domingo, agosto 20, 2023

Padrões Ocultos

Padrões obscuros são quando as pessoas projetam interfaces com a intenção de enganar ou ludibriar. Infelizmente, todos estamos familiarizados com esses padrões. Eles estão por toda parte. 

Pode ser o teste gratuito que levou inesperadamente a uma assinatura ou a assinatura que foi fácil de fazer, mas precisou ser cancelada enviando uma carta. Ou pode ser uma tentativa externa de dar controle sobre a privacidade, mas com opções tão confusas a ponto de fazer o oposto. Talvez você tenha tentado ajustar as preferências de cookies em um site de notícias, mas só encontrou um botão para 'Aceitar todos' depois de editar suas preferências — grrrr! Enganar as pessoas dessa forma para compartilhar mais informações do que o pretendido passou a ser conhecido como "Privacy Zuckering" (alusão a Mark Zuckerberg). 

Lembra dos pop-ups que só podiam ser fechados depois de encontrar um pequeno 'x' que se movia pela tela? 

Recentemente, eu queria pausar uma assinatura, mas fui informado de que isso invalidaria todos os créditos não utilizados acumulados que eu já tinha pago (e ainda estou pagando). O The Pudding publicou uma ótima análise sobre como cancelar assinaturas de serviços online. Às vezes, isso pode ser involuntário — naturalmente, há menos incentivo para trabalhar em ótimas experiências de encerramento de conta e cancelamento de assinatura do que para se inscrever. 



O exemplo no esboço (figura acima) foi uma situação real que vivenciei (eu gostaria de ter tirado um screenshot) em um site de companhias aéreas, onde os designers esconderam a opção de não comprar seguro dentro da lista de seleção de país. 

E esses padrões não se limitam apenas ao ambiente online. Cassinos astutos empregam técnicas de design no mundo físico para seu benefício, como remover referências ao passar do tempo, como relógios ou janelas, usar navegação labiríntica e os sons constantes de moedas tilintando para dar a sensação de ganho contínuo. 

"Padrões obscuros" foi cunhado por Harry Brignull e documentado no site Deceptive patterns e agora em um livro. 

Fonte: aqui

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segunda-feira, agosto 07, 2023

Não se esqueça da matriz de confusão

Uma das formas mais usuais de ser enganado é quando uma pessoa chama a atenção apenas para um lado de uma situação. Vamos trabalhar com um exemplo simples. Alguém diz para você que no passado ele comprou ação de uma empresa quando ninguém acreditava nela. Por esse motivo, agora ele está sugerindo que você compre a ação de uma nova empresa que apareceu no mercado, a XYZ. Afinal, seu passado de sucesso é algo que sustenta essa indicação.

Provavelmente, o leitor já deve ter visto essa situação antes. E isso ocorreu não somente em indicações de investimento, mas também em casos relatados em grupos de mídia social ou por pessoas que tentam argumentar com você usando frases como "eu conheço uma pessoa..."

Para esses casos, pense sempre na grade de possibilidades ou na matriz de confusão. O primeiro nome foi proposto por Daniel Simons e Christopher Chabris, em "Nobody’s Fool". Mas na estatística, o nome é matriz de confusão, e é esse que iremos usar. De forma irônica, a matriz de confusão é capaz de evitar confusões nos argumentos manipulados, como no parágrafo inicial deste texto.

A matriz de confusão é um retângulo com quatro áreas. De um lado, temos o que aconteceu; do outro lado, o que foi sugerido ou previsto. A seguir temos o desenho desta matriz:



Quando alguém afirma que acertou na escolha de um investimento no passado, está falando da caixinha branca da figura acima. A pessoa optou por investir e acertou, pois o retorno foi bom. Veja que a informação que foi passada - "acertei no passado" - não é imparcial, pois não diz nada sobre as outras três áreas da figura.

Vamos começar com a caixinha amarela. Nessa situação, a pessoa decidiu não investir e foi uma decisão adequada, já que o retorno foi ruim. Tanto a caixinha amarela quanto a área branca são as regiões dos acertos. Como as oportunidades de investimento são inúmeras, geralmente não lembramos dos investimentos ruins que não fizemos (área amarela) e valorizamos muito os investimentos acertados.

Agora considere a área laranja e vermelha. A soma das duas representa nossos erros. Veja o caso da caixinha vermelha. A pessoa decidiu não investir em uma aplicação e a decisão não foi boa, já que o retorno foi adequado. São as oportunidades de investimento adequadas que perdemos na vida. Poderíamos ter comprado ações daquela startup logo no seu começo e não fizemos. Mas o pior é a área laranja, já que investimos e o retorno foi ruim.

Se quisermos saber se um investidor é bom ou não, devemos olhar as quatro situações. Talvez isso seja difícil, mas pelo menos observar a área laranja e a área branca. Se alguém acertou no passado (área branca), talvez tenha errado também (laranja) e somente assim poderemos saber se a bola de cristal dessa pessoa está quebrada ou não.

Assim, se alguém afirmar que fez um ótimo negócio no passado e isso é sinal de que ele sabe o que está falando, pense na matriz de confusão. Essa pessoa está confundindo você ao não entregar todas as informações possíveis.

Veja uma situação similar a esta: uma pessoa alardeou que apostou em um placar no futebol e ganhou quinhentos reais. E concluiu dizendo que quando ele apostava sempre conseguia um trocadinho para pagar as contas. Essa pessoa está revelando a área branca da figura, o sucesso. Mas não a área laranja, do insucesso quando faz aposta.

E outra situação: um amigo mandou no grupo que pessoas morreram logo após receber uma vacina. Com isso, alardeia sobre o perigo da vacina e sua decisão de não vacinar, esquecendo de contar o número de pessoas que não morreram exatamente por tomarem a medicação indicada pela ciência.

Mais uma: a empresa de auditoria fracassou após passar por problemas nas Americanas. A auditoria deveria ter percebido o que estava ocorrendo e não o fez. Mas e as vezes em que a auditoria pegou o início de uma fraude e isso não foi relatado por uma questão de sigilo? Dizer que as auditorias são ruins baseado em um caso é esquecer da matriz de confusão."