sexta-feira, dezembro 21, 2018

Finanças Comportamentais e Mercado de Ações no Brasil

O estudo buscou utilizar o modelo desenvolvido por Gokhale et al. (2015) para identificar existência de sobrerreação e vieses comportamentais no mercado de ações brasileiro e analisar seu desempenho como estratégia de investimentos na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBOVESPA), no curto e longo prazo, bem como testar sua robustez com simulações de janelas de tempo. Os impactos das finanças comportamentais nos mercados de capitais podem afetar as decisões econômicas, perpetuar ou aumentar anomalias na precificação de ativos e, em situações mais extremas e persistentes, contribuir para a formação de bolhas que podem comprometer todo o sistema financeiro de um país. O estudo traz, de maneira pioneira ao mercado de ações brasileiro, metodologia inovadora para identificar vieses comportamentais e obter retornos anormais e superiores aos retornos do Ibovespa. A pesquisa aplica o modelo desenvolvido por Gokhale et al. (2015) em três amostras com dados de cotações de empresas brasileiras de capital aberto que compõem o Ibovespa e o Índice Brasil Amplo (IBrA) no período 2005-2016. Com o software estatístico R, calculou-se o Índice Fundamental de Avaliação (Fundamental Valuation Index – FVI) para cada ação da amostra e a cada ano. A partir desse índice, identificaram-se as ações subavaliadas, indicando que o preço de venda não reflete seus fundamentos econômicos, e realizadas simulações de carteiras para investimento nos três meses ou no próximo ano. Os resultados indicam a possível existência de sobrerreação e vieses comportamentais no mercado de ações brasileiro que geram a possibilidade de retornos anormais superiores aos retornos do Índice Bovespa (Ibovespa). De forma similar ao mercado americano, as carteiras simuladas renderam, ao final do período de 2006-2016, mais de 274%, enquanto o Ibovespa rendeu aproximadamente 80%. Os testes de robustez confirmaram a eficácia do modelo. As diversas carteiras de investimento, simuladas em horizontes temporais distintos, renderam em média mais do que o Ibovespa. O estudo também confirmou as suposições de Gokhale, Tremblay e Tremblay (2015) sobre a inadequação do modelo para estratégias de curto prazo. 

O texto completo está aqui

quinta-feira, dezembro 13, 2018

Comportamental no Setor Público

Kleven, da Princeton University, faz um apanhado geral de pesquisas realizadas em “public economics” ou “economia do setor público”. Ele analisou 4.676 papers, desde a década de 80, que foram publicados no NBER. O trabalho é interessante pois traça um perfil dos assuntos ao longo do tempo. Até os anos 90 o grande assunto era impostos. A partir daí, começam a aparecer como destaque a educação e a questão das transferências.

Já a economia comportamental, que aparecia em 10% dos papers em 1980, teve um grande crescimento (gráfico). Nos dias atuais, mais de 40% dos artigos citam este assunto, com ênfase em social preferences e optimization frictions.

segunda-feira, dezembro 10, 2018

Desculpa...

Quando alguém esbarra em você e derrama seu café, o mínimo que podemos esperar deste desastrado é um pedido de desculpas. Na semana passada encontrei um lenço dentro de uma embalagem de iorgute (foto). O número do telefone para comunicar com a empresa não atendia e não tive a oportunidade de escutar um pedido de desculpas da empresa. De certa forma, a minha expectativa era escutar um pedido de desculpas; como não tive sucesso, a empresa perdeu um cliente.

Mas será que o pedido de desculpas funciona? Um grande experimento realizado com clientes da Uber mostrou que sim, dependendo da situação. Os pesquisadores classificaram o pedido de desculpa em cinco tipos:

Custosa - “desculpa, tome um dinheiro para compensar seus danos”
Compromissada - “desculpa, não farei novamente”
Status - “desculpa, sou um idiota”
Empatia - “desculpa, eu vejo que prejudiquei você”
Justificativa - “desculpa, não foi minha culpa”

O estudo foi realizado para investigar os três primeiros casos. Os pesquisadores analisaram as diferentes situações. Além de estudar os efeitos do pedido de desculpas, a pesquisa também observou o que ocorreu depois com o cliente. Por exemplo, se a empresa que fabricou o iorgute pede desculpas, mas no futuro volto a encontrar outro lenço, o pedido de desculpa não irá me parecer sincero. Ou se a empresa não atende o telefone de comunicação com o cliente, irá parecer que não está preocupada em ouvir seus clientes. Em outras palavras, a relação de uma empresa com seu cliente não irá encerrar com o pedido de desculpas; se a qualidade continuar ruim, o pedido de desculpa, como a desculpa do tipo compromissada, parecerá falso.

Os pesquisadores verificaram qual desculpa, entre a desculpa custosa, a compromissada ou a de status, funciona melhor. Um primeiro achado foi que não pedir desculpas tem consequência na relação seguinte com o cliente. Ou seja, o cliente se vinga, consumindo menos (ou não consumindo). Assim, não pedir desculpas é ruim.

A desculpa acompanhada de um cupom de promoção é bastante efetiva e pode aumentar o consumo futuro. Mas se o padrão futuro de serviço não é respeitado, as desculpas podem ter um grande impacto negativo. Os pesquisadores fizeram um teste interessante: distribuíram um cupom de 5 dólares aleatoriamente aos clientes da Uber; também distribuíram este mesmo cupom para clientes que não tiveram um boa experiência com a empresa. A distribuição funcionou melhor para o segundo caso, onde o prêmio estava associado a um pedido de desculpas. Os pesquisadores também encontraram que as desculpas dependem das características da viagem e das pessoas.

Halperin, Basil; Ho, Benjamin; List, John; Muir, Ian. Toward an understanding of the economics of apologies. Sep 2018.