quinta-feira, setembro 29, 2011

Roupas e Percepção

Um estudo feito por pesquisadores americanos concluiu que o jeito de se vestir pode mudar a percepção de terceiros sobre a cor da pele de uma pessoa.


Os cientistas vestiram pessoas ou com roupas casuais de trabalho, ou com macacões, e pediram a espectadores que categorizassem os rostos dos modelos como sendo brancos ou negros.


A probabilidade maior era, segundo a pesquisa, que os rostos fossem vistos como brancos quando as pessoas se vestiam com roupas casuais de escritório e como negros quando usavam os macacões.


O relatório da equipe de pesquisadores, baseados nos Estados Unidos, foi publicado na revista científica Plos One.


Os cientistas acham que, se as pessoas têm consciência das estratégias que usam para avaliar outras pessoas, os efeitos desses julgamentos subconscientes podem ser diminuídos.


"Este é um artigo realmente interessante que testa hipóteses sobre como nós categorizamos as pessoas", diz a psicóloga Lisa DeBruine, que estuda reconhecimento facial na Universidade de Aberdeen, na Escócia, e que não está envolvida no trabalho. (...)


"(Os resultados) indicam que a nossa bagagem cultural, e o que estamos esperando ver estereotipicamente, pode literalmente mudar o que nós vemos em outras pessoas", disse o estudante de graduação Jon Freeman, da Universidade Tufts, que liderou o estudo. (...)

Roupas alteram maneira como pessoas percebem cor da pele, diz estudo

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quarta-feira, setembro 28, 2011

Excesso de Confiança

Quando um professor aplica uma prova individual ele tenta medir o conhecimento de cada aluno. Entretanto, em algumas situações, um professor pode elaborar uma avaliar com consulta, incluindo ao colega. De uma maneira geral, acreditamos que o resultado da avaliação tende a melhor, premiando o grupo como um todo.

Uma pesquisa recente, realizada em Nottingham, mostrou que isto nem sempre é verdadeiro. Duas telas feitas, uma de Klee e outra de Kandinsky, foram apresentadas para dois grupos de pessoas. O primeiro grupo, as decisões deveriam ser individuais. No segundo grupo, as pessoas podiam discutir antes de tomar a decisão. O grupo que fez a consulta teve resultado pior. Ou seja, a consulta dentro do grupo piora o processo decisório, mesmo que as pessoas tenham considerado interessante a conversa no grupo.

Isto é estranho já que para grandes grupos o processo decisório parece melhorar (vide o livro A Sabedoria das Multidões).

Uma possível explicação para o resultado é que este tipo de decisão não é possível provar, de antemão, que um dos componentes do grupo conhece realmente a distinção entre os dois pintores. Ou seja, a resposta não é “demonstrável”. Nestas situações, os membros do grupo são influenciados pelo excesso de confiança daqueles que se julgam especialistas. É como o jogo de conhecimento, onde é possível perguntar aos universitários. Se o universitário diz que “tem certeza” da resposta, o inocente tende a ser conduzido pelo excesso de confiança do especialista (neste caso, o universitário).

(Foto: aqui)

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segunda-feira, setembro 26, 2011

Indicadores econômicos bizarros

Eis uma listagem de indicadores bizarros:

1. Anúncio de exercício e desemprego – Em momento de elevada taxa de desemprego muda os anúncios do exercito. Para evitar que muitas pessoas alistem, os anúncios mostram vídeos com exercícios pesados para afugentar recrutas

2. Prostituição – em épocas de prosperidade existem menos prostitutas e os preços são maiores.

3. Cueca – homens compram menos em tempos difíceis, para economizar. (Anunciado por Alan Greenspan)

4. Garçonetes bonitas – a situação econômica está ruim quando mulheres bonitas aceitam empregos de garçonetes, em lugar de empregos mais atraentes (modelo ou eventos corporativos)

5. Consumo de cerveja – o consumo de cerveja em casa aumenta em épocas de recessão em razão da economia. Isto reflete no número de empregados em bares, que caem mais que em outros setores.

6. Cabelo da japonesa – Os cabelos das mulheres japonesas são cortados mais curtos em períodos de recessão. Isto economiza o dinheiro do salão.

7. Tamanho da saia das mulheres – quanto mais curta a saia melhor para o mercado financeiro. Este índice foi descoberto em 1920, por George Taylor.

8. Índice da pipoca – em períodos de crise, as pessoas fogem para o cinema para ver filmes de aventura e ficção.

9. Desconto no automóvel – em períodos de recessão aumentam os descontos na venda de automóveis.

10. Índice de Pesquisa do Google – o aumento de pesquisa com palavras como desemprego geralmente significa que ele aumentou

11. Brinde em refeição – em períodos de margem reduzida, os restaurantes reduzem os brindes para as crianças, incluindo o número de lápis de cor para colorir.

12. Índice do feijão – período de recessão aumenta o consumo de enlatados. Os consumidores trocam alimentação fora por comer em casa.

13. Índice de Batom – em épocas difíceis, o consumo de batom mais caro aumenta. É uma compensação pela redução no consumo de bolsas e sapatos caros.

14. Gravatas – o consumo de gravatas aumenta na recessão como uma forma dos homens dizerem que estão trabalhando muito. E as gravatas são mais finas.

15. Retorno da ligação do pedreiro – quando a economia está indo bem, é muito difícil receber de volta a ligação do pedreiro. Quando existe muito desemprego, o pedreiro retorna sua ligação muito rápida.

Adaptado daqui

quinta-feira, setembro 22, 2011

Confiança




Quem já foi vítima de uma ilusão de ótica sabe que os olhos podem nos enganar. Mas nosso cérebro nos engana de outras formas, e a mais bem estudada é o fenômeno do excesso de autoconfiança. Se perguntarmos a mil estudantes se eles se consideram líderes mais capazes do que a média do grupo, 70% afirmarão ser melhores que a média. Entre professores, 94% dirão ser melhores que a média de seus colegas. Entre médicos, 80% vão se achar mais competentes e o mesmo ocorre entre investidores, políticos e motoristas de carro. Como é matematicamente impossível mais da metade de uma população ser melhor que a média, esses resultados demonstram que os seres humanos expressam um excesso de autoconfiança sempre que se comparam a seus pares. A única amostra de seres humanos na qual a autoavaliação se comporta como o esperado (aproximadamente 50% se acham piores que a média e 50% melhores que a média) é a composta por indivíduos com diagnóstico clínico de depressão.


Esse excesso de autoconfiança independe da idade, da cultura, do nível educacional ou da posse de bens materiais. Todos os estudos indicam que essa forma de autoengano é uma propriedade intrínseca e hereditária do cérebro humano. Mas se ela é uma característica do ser humano, como teria surgido e sobrevivido à seleção natural? Ninguém duvida que o excesso de autoconfiança provoca avaliações equivocadas e uma propensão exagerada a correr riscos. Portanto - raciocinavam os geneticistas - se ela é prejudicial, pessoas com excesso de autoconfiança deveriam ter menos chance de sobreviver e, ao longo de milhões de anos, a seleção natural deveria ter selecionado indivíduos com uma capacidade crescente de autoavaliação. Mas por que isso não ocorreu? Agora, um grupo de cientistas propôs uma explicação para a manutenção do excesso de autoconfiança nas populações humanas.


Imagine duas pessoas que desejam um mesmo objeto. Se ambas tentam agarrar o objeto, acabam brigando. Nesse caso, ambas pagam um preço por terem brigado (se machucam, por exemplo) e a mais forte fica com o objeto.


Se nenhuma tenta capturar o objeto, nenhuma paga o preço da briga, mas tampouco fica com o objeto. Mas, se as duas pessoas puderem estimar corretamente a capacidade de briga do concorrente, a melhor estratégia é o mais fraco abdicar da briga e o mais forte ficar com o objeto (neste caso, a vantagem do mais fraco é não ter o custo de brigar).


Imagine agora que o custo da briga diminui a capacidade reprodutiva do indivíduo, mas a posse do objeto aumenta sua capacidade reprodutiva. Usando este modelo, os cientistas simularam populações de indivíduos que competiam pelos objetos e se reproduziam dependendo do balanço entre o "custo reprodutivo" provocado pela briga e o "lucro reprodutivo" resultante da posse do objeto. Essas simulações foram repetidas milhares de vezes ao longo de centenas de gerações, variando a distribuição dos níveis de autoconfiança na população original, o custo reprodutivo da briga e a vantagem reprodutiva conferida pela posse do objeto.


Os resultados demonstram que sempre que o custo da briga é baixo em relação à vantagem conferida pelo objeto, os indivíduos com um excesso moderado de autoconfiança acabam predominando na população. Também ficou claro que os indivíduos com uma avaliação precisa de sua capacidade de briga somente têm vantagens sobre os excessivamente autoconfiantes em muito poucos cenários, geralmente quando o custo da briga é significativamente maior que a vantagem conferida pela posse do objeto. Ou seja, possuir um excesso de autoconfiança e consequentemente disputar algumas brigas nas quais a derrota advém da má avaliação do adversário parece ser a estratégia que garante uma melhor capacidade reprodutiva.


Esses resultados não somente propõem uma explicação para a origem de nosso excesso de autoconfiança, mas explicam sua manutenção nas populações atuais. Se realmente somos excessivamente autoconfiantes e inerentemente propensos a tomar riscos isto talvez ajude a explicar a instabilidade nos mercados financeiros, guerras e outros fenômenos que resultam de nossa incapacidade de avaliar com precisão nossos pares. Outra consequência dessa descoberta é que modelos econômicos que se baseiam na premissa de que as decisões humanas são racionais e derivadas da capacidade humana de avaliar objetivamente a realidade não se aplicam ao Homo sapiens que habita o planeta Terra.


Mais informações: THE EVOLUTION , OF OVERCONFIDENCE. NATURE VOL. 477 PAG. 317 2011.
A origem do excesso de autoconfiança - Fernando Reinach - Estado de S Paulo, A 26, 22 set 2011. Foto: aqui

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domingo, setembro 18, 2011

Gênero e Competição

Há boas evidências de que as mulheres são - em média – negociadoras menos agressivas do que homens  e propensas a receber ofertas piores. As mulheres também são menos confiantes e assim menos provável de conseguir um emprego administrativo no topo. (...)


Isto sugere que a aversão à concorrência entre as mulheres não é um dado biológico, mas em vez disso é um produto de sua identidade social. E um lembrete muito simples dessa identidade induz as mulheres a se afastar da competição e os homens, buscá-la.  


(...) E é também consistente com a alegação de feminista que o gênero é, pelo menos em parte, uma construção social.


As referências dos estudos estão no excelente blog Stumbling and Mumbling, de onde o texto foi retirado. (Foto, aqui)

segunda-feira, setembro 12, 2011

Neuroeconomia

John Coates, um pesquisador sênior de neurociências e finanças da Universidade de Cambridge, tem uma teoria. Ele diz que haveria menos bolhas e crashes no mercado de ações se mulheres e homens mais velhos conduzissem a maioria dos negócios. "Há menos diversidade no mundo financeiro que no militar", ironiza ele. "Em Wall Street, temos uma parcela da população - homens jovens - conduzindo os pregões. Isso leva a um comportamento extremo: eles ficam selvagens."


Isso não é bom para as ações. Tal comportamento provavelmente contribuiu para o crash da internet em 2000 e o crash de 2008-2009, alimentado pelas hipotecas subprime. Portanto, Coates, que passou 12 anos negociando derivativos de renda fixa para o Goldman Sachs e o Deutsche Bank em Nova York, está agora examinando os hormônios dos operadores, em busca de pistas sobre o grau de risco que as mulheres e os operadores mais velhos se dispõem a assumir.


Em 2007 Coates dirigiu-se a um pregão e recolheu repetidas vezes amostras de saliva de 250 operadores, a maioria homens jovens. Ele constatou que no período da manhã, quando seus níveis de testosterona estão altos, a confiança dos operadores também é alta. Na medida em que fazem negócios bem-sucedidos, seus níveis de testosterona sobem ainda mais, levando a lucros na parte da tarde.


Os homens jovens começam a se sentir infalíveis, assumindo um comportamento cada vez mais arriscado, como comprar ações a preços sobrevalorizados. Mas, em algum momento, testosterona demais e um excesso de julgamentos equivocados levam os mercados a níveis de alta insustentáveis. Então o ciclo termina. As ações sobrevalorizadas sofrerão um crash e os níveis de testosterona voltarão ao normal. "A testosterona é a molécula que explica a exuberância irracional", afirma Coates. "Uma certa quantidade de testosterona pode ser saudável, mas o excesso pode levar a uma bolha."


Para a maioria dos pesquisadores que trabalham com a neurociência, o "Santo Graal" é descobrir como regenerar os neurônios do cérebro. Tal feito ajudaria os cientistas a acabar com doenças como o mal de Parkinson e o mal de Alzheimer. Mas outros estão usando as técnicas desse campo em crescimento nas finanças comportamentais, que por si só é uma mistura de economia com psicologia. O resultado é um novo campo chamado neuroeconomia, que tenta explicar como as pessoas gerenciam riscos e por que elas sempre tomam decisões irracionais.


A importância das emoções não é nenhuma novidade. Benjamin Graham, considerado o pai do "value investing", certa vez disse: "Os indivíduos que não conseguem dominar suas emoções estão mal adaptados para lucrar com o processo de investimento". Mas as principais teorias do campo hoje conhecido como finanças comportamentais foram desenvolvidas por Richard Thaler, professor de economia e ciências comportamentais da Booth School of Business da Universidade de Chicago, e Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, cujos trabalhos sobre essas questões, com o falecido Amos Tversky, lhes renderam o Nobel em Ciências Econômicas em 2002. [Na verdade só Kahneman ganhou o Nobel]


Kahneman e Tversky constataram que as pessoas sofrem mais com a perda de dinheiro do que sentem prazer ganhando dinheiro. Portanto, elas tendem a se agarrar a ações perdedoras, ao invés de vendê-las e evitar uma perda maior.


A irracionalidade também pode assumir a forma de um afeiçoamento emocional a um determinado ativo. R. J. Weiss, o fundador de 26 anos do blog Gen Y Wealth, recentemente postou que foi pego em uma armadilha de comportamento. Quando seu avô faleceu, ele herdou ações que eram negociadas a US$ 25. As ações caíram para US$ 20, US$ 10 e depois para US$ 5, mas Weiss não conseguiu se desfazer do presente que recebeu do avô. Finalmente, em abril, ele vendeu as ações por US$ 3,04, arcando com uma perda de 90%. "O tempo todo que o mercado caía eu sabia que manter as ações era a coisa errada a ser feita, mas eu não conseguia vendê-las", escreveu Weiss.


Dan Ariely, um economista comportamental do Massachusetts Institute of Technology (MIT), diz que as pessoas precisam ser cautelosas com essa irracionalidade, e que talvez seja até mesmo preciso estabelecer mecanismos que impeçam as pessoas de agir de maneira imprudente. "Sabemos que precisamos criar um mecanismo que impeça as pessoas de enviar mensagens de texto pelo celular enquanto estão dirigindo", afirma Ariely. "Mas, no mercado, não estamos levando em conta o caráter humano, e isso está nos levando para o mau caminho."


Primeiro, porém, os neuroeconomistas precisam entender o papel da emoção nas tomadas de decisões. Brian Knutson, um neurocientista da Universidade Stanford, e Camelia Kuhnen, uma professora de finanças da Kellog School of Management da Northwestern University, rastreiam os cérebros dos investidores enquanto eles tomam decisões de compra e venda. Eles constataram que os investidores com o maior apetite pelo risco aumentam a atividade cerebral em uma área chamada núcleo acumbente. Esta é a parte que é ativada em um animal quando ele encontra comida, ou em um predador quando ele parte para uma caçada.


Ao mesmo tempo, há um aumento da dopamina, responsável pela sensação de bem-estar. Ela inunda nosso cérebro quando antecipamos algo prazeroso ou excitante como ouvir música, fazer sexo ou pular de paraquedas. Um aumento da dopamina pode levar os investidores a adotar comportamentos de risco.


Os investidores que são mais avessos ao risco - e menos inclinados a comprar uma ação em grande demanda - mostram um aumento da atividade em uma parte diferente do cérebro, a ínsula anterior, que tem um papel muito importante em emoções como ansiedade e dor. Ela é a parte que é ativada quando sentimos o cheiro de um ovo podre ou o silvo de uma cobra. "Ao desconstruir os motivos que levam os investidores a ficarem entusiasmados, e por que eles fazem o que fazem, vamos desenvolver ferramentas que poderão ajudar as pessoas e tomar decisões melhores", afirma Knutson.


Uma das ferramentas em que Knutson está trabalhando é uma maneira de ajudar a impedir os investidores de se tornarem vítimas de fraudes financeiras. Knutson, cujo trabalho é bancado pela Financial Industry Regulatory Authority (FINRA), está usando a tecnologia de imagens cerebrais para ver o que acontece quando os investidores são seduzidos por golpistas. Ele diz que pode parecer que as vítimas são simplesmente pessoas ignorantes. No entanto, pode ser que as vítimas sejam pessoas cujos cérebros ficam tão animados com os ganhos em potencial que não conseguem evitar a tomada de risco. Ou talvez essas vítimas não sintam medo. Suas constatações poderão levar a uma ferramenta para salvaguardar os investidores.


Para onde tudo isso vai? Talvez um dia investidores e operadores tenham um dispositivo biométrico conectado aos seus computadores. Ele poderá escanear o córtex pré-frontal do cérebro, determinar os níveis de testosterona e medir a quantidade de suor nas palmas das mãos em microssegundos, antes de alertar você para não fazer determinado negócio. Ou as pesquisas atuais poderão resultar em medicamentos que tornarão as pessoas mais racionais.


"Dentro de poucas décadas, medicamentos que reforçam o desempenho serão uma parte integrante de nosso mundo", afirma Hersh Shefren, professor de finanças comportamentais da Santa Clara University. "No momento isso é ficção científica, mas a ficção científica sempre acaba virando ciência." (Tradução de Mario Zamarian)


Neuroeconomia busca desvendar a cabeça do investidor - Por Nikhil Hutheesing | Da Bloomberg - Publicado no valor Econômico