, de Londres (via CVM Clipping)


terça-feira, outubro 16, 2012

Confiança e Inovação


Confiança e Inovação

Algumas pessoas são mais confiantes que outras. O excesso de confiança pode ser ruim quando as pessoas tomam um risco muito acima do que seria o desejável. Estes indivíduos podem levar empresas à falência e são responsáveis pelas bolhas que resultam nas crises do mercado.

Mas pessoas com baixo nível de confiança tendem a evitar riscos. E o processo de inovação depende, basicamente, de riscos que são assumidos nas situações onde os outros seres humanos são descrentes.

De uma maneira geral acreditava-se que os grandes inovadores, como Steve Jobs, fossem excessivamente confiantes. Uma pesquisa publicada no Journal of Finance mostra que esta relação é realmente verdadeira. Três pesquisadores tiveram que ser criativos em mensurar “confiança” e “inovação”. Como para realizar a pesquisa eles usaram presidentes de empresas, a inovação foi medida de maneira indireta pelo número de patentes registradas por sua empresa. Já para medir a confiança foram usadas aproximações: as opções e a cobertura da imprensa.

Durante dez anos, a pesquisa acompanhou os presidentes e constatou que empresas com executivos mais confiantes possuem maior volatilidade; mas, por outro lado, estas empresas são mais inovadoras, obtendo mais patentes.

Em outras palavras, a confiança excessiva ajuda os executivos a explorar as oportunidades de crescimento.

Para ler mais: Are overconfident CEOs better innovators? – David Hirshleifer, Angie Low e Siew Hong Teoh. Journal of Finance, agosto de 2012, p. 1457 a 1498

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segunda-feira, outubro 15, 2012

Efeito Manada


Remar contra a maré pode soar como uma péssima dica no mercado de capitais. Contudo, existem investidores que acreditam que isso não só é possível como também é lucrativo. A abordagem de investimento contrário ao mercado (contrarian investing) entende que a maioria das pessoas está, em muitas ocasiões, errada a respeito das decisões de compra e venda das ações. Segundo essa polêmica linha de raciocínio, a estratégia deve se pautar por comprar os papéis quando todo mundo está vendendo e vendê-los tão logo os demais passem a comprá-los. Esse tipo de investidor acredita que, quando uma oportunidade de investimento se torna reconhecida por todos no mercado, significa que o espaço para ganhos já passou. Para os contrarians, grande parte dos investidores tende a comprar ações quando elas já estão caras, seguindo um efeito de manada e, portanto, auferem poucos ganhos.

POR QUE IR CONTRA O MERCADO?

As bolhas especulativas são exemplos emblemáticos do efeito de manada ao qual os contrarians resistem. Muitos investidores novatos, entusiasmados com a possibilidade de ganho rápido, entraram no mercado pouco antes de haver o estouro das bolhas. É nesse momento que passam a atuar os que investem contra o mercado. Quando todo mundo estava comprando e acreditando numa oportunidade de fazer bons negócios, os contrarians percebiam que era hora de vender suas posições. Eles partem da lógica, contraintuitiva, de que o ser humano, naturalmente social, tem certa resistência em rejeitar seus pares e "ir contra a maré". É justamente no resistir a essa tentação que residem as oportunidades de ganhos para os contrarians.

A estratégia pode ser utilizada tanto para períodos curtos de tempo quanto para horizontes mais longos. Ela não se apoia só nos preços das ações — muitos investidores mesclam a estratégia de investimento em valor com o investimento contra o mercado. Nem sempre os resultados indicam a mesma decisão de compra ou venda, mas a análise dos fundamentos da empresa fornece mais um componente para o contrarian justificar sua posição.

OPÇÃO PELA FLEXIBILIDADE

Alguns investidores adotam posições baseadas em uma mentalidade permanente de queda ou de subida do mercado, como numa montanha-russa. Os seguidores da estratégia de investimento contra o mercado não têm essa postura. Os contrarians são flexíveis e estão constantemente avaliando, de maneira geral, tanto o preço da ação-alvo quanto o mercado.
AS LIÇÕES DE SER DO CONTRA

O investimento contra o mercado traz alguns insights interessantes, mesmo para investidores que não pretendam segui-lo. Por exigir um alto grau de disciplina e análise, o grupo dos contrarians é formado por investidores experientes e dedicados. Qualquer aplicador pode extrair pelo menos três lições dessa estratégia: 1. Pense diferente: a independência de pensamento que os contrarians utilizam requer autocontrole e a total separação da influência emocional na decisão de investir. Aliada à filosofia do "comprar na baixa e vender na alta", essa disciplina pode trazer bons ganhos para o investidor. 2. Não se baseie apenas na tendência de preços: alguns investidores adotam crenças predeterminadas a respeito do mercado — alguns são sempre otimistas; e outros, sempre pessimistas quanto às tendências da bolsa. Os contrarians estão permanentemente atentos às chances de fazer seu dinheiro render e buscam ser ágeis para acertar no timing de compra e de venda. Seja na baixa ou na alta, existem oportunidades de ganho. 3. Nem sempre a maioria está certa: não é correto dizer que a maioria do mercado está sempre errada, entretanto é igualmente falso assumir que ela está sempre certa. O contrarian prefere acreditar que a maioria tende a estar errada e agindo por impulso de manada. Manter a racionalidade e o distanciamento das emoções é uma importante disciplina para qualquer investidor.

E FUNCIONA?

Como um exemplo ilustrativo dessa estratégia, analisamos, entre 2008 e 2009, dez empresas que tiveram as quedas mais acentuadas da BM&FBovespa. Os papéis desse grupo de "perdedoras" despencaram, em 2008, 88% em média, mais que o dobro do índice Bovespa, que caiu 41%. O comportamento dessas mesmas dez ações foi bastante superior à média no ano seguinte — essa carteira hipotética subiu 238% em média —, quase três vezes a subida do Ibovespa no mesmo período (veja gráfico abaixo).

Isso significa que as ações que mais perderam em 2008 se mostraram grandes "vencedoras" no ano seguinte. Um investidor contrarian que tivesse comprado esses dez piores papéis de 2008 teria auferido um retorno bem superior à média de mercado. Essa evidência está em linha com o conceito de Beta, o indicador de risco apresentado no capítulo 3. Quanto maior o Beta, mais voláteis são os retornos, ou seja, tanto as altas quanto as baixas são mais intensas que a média do mercado.

Fugindo da manada - 16 de Outubro de 2012 - Revista Capital Aberto Especial - Rafael Liza

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Frase

"Como seres humanos também são animais, gerenciar um milhão de animais me dá dor de cabeça"

Terry Gou, Chairman da Foxconn, comentado sobre a substituição de funcionários por robôs.

domingo, outubro 14, 2012

Racionalidade, Suicídio e Homem-bomba

A evidência sobre a racionalidade de suicídio é persuasivo. Por exemplo, no Estado do Oregon, o suicídio é legal. (...)a partir de uma perspectiva econômica este comportamento é racional, porque representa uma clara preferência expressa.

O que isso tem a ver com os homens-bomba? Se for racional cometer suicídio, então é certamente racional atingir um objetivo no processo. Eliminando os inimigos é - a partir da perspectiva da economia - uma meta racional. Além disso, a pesquisa moderna em terroristas suicidas (ver Kix [2010]) mostra que eles apresentam exatamente as mesmas características de isolamento e depressão, que leva em muitos casos, ao suicídio sem a bomba. 

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sábado, outubro 13, 2012

Autocontrole

Um dos estudos mais conhecidos da área comportamental é o teste do marshmallow. Este teste verifica a capacidade de autocontrole das crianças: diante de doces, elas resistem ou não a tentação de comer alguns doces.



O teste do marshmallow funciona da seguinte forma: crianças recebem um prato com um marshmallow. Se esperarem um determinado tempo, elas receberão dois marshmallows. O curioso do teste é que os cientistas tentam verificar se o resultado do teste está relacionado com o sucesso futuro da criança.

O estudo original foi realizado na década de 70, na Universidade de Stanford. Mais tarde foi observado a relação entre o resultado e o desempenho futuro da criança, incluindo o teste SAT, um teste de desempenho acadêmico.Um novo estudo parece demonstrar que a capacidade de resistir à tentação é influenciada também pelo ambiente.

As crianças que sofreram interações confiáveis imediatamente antes da tarefa marshmallow esperaram, em média, quatro vezes mais -12 contra três minutos - do que jovens em situações não confiável.

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terça-feira, outubro 02, 2012

Ignóbil

O prêmio Ignóbil deste ano premiou uma pesquisa muito interessante para a área comportamental. Um dos ramos crescentes de pesquisa é colocar uma máquina que "lê" o que se passa no cérebro, denominada de ressonância  magnética funcional (fMRI), quando, por exemplo, você mostra imagens. Esta experiência básica na neurociência tem sido reproduzida muito nos últimos anos. Os ganhadores do Ignóbil fizeram um estudo deste tipo, com uma importante diferença: em lugar de um ser humano usaram um salmão morto.

A experiência mostrou as enormes fraquezas das pesquisas com fMRI. Apesar do deboche do prêmio, a constatação da pesquisa foi útil para alertar sobre os problemas da neurociência.

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