quinta-feira, julho 31, 2008

Neuroeconomia

Na The Economist da semana uma extensa reportagem sobre a Neuroeconomia (Do economists need brains?)

O texto lembra que a neuroeconomia é uma tentativa de usar o Homo sapiens no lugar do homo economicus da teoria econômica. A origem está nas finanças comportamentais (que o texto denomina de behavioural economics):

Desde a década de 1980 pesquisadores neste ramo da disciplina utilizaram a psicologia para desenvolver idéias mais "realistas" dos modelos de tomada de decisões individuais, nas quais muitas vezes as pessoas fizem coisas que não representam seus melhores interesses. Mas a neuroeconomia tinha o potencial que alguns acreditavam de ir mais longe e incorporar a economia em processos químicos que ocorrem no cérebro.


Um exemplo citado é o ultimatum game, onde uma pessoa recebe uma quantia em dinheiro para dividir com um desconhecido. O segundo jogador pode aceitar ou não a oferta, mas se rejeitar ambos não recebem nada. Pela teoria econômica tradicional, qualquer valor proposta para o segundo jogador seria racionalmente interessante.

Suponha que o primeiro jogador proponha ficar com $99 e o segundo com $1. Esta proposta seria interessante para o segundo jogador, que ficaria $1 mais rico. No entanto, nas pesquisas empíricas, o segundo jogador tende a recusar essa proposta. A recusa é uma forma de punição para uma proposta que é considerada injusta.

Usando uma máquina chamada MRI, a neuroeconomia tenta verificar o que passa no cérebro dos jogadores através da visão do fluxo do sangue. Já foi encontrado que a rejeição do ultimatum game ocorre numa parte do cérebro onde as decisões de premiação e punição é realizada.

O texto lembra as críticas que a neuroeconomia (e as finanças comportamentais) estão sujeitas. Para Faruk Gul e Wolfgang Pesendorfer (The Case for Mindless Economics), o que ocorre dentro do cérebro é irrelevante para economia. O que importante são as preferências das pessoas.

Para outros, a razão da racionalidade nos modelos econômicos era a inexistência de ferramentas para entender o comportamento humano.

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quarta-feira, julho 30, 2008

Efeito do Custo Perdido

EFEITO DO CUSTO PERDIDO: A INFLUÊNCIA DO CUSTO PERDIDO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO
César Augusto Tibúrcio Silva, Francisca Aparecida de Souza, Naiára Tavares Domingos

Resumo

A decisão de continuar ou não um projeto, ou mesmo de iniciar um novo investimento que exige continuamente a alocação de recursos, não deve ser influenciada pelos custos passados, uma vez que estes não sofrerão alterações qualquer que seja a decisão futura. Quando a decisão é afetada por investimentos feitos no passado, manifesta-se o “efeito do custo perdido”. No entanto, de acordo com a Moderna Teoria de Finanças, os custos perdidos são totalmente irrelevantes para decisão de eventos futuros. Este trabalho constitui uma pesquisa empírica, realizada por meio de aplicação, de forma aleatória, de questionários a alunos de graduação de uma universidade. Buscou-se verificar se, realmente, os indivíduos não consideram os custos perdidos na tomada de decisão. Foi utilizado o teste estatístico do qui-quadrado para testar a significância da diferença entre as respostas dos alunos aos diferentes cenários trabalhados, reforçando assim, a idéia de que o efeito do custo perdido na decisão de alocação de recursos independe da evidenciação ou não dos valores investidos. De acordo com a pesquisa e tendo em vista suas limitações, a evidenciação do valor do custo perdido não influencia a decisão dos gestores. O resultado corrobora estudos anteriores nos quais o efeito do custo perdido foi observado.

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quinta-feira, julho 24, 2008

Efeito camaleão


Assim como o réptil, os humanos são capazes de mudar radicalmente. A diferença é que não estamos falando de aparências, e sim do que se passa em nossas caixas cranianas. Conheça a ciência da persuasão e aprenda estratégias para convencer qualquer um a fazer aquilo que você quer
Dan Jones e Alison Motluk – Efeito Camaleão - Galileu, julho de 2008, n. 204, p. 64-71

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quarta-feira, julho 23, 2008

Peso das emoções nas decisões

Os resultados: além de constatar que emoções têm influência poderosa sobre transações econômicas - e atenção, porque isso ocorreu mesmo sendo disparadas por situações anteriores irrelevantes para a situação -, verificaram também que tristeza e repulsa, ambas catalogadas como emoções negativas, podem ter efeitos opostos sobre as decisões.

No caso da repulsa, foi identificado um impulso a expelir, livrar-se seja lá do que fosse - ali, o que estava mais à mão eram as tais canetas. Em conseqüência, os sujeitos que tiveram esta emoção estimulada demonstraram tendência a baixar o preço, tanto na posição de compradores, como na de vendedores - eles não desejavam possuir os objetos! Pode-se supor que, na condição, o "bode" era tão grande que não se desejava ter coisa alguma, mas apenas livrar-se do sentimento desagradável de qualquer forma. O efeito posse, portanto, ficou neutralizado. Não havia apego.
O peso das emoções negativas na tomada de decisões –
Valor Econômico – Fonte: Contabilidade e Tributação

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terça-feira, julho 22, 2008

Confiança

Algumas das constatações sobre comportamento estão sendo relacionadas com o corpo humano responsável por sua ação. A confiança em estranho está vinculada a presença da oxitocina, conforme estudo publicado na Scientific American Brasil:
Nos últimos anos, pesquisadores começaram a entender como o cérebro dos humanos decide quando confiar em alguém. E eu e meus colegas demonstramos que a oxitocina, uma simples molécula ancestral produzida no cérebro, desempenha um papel fundamental nesse processo. As descobertas abrem novos caminhos para descobrir as causas e os tratamentos de doenças marcadas por disfunções na interação social. (...)
- O desenvolvimento da confiança é essencial para uma apropriada interação social. Portanto, como as pessoas passam a confiar em um novo conhecido ou num parceiro de negócios em potencial?

- Usando uma tarefa experimental chamada o jogo da confiança, pesquisadores descobriram que a oxitocina, um hormônio e um neuroquímico, aumenta a propensão a confiar num estranho quando este não exibe sinais de ameaça.

- Uma maior compreensão das funções e interações da oxitocina com outras substâncias químicas vitais do cérebro poderia levar a um maior discernimento sobre muitos distúrbios caracterizados pela dificuldade de interação social, como o autismo.
A neurobiologia da confiança – Paul J Zak, Scientific American, julho de 2008, p. 64-69

Aqui um gráfico onde o brasileiro aparece como sendo o povo que menos confia. Para os autores do estudo, a desconfiança pode ser uma barreira para o desenvolvimento econômico.

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segunda-feira, julho 21, 2008

Custo perdido

Eis um excelente exemplo da questão do Custo Perdido:

Distante apenas 160 km de Brasília, uma obra que já consumiu R$ 35,8 milhões dos cofres públicos apodrece a céu aberto. Iniciado há 10 anos, o projeto de irrigação de Três Barras, em Cristalina, atenderia 182 famílias de pequenos produtores. Mal planejado, mostrou-se superdimensionado e economicamente inviável. Jamais funcionou. Agora, o governo federal e o governo de Goiás querem investir mais R$ 20 milhões para concluir a obra. Os próprios agricultores dizem que esse dinheiro também seria jogado fora. Auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) constata: a obra é resultado de uma "aberração administrativa" e a tendência é que nunca venha a funcionar, mesmo se corrigidas todas as suas falhas técnicas, por causa dos altos custos de operação.

O presidente da Cooperativa Agrícola de Três Barras, Belchor Ferreira dos Santos, afirma estar surpreso com a idéia de "concluir" a obra. "Se tem alguém solicitando dinheiro para esta obra, está com má intenção. Não funciona como está. O consumo de energia é muito alto. Chegaríamos no fim do ano com um prejuízo de R$ 5 milhões". O presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Três Barras, Paulo Antônio Alves, já fez os seus cálculos. "Para irrigar oito hectares, cada um gastaria R$ 16 mil com energia a cada três meses. É totalmente inviável. Só se for plantar maconha, e olhe lá", ironiza.

A auditoria da CGU afirma ser "contrário ao bom senso" o pedido de aplicação de mais recursos na obra, sendo mais econômico até mesmo o início de um projeto totalmente novo: "A obra mostrou-se resultado de uma aberração, especialmente pela forma como foi concebida, trazendo como resultado apenas o prejuízo aos cofres públicos, sem nenhum benefício à população". Acrescenta que a injeção de novos recursos no mesmo empreendimento resultaria em mais prejuízos. O último repasse feito pela União foi em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso.

Navalha
Executada pela empreiteira Gautama, a obra foi entregue em 2003. A licitação para o projeto foi feita pelo então diretor administrativo da Secretaria do Entorno de Brasília e do Nordeste Goiano, Flávio Candelot, em 1997. O projeto recebeu quatro termos aditivos, um deles quando Candelot já era titular da Secretaria do Entorno. Anos mais tarde, Cardelot foi preso na operação Navalha pela atuação como lobista da Gautama.

Segundo a CGU, o convênio entre o governo federal e o de Goiás baseou-se em projeto inadequado, que não contava com outorga do uso de água nem licença ambiental. Entre os problemas estavam a vazão insuficiente dos rios e o alto custo da energia elétrica. O projeto original previa a aplicação de tubos de ferro fundido em toda a rede de distribuição, com mais de 100 km. A Gautama teria instalado tubos de aço, mais baratos e de menor qualidade, em parte do projeto. Nem por isso houve redução no preço desse item, que representou 47% do orçamento total da obra. Ao todo, foram instalados 74 km de tubulações. Auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) apontou sobrepreços que variavam de 271% e 577% para itens expressivos do orçamento.

A CGU observa que os prejuízos seriam evitados se o poder público tivesse acatado as denúncias de entidades e produtores. Em janeiro de 1999, quando o governo federal havia liberado R$ 9,3 milhões, a Associação dos Engenheiros Agrônomos de Cristalina (Aeacris) já apontava falhas graves no projeto. Depois disso, foram liberados mais R$ 30 milhões.

Obra desprezada pode ganhar verba
Lúcio Vaz
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro - 21/07/2008

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quinta-feira, julho 17, 2008

Generosidade e Fofocas

Medo dos 'comentários' pode deixar as pessoas mais generosas

A preocupaçao com fofocas envolvendo seu nome pode fazer com que uma pessoa seja mais generosa quando se trata de fazer caridade ou compartilhar. É o que diz uma pesquisa da Universidade de Belfast, na Irlanda, publicada no jornal Human Behavior. O estudo avaliou reaçoes de 72 universitarios aos quais foi pedido que distribuissem itens de valor. Cada participante tinha que dividir os objetos entre si mesmo e outras pessoas. Metade do grupo foi informada que suas decisoes sobre a distribuiçao dos itens seriam comentadas com terceiros - esse risco teria influenciado o comportamento. Essa parte do grupo foi mais generosa ao dividir os objetos do que os estudantes que nao foram informados sobre comentários. Noticia da Reuters via BlueBus

quarta-feira, julho 09, 2008

Links em Finanças Comportamentais

segunda-feira, julho 07, 2008

Efeito propriedade



O efeito propriedade é um dos conceitos mais conhecidos das Finanças Comportamentais. As pessoas valorizam os bens que são de sua propriedade. O experimento mais conhecido é a da proposta de trocar chocolate por café, onde os participantes que receberam uma barra não aceitam a troca mesmo não tendo um gosto especial por chocolate.
O efeito propriedade tem sérios efeitos sobre a avaliação de ativos e ao mercado de troca. No passado já se provou que o efeito também ocorre em macacos (vide aqui). Segundo a The Economist de 19/junho (Mankind’s inner chimpanzee refuses to let go. This matters to everything from economics to law) um estudo recente mostrou como o efeito propriedade age no cérebro

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terça-feira, julho 01, 2008

A força do pedido



O blog Marginal Revolution relata uma experiência interessante (The power of "because")

Ellen Langer e colegas decidiram mostrar o poder da persuasão da palavra “because”. Num estudo realizado numa fila de pessoas que esperavam a vez numa foto copiadora, um estranho pede para “furar” a fila. Usando uma abordagem do direta e normal, 60% das pessoas concordaram que o estranho furasse a fila. Entretanto, quando o estranho fez o pedido alegando uma razão (e a palavra “because”), 94% concordaram.
Mesmo quando o estranho usou a palavra “because”, mas a razão alegada não fazia sentido, 93% deixaram passar na frente. Faz sentido?
Isso talvez seja interessante para os autores de livros que desejam mostrar formas de ser persuasivo.