quinta-feira, dezembro 26, 2013

Psicologia das Doações

Todo ano, milhões são doados para organizações sem fins lucrativos. O ato de fazer uma simples doação tem atraído alguns pesquisadores, que estão tentando descobrir os motivos que levam as pessoas a fazerem doação para um lar dos velhinhos ou uma igreja. Entender o processo de doação interessa as ONGs.

Uma pesquisa antiga mostrou que estas entidades conseguem maiores doações quando usam um discurso mais pessoal: o volume de doação é maior quando se conta o drama de uma pessoa com nome e características específicas do que quando se usa números frios da situação de milhares de pessoas.

Outro estudo mostrou que o efeito beleza também funciona na busca de dinheiro por estas entidades. Usando diferentes pessoas que buscavam doações, o resultado revelou que uma mulher considerada mais atraente, numa escala de 1 a 10, tende a obter mais doações que outra menos atraente. Não surpreendente, o efeito tende a ser maior quando um homem é solicitado a contribuir.

Mas a pesquisa foi repetida anos depois e o efeito beleza trouxe menos recursos. Parece que obter recursos para estas entidades não é tão fácil como parece. Afinal, o efeito beleza tem efeito temporário.

Outra pesquisa separou as razões para a doação. Um incentivo externo é doar pelo reconhecimento. Neste caso, as entidades sem fins lucrativos podem oferecer cartões ou fazer citações especiais nas suas páginas. Isto funciona para um grupo específico de pessoas. Outro grupo de doadores está mais preocupado com as questões internas. Por exemplo, doa-se por uma crença religiosa. Para estas pessoas, as placas ou citações não funcionam.  


Estas pesquisas mostraram que o ato de doar é muito complexo para se enquadrar num único padrão. Conhecer melhor as razões da doação poderá ajudar as organizações sem fins lucrativos a abordar melhor seu potencial doador. 

Marcadores: ,

segunda-feira, dezembro 23, 2013

A Irracionalidade do Vale

Nesta época de natal é muito comum as pessoas comprarem vales para presentearem amigos. O vale funciona da seguinte forma: o consumidor compra um pedaço de papel. Em lugar de dar um presente para seu amigo, o consumidor entrega este pedaço de papel, que dá o direito de trocar por mercadorias na empresa vendedora. É um pouco racional, já que em lugar de dar dinheiro para um amigo, presenteia com o vale.

O vale tem um prazo de validade, que varia conforme a vendedora.

O problema contábil é que muitos consumidores, por diversos motivos, não trocam seus vales. Uma pesquisa do jornal inglês The Telegraph (Families to ´waste´ £84m on Christmas gift cards, Dan Hyde, 18 dez 2013) informa que 84 milhões de libras esterlinas de vales não são trocados por mercadorias. Isto significa que 6% dos vales expiram antes que o consumidor tenha a chance de fazer sua troca. Ou seja, no Reino Unido a venda de vales deve chegar a 1,4 bilhão de libras.

O vale é o típico presente “irracional”. Em lugar de dar para seu amigo dinheiro, que possui elevada liquidez, optamos por um pedaço de papel, com menor liquidez e que restringe as alternativas de compra. (Além de não ser um valor garantido: recentemente dei um vale de presente e a pessoa não recebeu; a Fnac, a vendedora, até hoje não reembolsou o dinheiro ou providenciou o vale). Talvez a razão desta irracionalidade é que o vale não é visto como “dinheiro” e presentear alguém com dinheiro é considerado deselegante, para não dizer outra coisa.

O mesmo The Telegraph conta um caso do vale da Starbucks (fotografia). Esta empresa vende um vale de 400 dólares. Mas o valor da compra é de 450 dólares. Isto realmente é irracional, já que você teria uma perda imediata de 50 dólares. É como se você tivesse jogando 50 dólares pela janela.

Mas existem compradores para este vale, por algumas razões. Em primeiro lugar, somente mil vales deste tipo são feitos. Os apaixonados pela Starbucks disputam este vale e a honra de ser proprietário de um destes vales. A segunda razão é que este vale não é um pedaço de papel, mas um “cartão” da cor de café, com produção elaborada. Segundo o The Telegraph, custa mais de 50 dólares para ser fabricado. Assim, quem compra está pagando pela “qualidade” do vale. Finalmente, o vale pode ser um objeto de revenda, por um preço maior, no futuro, em razão da sua escassez. Um vendedor no eBay estava pedido 4300 dólares por vales de 2012 e 2013.

Marcadores: ,

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Celular e Etiqueta

Durante os dois últimos semestres letivos eu fui testado pelos meus alunos sobre o uso de celular durante a sala de aula. Apesar de escrever claramente no programa das disciplinas que o uso de aparelhos eletrônicos em sala de aula não seria recomendado, por diversas vezes flagrei alunos “passando” o dedo sobre seus celulares. Isto para não falar das ocasiões em que os telefones tocaram durante a aula.

Talvez seja um problema meu a dificuldade de continuar expondo um assunto quando estou vendo que um aluno está verificando as mensagens. E também reconheço que verificar mensagens é um vício, que algumas pessoas possuem.

Uma pesquisa (via aqui) mostrou que a intolerância ao fato de que uma pessoa esteja usando o celular pode estar associada ao gênero e a idade.  Pesquisadores perguntaram a diferentes pessoas se era apropriado verificar e-mail, responder a uma chamada de celular ou escrever e mandar mensagens durante uma reunião de negócios informal. Os homens parecem ser mais tolerantes que as mulheres. Enquanto 59% dos homens afirmaram ser apropriado verificar a existência de mensagens durante uma reunião, somente 34% das mulheres eram tolerantes a esta atitude. Metade dos homens considera aceitável responder uma chamada, mas somente 26% das mulheres. E escrever mensagens foi considerado razoável para 43% dos homens e 23% das mulheres.



A geração mais nova parece ser mais condescendente com o uso de celular durante uma reunião. Oitenta por cento das pessoas com até 30 anos de idade acham apropriado verificar os e-mails em reunião, enquanto somente 33% daqueles com idade acima de 50 anos acharam isto aceitável.



Talvez isto explique um pouco os problemas que tive durante o semestre. E você? Acha aceitável usar o celular numa reunião ou em sala de aula?

Marcadores: ,

domingo, dezembro 08, 2013

Astrologia e Finanças

O The Telegraph tem um longo texto sobre usar astrologia no mercado financeiro (Financial astrology: can the stars affect stocks?). É uma boa discussão que poderia servir como uma debate numa aula de administração financeira. O The Telegraph conta um pouco da história de Arch Crawford, ex-corretor que descobriu na astrologia um mecanismo de fazer projeções sobre o mercado. Hoje Crawford possui uma lista de assinantes que recebem seus conselhos por uma módica quantia.

Mas será que a astrologia tem fundamento? O jornal inglês cita a tradição de civilizações antigas e um trabalho de Nias e Eysenck para tentar descobrir a verdade e o denominado Efeito Marte: muitas pessoas famosas nasceram quando Marte esta num determinado ponto do céu e este percentual seria muito acima do acaso. Também é citado um artigo de Shawn Carlson que usou 28 astrólogos para tentar fazer projeções e o resultado foi tão bom quanto jogar uma moeda num cara ou coroa. Ou seja, astrologia é superstição.

No texto, uma frase de French, conhecido pesquisador na área de finanças:

Não é que os astrólogos vão dar -lhe algum conselho pior do que os peritos credenciados. Eles estão dando-lhe conselhos igualmente sem valor. 

Marcadores: ,

quarta-feira, dezembro 04, 2013

Criatividade

Um estudo publicado no Creativity Research Journal (via aqui) examinou 221 pintores famosos e suas obras entre 1800 e 2004 para calcular o ano em que foram criadas a obra-prima de cada um. O critério foi o maior valor de venda alcançado por uma tela. O ano da produção da tela que alcançou maior valor de venda foi considerado o ápice da criatividade.

O resultado encontrado foi uma média de 42 anos. Além disto, notou-se que a obra foi criada quando o artista tinha atingido a 62% da sua vida, que representa a fração dada pela proporção áurea. Mas a pintura ao lado, de Seurat foi feita quando ele tinha 26 anos.

Marcadores: ,

terça-feira, dezembro 03, 2013

Relação

Dois gráficos mostram uma possível relação. No primeiro, a percentagem de estudantes que dizem que são felizes na escola. No segundo, a taxa de suicídio. O Brasil aparece na metade da primeira figura, mas possui pouco número de suicídios. Mas o interessante é a Coréia: o sucesso do seu modelo econômico parece está associado a infelicidade na escola (o pior valor) e elevadas taxas de suicídio. 

Marcadores: ,

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Efeito do excesso de otimismo

A questão do excesso de otimismo tem sido estudada pela ciência. Já se comprovou que em geral as pessoas são confiantes. Isto é conhecido como efeito Lake Woebegone. Um exemplo prático disto ocorreu com as empresas do grupo X. Veja a seguinte notícia (dica de Adriana Steppan, grato):

O conselho de administração da MMX, mineradora do grupo de Eike Batista, aprovou a revisão do plano de negócios da companhia e uma perda contábil relativa às operações da unidade de Serra Azul e aos direitos minerários de Bom Sucesso. O registro será feito no balanço do terceiro trimestre.

Segundo fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa fez revisão dos ativos do empreendimento de Serra Azul, localizada no quadrilátero ferrífero mineiro. A reavaliação foi autorizada pelos conselheiros em reunião ocorrida ontem.

A baixa contábil total será de R$ 913 milhões, valor que inclui redução de R$ 314 milhões em relação aos direitos de exploração no projeto de Bom Sucesso, no Centro-Oeste de Minas Gerais. O chamado “impairment” foi realizado exatamente por conta da revisão no planejamento. O montante relativo à Serra Azul, portanto, é de R$ 599 milhões.

Marcadores: , ,