sábado, dezembro 01, 2012

Investimento usando finanças comportamentais

Cássio Beldi, herdeiro do grupo Splice (que começou com telefonia, em 1962, e hoje tem negócios nas áreas imobiliária, de educação e infraestrutura), tem apenas 26 anos, mas pegou gosto pelo mundo dos investimentos logo cedo. “Com 15 anos montei minha primeira carteira de ações”, diz. Em 2008, criou um clube de investimentos em ações e, com o crescimento e os acertos, abriu uma gestora de recursos de terceiros no ano seguinte. Assim nasceu a Mint Capital — “mint”, em inglês, significa “criar valor”.

Depois de ter três sócios, Beldi comprou a parte de todos no ano passado. Hoje, a gestora tem nove fundos, com patrimônio total de R$ 20 milhões, e acaba de lançar um nos Estados Unidos. A ideia é começar com seu próprio capital , e depois começar a oferecer a opção aos clientes também. A Mint também cuida de investimentos patrimoniais das famílias clientes — mas por questões de sigilo, não pode revelar a quantia. E acaba de entrar na área de consultoria.

Entusiasta e defensor da teoria das finanças comportamentais — que busca isolar a emoção das decisões de investimento — Beldi bebeu na fonte de um dos papas do assunto, o professor James Montier, na Columbia Business School (em Nova York). O jovem gestor, também, aplica com rigor a teoria do “value investing”: “Se uma ação está barata, e a empresa não tem prejuízo, comprá-la é sempre um bom negócio”.

Como e quando começou sua carreira no mercado financeiro?

Foi em 2003, quando o grupo, que era industrial, decidiu vender todas as empresas e ficou com muito dinheiro em caixa. Meu avô e a segunda geração estavam acostumados a lidar com negócios, não com dinheiro. Mas eu fui criado para saber lidar com dinheiro. Comecei fazendo a gestão do dinheiro da família, tinha que ganhar dinheiro sendo bastante conservador. Foi lá que nasceu a ideia de aplicar as filosofias que hoje aplico nos fundos de ações da Mint (value investing e finanças comportamentais). Os conceitos eram pouco conhecidos aqui e em 2009, nossos fundos eram os únicos a aplicar essas teorias.

O dinheiro da família está na Mint?

Não, ao contrário, a Mint não é um projeto familiar, é um voo solo meu. Quase não há dinheiro da minha família aplicado lá, tem dinheiro meu e dos clientes. Eu trabalhei muito para o grupo, aprendi, mas descobri que não queria mais fazer parte, hoje sou apenas acionista.

Quantos fundos a gestora tem?

São nove, todos de ações, a maioria exclusivos para as famílias que são nossas clientes. No mês passado, lançamos um fundo de ações americanas, replicando a mesma estratégia dos nossos fundos aqui. Começamos pequeno, com dinheiro meu, é um teste interno. Em no máximo um ano, criaremos um fundo aqui para aplicar dinheiro dos nossos clientes brasileiros nesta carteira. Nos EUA hoje há muitas oportunidades de boas ações baratas, como as da Intel, que estão com relação preço/lucro de 4. Aqui, boas empresas tem uma relação mais alta, de 8 (o que significa que leverá o dobro do tempo para recuperar o investimento).

Como a Mint escolhe os papéis para entrar na carteira?

A ideia das finanças comportamentais é se aproveitar dos vieses de mercado criado por emoções humanas, irracionais, para entrar na contramão - por exemplo, hoje estamos ‘aplicados’ em bancos e energia. Nós duvidamos das convicções dos gestores. Não casamos com ações. Trabalhamos com um grupo de 20 ações, distribuídas igualmente, e reavaliamos as carteiras após as divulgações de resultados trimestrais, se for o caso. Tudo o que acontece entre um resultado e outro é boato, emoções. Mas é preciso ter visão de longo prazo. Estudos recentes mostram que nenhuma crise financeira, por pior que seja, dura mais do que quatro anos. Não acreditamos em previsão de futuro, olhamos passado e presente. O que nos interessa é o preço. O princípio é simples, difícil é transformar o princípio em processo. Hoje, o processo é maior do que os gestores. Aplicamos a filosofia com muito rigor desde 2009. Fazemos uma alocação que pode ser chamada de anticrise. Vamos na direção oposta à manada.O segredo é separar as empresas puro-sangue das pangarés.

Então, vocês não têm ações de empresas da moda, como as do grupo EBX, por exemplo?

No caso da OGX, por exemplo,apesar de ter caído muito neste ano, ainda está cara. No presente, seria preciso 527 anos para ter retorno sobre o investimento. Pode ser a Petrobras do futuro, mas eu não preciso correr todo esse risco.

Há algum risco inerente a essa estratégia? Como mitigar?

Usamos um pouco de interferência humana, mas apenas para eliminar ações da carteira, nunca para incluir. E acreditamos que devemos estar sempre aplicados em ações, nunca com dinheiro em caixa. Se perdemos uma oportunidade, fica difícil recuperar.

E quais têm sido os resultados da estratégia?

Nesses quatro anos, ganhamos do IBX com algumas apostas fora da curva, como a Nossa Caixa em 2008 e Cielo no ano passado. Só em 2008 ficamos negativos. No momento, ações das elétricas, construtoras e bancos foram muito penalizadas, estão muito baratas em relação ao tamanho dos seus ativos. Temos muitas delas na carteira. E a relação preço/lucro mostra recuperação do investimento em 7 anos, ante 14 do IBX.

Fonte: Brasil Econômico via aqui