sábado, maio 30, 2009

Efeito Manada

Folha de São Paulo - 6/5/2009
PAULO RABELLO DE CASTRO
O retorno da bolha

A euforia, desta vez, é alimentada pelos bancos centrais com uma quantidade
sem precedentes de moeda

O SISTEMA de crédito norte-americano ainda vai precisar de uma grande faxina
de ativos desvalorizados antes de se ouvirem as trombetas da recuperação
global. O anúncio da concordata da Chrysler desmancha a profecia das
autoridades e dos diversos porta-vozes do setor financeiro de que o balanço
de lucros e perdas da crise já teria virado o "cabo da boa esperança".

Os grandes bancos americanos terão que contabilizar enormes perdas
adicionais decorrentes da transformação dos seus empréstimos às montadoras
GM e Chrysler em partes acionárias. Mas é possível também que, fora dos seus
balanços, os bancos problemáticos carreguem mais alguns bilhões em operações
de troca de riscos (ou "swaps") de crédito, tendo que arcar com o pagamento
integral de dívidas asseguradas, independentemente de as montadoras poderem
ou não saldar os valores originalmente devidos.

Se isso se confirmar, mais socorro do governo americano aos bancos por meio
do Tarp ("Troubled Asset Relief Program") vai se tornar indispensável. Desde
o início da crise, cerca de US$ 2,7 trilhões (cerca de 20% do PIB) já foram
despendidos pelo governo em operações de socorro ou estímulo.

Na absoluta contramão, os mercados de renda variável continuaram a emitir
sinais de euforia cada vez mais acentuados nas últimas semanas e dias. A
alta generalizada das Bolsas e das cotações em março, abril e nestes
primeiros dias de maio (no Brasil, isso ocorre desde o fim de 2008) é
interpretada por muitos como um sintoma inequívoco da virada, não só de
humor dos investidores como da próxima retomada de compras pelos
consumidores, mesmo nos países hoje mais afetados pela retração
generalizada. Está mais para retorno da bolha.

A leitura alternativa é que essa recuperação recente das cotações de Bolsa
de Valores e de commodities, especialmente petróleo e soja, foge aos padrões
esperados de oferta e demanda, para se localizar, de novo, como no ano
passado, na mesma febre especulativa que enfeitiçou os especuladores com
delírios de ganhos extraordinários. E por que essa nova bolha acontece? A
explicação ainda é a mesma que a de 2007 e a de 2008, só que a euforia,
desta vez, é alimentada pelas autoridades monetárias dos principais países
com uma quantidade sem precedentes de moeda, emitida para financiar as
operações de socorro. Sem risco imediato de inflação, o Fed dos EUA, os
bancos centrais da China e Japão, os bancos da Inglaterra e da Europa
passaram a utilizar o expediente das emissões sem lastro como recurso de
última instância para financiar as intervenções de ajuda dos seus governos
ao setor financeiro, às empresas em apuros e às agências hipotecárias insolventes.

A enorme liquidez adicional, neste primeiro momento, contorna o mercado de
empréstimos a empresas, de cujos riscos de crédito os bancos estão fugindo,
para se alojar no circuito mais líquido da compra e venda de ativos.
Constitui atrativo permanente a especulação compradora em mercados de
valores e commodities que permitem a entrada e a saída a qualquer momento,
embora extremante voláteis. São esses movimentos de acomodação da enorme
massa monetária adicional que, afinal, conduzem a estímulos altistas nas
Bolsas, como temos visto.

Mesmo um não especialista desconfiaria de que o apelo desesperado à injeção
de liquidez encontrará, mais à frente, empresas e indivíduos ainda mais
debilitados para prosseguir na rolagem de seus débitos. Mas, até lá, é uma
festa dos comprados.


Enviado por Camila MAchado. Grato.

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quinta-feira, maio 28, 2009

Links

quarta-feira, maio 27, 2009

Vale presente

Todos já recebemos de presente um “vale presente” para ser trocado por mercadoria numa loja. O vale presente é uma maneira delicada de dar um presente para alguém quando não sabemos o que esta pessoa deseja.

Entretanto, como existe um índice razoavelmente elevado de “esquecimento” que termina por não gerar uma troca por mercadoria, o vale presente representa um grande negócio para o comércio: o vale não trocado representa uma receita para empresa sem a necessidade da contrapartida sob a forma de mercadoria.

Além disto, para a empresa o vale representa receber dinheiro hoje e entregar a mercadoria amanhã. Isto inverte o chamado ciclo financeiro (veja detalhes no livro Administração do Capital de Giro), reduzindo a necessidade de capital de giro.

O vale também pode ser objeto de pesquisa. Por que as pessoas “esquecem” de trocar? Talvez por não existir uma associação imediata com a pessoa que presenteou.

Em Gift Card Fail uma outra questão interessante é proposta: se aumenta o prazo de validade do vale isto reduz a taxa de esquecimento?

Na realidade o raciocínio correto é o inverso: devemos reduzir o prazo do vale presente. Uma experiência foi relatada no link: inicialmente dois pesquisadores perguntaram a dois grupos de estudantes se iriam usar um vale por três semanas e outro foi perguntado se usariam um valor por dois meses. O índice de resposta com menor prazo foi inferior, obviamente.

Mas a pesquisa continuou entregando vales para dois grupos, com prazos diferentes. Aqueles que receberam o vale com menor prazo tiveram um índice de “troca” maior. O menor prazo induziu os participantes a evitar a procrastinação e a trocar logo o vale.
O experimento poderia ser feito em situações mais reais, através dos vales das empresas que o emitem. Estas, provavelmente, não possuem interesse nisto, pois o mesmo representa uma grande fonte de renda.
Enquanto redigia este texto fiquei pensando no que aconteceria no Brasil se a questão do vale fosse mais discutida. Provavelmente os órgãos de defesa do consumidor iriam protestar e o ministério público iria exigir que as empresas aumentassem o prazo do vale. Para alegria das próprias empresas e prejuízo do consumidor.

segunda-feira, maio 25, 2009

Dez Experimentos da Psicologia

A internet apresenta um grande número de listas. Algumas são fúteis, mas outras chamam a atenção. Um texto denominado The Ten Most Revealing Psych Experiments mostra dez experimentos na área de psicologia. Para quem nunca escutou sobre isto, vale a pena dar uma olhada.

Entre os experimentos, eu destaco o da prisão de Stanford, onde Zimbardo simulou uma cadeia, com guardas e presos. O resultado ajuda a explicar o que ocorreu com os presos iraquianos sob custódia do exército dos Estados Unidos (acredito que foi Gladwell que disse sobre isto em Blink).

Outro famoso, mas que talvez não possa ser considerado um experimento da psicologia, é a adaptação e transmissão de Orson Wells para o livro A Guerra dos Mundos, em 1938, que causou pânico nas pessoas que assistiam o rádio.

domingo, maio 24, 2009

Julgamento humano no poder

Mas a principal razão para se prestar atenção no que Sunstein diz é o posto que ele está prestes a assumir no governo de Barack Obama. Quando for confirmado como diretor do Escritíorio de Informação e Assuntos de Regulamentação, na jurisdição do Escritório de Gestão e Orçamento, Sunstein terá a seu cargo a avaliação das regulamentações que o governo deva fazer. Isso transforma seu novo livro, "Going to Extremes: How Like Minds Unite and Divide", que talvez não passasse de simples tese acadêmica de leitura estimulante (embora às vezes grandiloquente) em uma boa olhada na mente e na filosofia do novo czar da regulamentação nacional.

O que salta do livro é a desconfiança de Sunstein no julgamento humano acerca de tudo, da política aos negócios, especialmente quando as pessoas se reúnem em torno de interesses comuns. Pouco se verá de sabedoria em em multidões - nem muitos indivíduos bem informados. Em vários casos, "as pessoas sofrem de 'aleijão epistemológico', no sentido de que conhecem muito poucas coisas, e o que conhecem é errado", lamenta Sunstein.
(...)


O czar da regulamentação diz o que pensa - 14 /05/2009 - Valor Econômico

quinta-feira, maio 14, 2009

A importância do Gênero

É muito comum em pesquisas acadêmicas com questionários caracterizar o respondente em termos da sua profissão, do gênero, idade e classe social. Acredita-se que estas caracterizações sejam importantes e que podem afetar as respostas das pessoas.

Em geral o gênero (masculino ou feminino) afeta. E tudo leva a crer que as mulheres são mais sábias que os homens, pelo menos no que diz respeito às decisões financeiras.

Pesquisas realizadas no mercado já comprovaram que as decisões financeiras quando realizadas pelas mulheres apresentam um retorno ajustado ao risco melhor. Uma das razões deste desempenho é o fato de que os homens fazem mais transações, o que tem um custo, e gostam de investimentos mais voláteis, que podem apresentar um retorno reduzido.

Outras pesquisas mostraram que uma das razões físicas para isto é a presença de testosterona no homem investidor.

É interessante notar que o comportamento em investimento da mulher é reflexo da sua forma de agir em outras situações corriqueiras: no trânsito – as seguradoras preferem as mulheres, pois o risco é menor, no cigarro – as mulheres fumam menos, na saúde – elas são mais cuidadosas. Os homens são em geral mais confiantes.

Isto significa que os homens devem deixar que suas finanças pessoais sejam conduzidas pelas mulheres? E se as mulheres são melhores nas decisões, por que a sociedade não delegou este papel naturalmente para elas?

Bom, a questão na realidade não é tão simples. Parece que as mulheres, quando numa posição de chefia, também são tomadoras de risco. Ou seja, a aversão ao risco talvez seja resultado de uma situação mais limitada. Outra possível explicação é que o próprio preconceito impede que a sabedoria das mulheres seja reconhecida.

Para ler mais
For Mother´s Day, Give Her Reins to The Portfolio. Wall Street Journal

Women in Business Are Risk Takers. Business Pundit

Warren Buffett investe como menina. Finanças comportamentais.

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segunda-feira, maio 11, 2009

Comportamento e o Aquecimento Global

Um estudo da New York University (via aqui)mostrou que a opinião das pessoas sobre o aquecimento global é influenciada pelo tempo local, ou seja, se está fazendo ou não calor. Se na semana o clima foi mais quente, as pessoas tendem a acreditar, de forma mais significativa, no aquecimento global. Em termos numéricos, para cada três graus de aumento na temperatura local, aumenta em 1% a crença forte de que a terra está mais quente. Esta influencia ocorre de forma mais pronunciada entre as pessoas com baixa educação.

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Quem conta um conto

O mercado cai três vezes mais rápido que ele sobe. Um estudo acadêmico em finanças comportamentais, concluiu que as perdas têm três vezes o efeito emocional de um ganho.

Where brokers dare, we should tread carefully
Marcus Padley - The Age 2/5/2009


Tradicionalmente o valor é duas vezes.

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quinta-feira, maio 07, 2009

Custo perdido

A correta decisão de um gestor passa por conhecer alguns dos conceitos técnicos. Em minha opinião, o mais difícil de aprender e aplicar é o de custo perdido. Geralmente a noção de custo perdido é aprendida nos livros de contabilidade gerencial ou de custos, muito embora algumas obras de finanças também comentem o assunto.

Entretanto, apesar da existência do conceito e da explicação, os gestores insistem em não levar em consideração este conceito no processo de tomada de decisão. Isto é algo tão relevante que se criou a denominação de falácia do custo perdido para explicar este problema.

O problema da falácia do custo perdido apareceu num texto do jornal Gazeta Mercantil sobre os parques de diversões (Segunda chance para parques de diversão, 22/4/2009, Finanças & Mercados - Pág. 1, Maria Luíza Filgueiras). O texto procura mostrar que os parques de diversões (Wet´n Wild, Hopi Hari, Playcenter e outros) apresentam rentabilidade reduzida no longo prazo e as empresas estão com problemas de endividamento elevado. Em outras palavras, o custo do capital é superior ao retorno operacional, inviabilizando o negócio.

O Hopi Hari possui público anual de 1,5 milhão de pessoas e gera caixa de 15 a 18% da receita. Uma das alternativas para a Funcef é vender sua participação no Hopi Hari. Mas a decisão foi contrária. Veja o trecho do artigo:

Venda com deságio ou perdão de dívida são as alternativas encontradas pelos investidores para minimizar danos. A Funcef, após provisionar uma perda de R$ 20 milhões em 2003 com o Wet'n Wild, chegou a avaliar a venda de sua participação. "Mas achamos que seria mal negócio, por estar vendendo um crédito, e não a participação de uma empresa, de debêntures cuja remuneração é zero. Não tem mercado secundário para isso", explica Rosa, lembrando que os investidores iniciais saíram do negócio com venda dos papéis entre 3% e 5% do valor de face.

"Preferimos fazer uma nova tentativa e recuperar parte do valor. A idéia da Funcef é vender a totalidade ou parte das ações", afirma. O fundo de pensão precisa enquadrar o investimento à resolução 3.456, que limita participação acionária desses investidores em 20% - com a reestruturação, a Funcef passou a deter 56% das ações.

Esta é uma clara situação de falácia do custo perdido. O investimento já realizado pela Funcef é passado. A análise deve ser feita levando em consideração o fluxo de caixa futuro, comparado com o custo de oportunidade dos recursos do fundo de pensão. Manter o investimento é como “persistir no erro”.

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Heurística

Heurística II - fazendo a pergunta correta

(...) A polêmica a que me referi no início dessa série refere-se a um questionamento levantado por Gerd Gigerenzer e Ralph Hertwig em The conjunction fallacy revisited: how intelligent inferences look like reasoning errors. Os autores perguntam até que ponto esse seria realmente um erro de julgamento ou se talvez o experimento teria sido mal-formulado. (Note que tal crítica é dirigida a Kahneman, Prêmio Nobel de Economia em 2002.)

Para eles, ao usar lógica matemática como base para determinar se julgamentos são racionais ou irracionais ignora-se o contexto do problema - o que pode ocasionar falhas de interpretação. O cerne da questão reside, segundo Gigerenzer e Hertwig, na interpretação do termo "provável". Sem uma clara definição da pergunta, o entrevistado pode buscar o que é mais "sensato", "crível", "freqüente", "plausível" ou "evidente".

(...) A lição que tiro disso tudo é que deve-se tomar cuidado com a forma como obtemos as respostas. Muitas vezes não temos as perguntas adequadas - como no caso de Linda - ou a forma como as fazemos interferem na resposta - como no caso dos pais.

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quarta-feira, maio 06, 2009

Efeito manada

BC tenta conter efeito manada no câmbio
Folha de São Paulo - 6/5/2009
SHEILA D'AMORIM

(...) Segundo a Folha apurou, a forte atuação do BC no mercado de câmbio ontem teve dois objetivos. O primeiro foi tentar conter um efeito manada no mercado, que se traduz em aumento das apostas a favor do real e que poderia fazer a cotação cair abaixo do R$ 2,10, alimentando ainda mais o movimento de baixa do dólar.

O outro foi aproveitar a oferta de dólares e, com a compra de cerca de US$ 3,4 bilhões, neutralizar contratos de venda no valor de US$ 3,3 bilhões que o BC assumiu no auge da crise internacional e que vencerão no início de junho.

Segundo o comunicado de ontem, o BC "decidiu fazer leilão de swap reverso [contratos especiais de câmbio, veja quadro nesta página] agindo em função de alterações nas condições de fluxo prevalecentes no mercado nas última semanas". (...)


Tenho dúvidas se esta situação representa efetivamente um efeito manada. Acho que se trata de especulação.

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terça-feira, maio 05, 2009

Comportamento na crise

O blog Stumblingandmumbling traz uma interessante questão sobre o comportamento das pessoas durante a crise.

Baseado numa pesquisa de Anne Sibert e Hamid Sabourian a idéia é imaginar alguém que investiu pesadamente, durante anos, em ativos tóxicos.

Existe agora um sinal de que o mercado está mudando. O que o investidor faria? Racionalmente seria vender os investimentos. Mas ao fazer isto, o seu chefe irá pensar: “este sujeito não sabe o que está fazendo. Num momento, aplica nossos recursos nestes ativos [que sabemos que são tóxicos] e agora quer vender.”

Neste caso, existirá um desejo de parecer competente, mantendo a posição anterior, mesmo sabendo do risco de perda. Apesar de o texto lembrar os conceitos de viés da confirmação ou superconfiança, eu acredito que o problema aqui seja o da insistência irracional. Este assunto foi estudado por uma orientanda minha, Naira, que permitiu comprovar a existência deste problema com os investidores. A insistência irracional é parte (e se confunde) do conceito de custo perdido.

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domingo, maio 03, 2009

Testosterona e comportamento econômico

(...) Estudos recentes encontraram correlações entre níveis de testosterona e comportamento de risco nos homens, incluindo um que encontrou que traders homens com mais testosterona na sua saliva faz decisões mais arriscadas.

Mas uma equipe liderada por Magnus Johannesson, um economista da Stockholm School of Economics, não encontrou o mesmo efeito num grupo de 200 mulheres na fase pós-menopausa. Nesta mulheres foram administradas testosterona, oestrogeneo ou um placebo por quatro semanas e foram pesquisados uma série de jogos econômicos que mede a propensão do jogador ao risco.


Fonte: Nature via Marginal Revolution

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